Tenho apenas 19 anos e provavelmente não assisti a um décimo dos filmes que a maioria dos editores e usuários desse site assistiram, mas sendo grande fã de cinema irei comentar sobre esse "filme".
Sempre odiei filmes feitos para adolescentes, como Crepúsculo por exemplo, mas não julgo e sinceramente entendo porque milhares de garotas de 13/14 anos por todos os cantos do planeta idolatram esse estilo. Simples, elas vêem nos personagens na tela tudo o que admiram, tudo o que queriam ser.
Os filmes têm esse poder, nos fazem acreditar que somos parte da história, que somos nós, ali, em cena. E Clube da Luta é o que mais me despertou esse sentimento.
Um homem desajeitado, que sofre de insônia, em um emprego que não gosta, com uma vida com muito menos sentido do que deveria ter.
Esse é o resumo da história do narrador (Edward Norton), da minha vida e de outros tantos, em qualquer lugar, em qualquer cidade, qualquer esquina. Talvez por isso eu tenha Clube da Luta como "o filme da minha vida".
Aquele personagem com os olhos inchados deitado no sofá em frente à tv, logo nas primeiras cenas, poderia ser eu, você ou qualquer um.
Por mais que seja difícil de admitir, é raro encontrar alguém que não viva de acordo com os padrões da sociedade, o que quase sempre nos faz ter uma vida aquém do ideal.
Tyler Durden não é só o que o narrador queria ser, é o que eu queria ser, talvez você. Despreocupado, descolado, alheio ao consumismo e aos padrões éticos arremessados contra a gente todos os dias.
Fugir da vida que escolheram para nós para viver a nossa escolha, a nossa vida. Parece um sonho, mas em pouco mais de 2 horas em que estive na frente da tela eu o alcancei, ali eu era livre, era quem eu sempre quis ser.
Fugir do convencional, da vida muitas vezes chata, dos dias iguais. Apanhar, sentir que tem sangue correndo pelas veias, correr riscos, viver. Por que é tudo isso é tão incomum nos dias de hoje?
Filmes nos marcam, deixam idéias que jamais esqueceremos, mas são raros aqueles que mudam nossa vida. Clube da luta o fez, pelo menos comigo (somente um outro também conseguiu tal feito: "A felicidade não se compra, 1946"), e jamais esquecerei as diversas cenas marcantes e ideias desse clássico.
Não serei milionário, um Deus do cinema ou um astro do rock, mas sei que posso ter uma vida além dos dogmas cada vez mais comuns nos dias de hoje, e esse filme me faz lembrar disso.
Toda vez que paro para assistir Clube da luta (já devo ter assistido umas 20 vezes, rs) ou alguma cena aleatória, me sinto livre, com vontade de viver o que EU quero, o que Eu sonho, e isso me faz muito bem.
Sobre a parte técnica não tenho muito o que falar, David Fincher é genial. Atuações monstruosas de Brad Pitt; Helena Bonhan Carter; e principalmente de Edward Norton (sim, acho a atuação dele melhor que a do Brad Pitt), que representa toda uma geração (que não é a minha, mas se enquadra perfeitamente à ela) de forma magnífica. A cena em que ele se golpeia no escritório do chefe é espetacular.
Como já disse, não sou grande conhecedor de cinema e tenho pouca propriedade para falar, mas achei o roteiro fantástico, tudo muito bem encaixado do começo ao fim (quem assiste o filme pela segunda vez percebe o quanto tudo estava na nossa frente o tempo todo, mas sem nos deixar perceber; genial).
Ótima fotografia, cenas muito bem gravadas, captando o melhor de cada ator, conseguindo passar a ideia do filme perfeitamente, e uma trilha sonora que termina com "Where is my mind?", que não poderia definir melhor a filosofia do filme.
Entendo os comentários negativos, afinal, não é todo mundo que se identifica com a ideia principal de Fincher, mas é indiscutível o peso que Clube da Luta tem até hoje.
Para finalizar, a cena que mais marcou minha vida, entre todos os filmes que já assisti. Juro que pausei o filme e fiquei por alguns minutos olhando para o teto, longe, com lágrimas nos olhos (é estranho, não é um filme para se chorar, mas ao mesmo tempo que a verdade é cruel, também é libertadora, e isso me nocauteou naquele momento), pensando em como é minha vida e como poderia ser.
Aquele rapaz assustado, com a arma de Tyler Durden apontada para a cabeça atrás de uma loja de conveniências era Raymond K. Hessel, mas não deixava de ser eu.
Se cada um, pelo menos uma vez na vida, tivesse uma arma apontada para sua cabeça por um maluco perguntando "o que você quer ser?", talvez seríamos mais felizes.
Recomendável apenas para quem já assistiu o filme:
- Tyler Durden (com uma arma apontada para Raymond, após pegar sua carteira): O que você estudou, Raymond?
- Raymond K. Hessel (funcionário de uma loja de conveniências): Coisas.
- Tyler Durden: Coisas? Perguntei o que você estudou!
- Raymond K. Hessel: Biologia principalmente.
- Tyler Durden: Por quê?
- Raymond K. Hessel: Eu não sei.
- Tyler Durden: O que você quer ser, Raymond K. Hessel? A pergunta, Raymond, foi: "O que você quer ser!?
- Narrador: Responda, Raymond! Jesus!
- Raymond K. Hessel : Veterinário, veterinário.
- Tyler Durden: Animais.
- Raymond K. Hessel: Sim! Animais e outras coisas.
- Tyler Durden: E outras coisas, sim, entendi isso. Isso significa que você tem que estudar muito mais.
- Raymond K. Hessel: Estudar muito.
- Tyler Durden: E você prefere morrer aqui, de joelhos, na parte de trás de uma loja de conveniência? (momento em que eu pausei o filme)
- Raymond K. Hessel: Não, por favor, não!
- Tyler Durden: Vou ficar com sua carteira. Vou ficar de olho em você. Eu sei onde você mora. Se você não se esforçar para se tornar um veterinário em seis semanas, você estará morto. Agora vá pra casa!
(Raymond K. Hessel corre desesperado).
- Tyler Durden: Corra Forrest, corra!
Narrador: Eu me sinto enjoado.
Tyler Durden: Imagine como ele se sente.
Narrador: Isso não é engraçado! Fez isso a troco de quê?
Tyler Durden: Amanhã será o dia mais bonito da vida de Raymond K. Hessel. Seu café da manhã terá um gosto melhor do que qualquer outra refeição que você e eu jamais tivemos.
Meu café da manhã tem sido saboroso todos dias desde então...
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