"Meu nome é Benjamin, Benjamin Button, e eu nasci em circunstâncias incomuns...".
Depois de muita porrada em "Clube da Luta" (1999), de uma aventura espacial com um alien babão em "Alien 3"(1992) e de assassinatos seriais em "Se7en" (1995) e "Zodíaco" (2007), David Fincher retornou recentemente com uma obra fabulosa e dramática, "O Curioso Caso de Benjamin Button" (2008), claramente diferente dos seus filmes anteriores.
Diferente pois aqui não vemos violência e suspense. Não. Vemos, nesta duradoura obra que ostenta quase três horas de duração, um "conto de fadas" que mistura drama, reflexão, mensagens, amor e uma leve pitada de comédia. Também vemos efeitos especiais maravilhosos, como o rosto de Brad Pitt velho, adulto e novo. Há, sim, clichês e defeitos, como o fato da história ser narrada em um diário e de se passar em tempo real, do furacão Katrina. Mas o saldo final é positivo, e os clichês devem ser deixados de lado.
Brad Pitt retorna à atuação sob a direção de David Fincher pela terceira vez. Aqui, ele interpreta Benjamin Button, um homem que curiosamente nasceu "velho", com cataratas, cegueira, rugas, pouca flexibilidade de pele, e doenças comuns em idosos. Tão horrível era sua aparência quando bebê que seu pai não quis ficar com ele, e o largou aos pés de uma escada de um asilo, junto com míseros 18 dólares. Para os médicos, o pobre bebê estava destinado a morrer com poucos dias de vida. Mas ocorreu o contrário: Benjamin aos poucos foi rejuvenescendo, envelhecendo ao contrário. Todos ganham novas rugas com o passar dos dias, menos ele.
E o filme também vai andando, criando várias "subtramas" ao longo da projeção, dividindo assim o filme em quatro partes. Uma dessas subtramas é a personagem Daisy, que Benjamin conhece no asilo em sua "infância-terceira idade". Ambos se identificam de cara. Mas aí Benjamin cresce, e tem de partir. À pedidos da amiga, ele manda, ao menos, um postal de cada lugar que vai, mantendo uma amizade a distância.
Hilárias são as situações desta primeira parte da trama. A inocência típica de crianças e velhos em Benjamin é cômica. A sátira na cena da igreja idem. Mas há um destaque para o "velho senhor dos raios", que aparece desde o início, fazendo-nos rir muitas vezes, com sua conversa de "já te contei que fui atingido por um raio sete vezes?", e em seguida aparecendo um flash-back em preto e branco de seus tempos joviais, sendo atingido por um raio em diferentes situações. Impossível não rir.
Porém, o tempo passa. As nossas gargalhadas que antes ecoavam na sala de projeção agora são substituídas por risadas tímidas e sorrisos, pois entra em cena o drama e o amor.
Benjamin trabalha em um navio, ao mesmo tempo em que se envolve secretamente com Elizabeth Abbott (Tilda Swindon) em um hotel, nos proporcionando várias cenas romanticas e pervertidas. Mas subitamente este caso amoroso termina quando Elizabeth se manda do hotel. Não demora muito para esta segunda parte do filme encerrar-se, pois chega a Segunda Guerra, e Benjamin deixa de trabalhar no navio, que fora atacado.
A comédia, até então, já estava mais ausente. Agora, entrando a terceira parte, a comédia some e dá lugar para o drama e o amor. Chamemos esta parte de... "Daisy".
Enfim, Cate Blanchett! Demorou, mas chegou. Sim, sua personagem estava desde o início: a ruivinha bonitinha do asilo, amiga de Benjamin em sua infância. Porém, Blanchett só aparece após uma hora e tantos minutos de projeção. Ela é agora uma talentosa bailarina. Temos Pitt e Cate contracenando, com muita química e simpatia. Atuações adoráveis.
No primeiro encontro da dupla, Daisy tentou, sem sucesso, seduzir Benjamin. A diferença de aparências ainda era grande: ela com vinte anos e ele aparentando sessenta. Com a recusa de Benjamin, Daisy frustra-se. Consequentemente, nós também, pois, quando finalmente parecia que veríamos as cenas amorosas, aquilo acontece.
Com algumas reviravoltas, Cate arrepende-se de ter respondido tão bruscamente Benjamin e agora vai à sua procura. E, de uma vez por todas, o amor entra em ação. É inegável a química entre o casal. Tudo está nas mil maravilhas. Diante de namoros, Cate engravida, e constituem família. Uma vida normal.
...Normal?
Mesmo tendo nascido velho e rejuvenscendo com o passar dos anos, Benjamin não pode escapar do tempo, e a situação começa a piorar. Como seria ter um marido que, há alguns anos, tornaria-se um adolescente, e posteriormente uma criança? Como seria para a mulher ter de cuidá-lo e cuidar do bebê ao mesmo tempo? A situação se inverteu. Antes, Cate era uma garotinha e Benjamin um velho. E agora, Benjamin está perto da juventude, e Cate aderindo inconvenientes cabelos grisalhos e rugas. A relação teve de ser cortada.
Percebemos então, na quarta e última parte, perto do fim, que há um outro personagem, vital para "O Curioso Caso...", e que estava presente desde o início: O tempo. Ninguém escapa ao tempo. Nada dura para sempre. Não há como voltar atrás. Temos de aceitá-lo. E Benjamin Button também.
"Você pode ser tão louco como um cão raivoso com o rumo que as coisas tomaram. Você pode jurar, maldição ao destino, mas quando ele chega ao fim, você tem que aceitar."
Com muitos efeitos especiais e um tema interessante, recheado de qualidades, "O Curioso Caso..." encerra-se repleto das mensagens e reflexões, capazes de fazerem lágrimas escorrerem no rosto de quem assiste. O relógio que corre ao contrário foi ideal para o desfecho, uma referência à vida de Benjamin. Os clichês são ignorados diante da riqueza desta obra. David Fincher soube dirigir seu filme com delicadeza e precisão, firmando-se como um dos grandes diretores da atualidade. Acertou no suspense, na ação, e recentemente... no drama.
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