"Lincoln e a direção medieval de Steven Spielberg"
Dentro do ramo cinematográfico Steven Spielberg é um dos nomes mais conhecidos a um bom tempo, é o responsável por várias dessas grandes produções que encheram salas de cinema, levaram prêmios para casa e conquistaram pessoas pelo mundo todo, emocionando (na maioria das vezes da forma mais fácil e idiota possível) ou simplesmente prendendo o espectador na cadeira. De quebra, ganhou reconhecimento da crítica em diversos projetos, e sim, é rotulado como um bom diretor. Rotulado.
Com seu novo filme, indicados em 12 categorias no Oscar (um verdadeiro exagero da Academia, que consegue ser mais medieval que o próprio Spielberg), nota-se claramente sua fragilidade ao conduzir tudo aquilo, levando seu trabalho no "piloto automático" e entregando cenas parecidíssimas (um exemplo típico que se repete inúmeras vezes, são homens discutindo política em alto tom de voz, quando são interrompidos por alguém "importante" que fala algo específico para que quem assiste entenda aquela confusão, com uma música de fundo horrorosa). Em "Cavalo de guerra", seu longa metragem anterior, havia uma leve homenagem à Era de Ouro de Hollywood, havia um tom interessante, que em "Lincoln" é inexistente. Querendo ou não, a direção é assinada por um homem de extremos, ou apela emocionalmente pedindo as lágrimas do público, ou afoga-o no tédio.
Historicamente importante, retrata a abolição da escravatura nos Estados Unidos, e o confronto de ideias entre pessoas para que isso viesse a se tornar realidade. E claro, como não poderia deixar de ser, em termos de fotografia, direção de arte e figurinos, temos um espetáculo em mãos. As atuações de Daniel Day-Lewis (um dos melhores atores da atualidade) e Sally Field beiram a perfeição, e nos fazem pensar em como seria agradável substituir todo aquele drama político frio por uma viagem pessoal na vida daqueles dois personagens que por meio de alguns diálogos, pareciam ter tanto contar. Talvez as cenas entre o casal Lincoln e a apresentação do lado humano do presidente sejam os pontos fortes aqui, o que segurou a produção e não deixou tudo virar política.
Pode-se concluir que é coerente, chato em alguns momentos, mas não decepciona em termos de coesão e informações, entrega com tanta eficiência o que promete que é quase documental, aí se encontra a frieza dos diálogos e o abismo para com seu público. A magia do cinema é sentida quando nos envolvemos completamente no filme, quando pulamos de cabeça e acreditamos na veracidade de tudo, mas em "Lincoln" nos sentimos desconfortáveis, é como se a respiração de Spielberg fosse percebida atrás das câmeras, como se sua voz fosse surgir a qualquer momento dizendo "corta", "gravando", "próxima tomada". Um diretor com tanta fama e dois Oscars em casa deveria entender disso.
Quase parei no "rotulado" do primeiro paragrafo!