Piratas do Caribe: Navegando em Águas Misteriosas
Na última cena de Piratas do Caribe - Navegando em Águas Misteriosas temos nosso herói Jack Sparrow olhando para o horizonte diante da câmera, dizendo uma frase de efeito, acompanhada pela emocionante trilha sonora e o nome do diretor; uma cena já usada, mas que antes causava muito mais impacto do que aqui. O motivo? Talvez seja que você se sentiu muito mais satisfeito com as outras aventuras e fica triste por ter que se dispedir de seus amigos que te fizeram companhia durante três horas divertidas de sua vida, o que (surpreendentemente) não acontece aqui; ao contrário daquele gosto de “quero mais”, você fica indeciso: A chegada dos créditos finais é algo bom ou ruim?... Não, não... Deixe-me reformular minha frase: (...) você fica indeciso: O filme que você acabou de assistir foi algo bom ou ruim?
Funcionando como abertura para uma nova trilogia – que apresentará aventuras individuais do “capitão” Jack Sparrow, Navegando em Águas Misteriosas acompanha o já conhecido pirata á procura da fonte da juventude. O problema é que para Sparrow conseguir mais alguns anos de vida, ele terá que disputar com piratas, ingleses e espanhóis, e assim participar de uma corrida marítima para um local que poucos conhecem. Um dos maiores problemas de Piratas 4 é se parecer muito com seus companheiros de franquia;, o caso romântico entre os personagens de Johnny Depp e Penélope Cruz é completamente previsível, já que sabemos desde o primeiro diálogo dos dois, que em num momento mais oportuno um não evitará de trair o outro da forma mais impiedosa possível. E nisso o roteiro merece alguns aplausos, apesar de conseguir envolver e cativar o expectador com a história de amor e ódio dos protagonistas. O mesmo não pode ser dito do romance secundário entre um religioso e uma sereia (sério?), que soa como clichê, imbecil e com o objetivo de não deixar todo o foco do filme em cima de Sparrow, e até nisso o romance chulé falha – como se não fosse suficiente ser artificial e tolo.
E apesar dessas previsibilidades o roteiro se saiu bem em contar sua história, que apesar de causar tédio em diversos momentos, é aventuresco o suficiente para roubas a atenção do público. É uma pena que esse cheiro de Sessão da Tarde são salve o roteiro, que insiste nos duelos com espadas e traições – e reviravoltas – nada surpreendentes, ao envés de se preocupar em criar cenas de batalhas realmente interessantes (algo que ajudava á manter o ritmo nos três filmes anteriores) ou desenvolver seus personagens. Diferente dos outros episódios, Navegando em Águas Misteriosas é dirigido por Rob Marshall, e isso faz muita diferença no longa. O cineasta por trás de musicais como Chicago e Nine, é o responsável por uma fotografia mais apurada, e que apesar de absurdamente escura e nada funcional em momentos noturnos, funciona muitíssimo bem quando as cenas são iluminadas e claras. Mas essa é a única mudança – nem tão boa, nem tão ruim, já que a fotografia mantém exatamente a mesma qualidade daquela vista anteriormente – Marshall consegue dar ao filme repleto seres místicos, batalhas, explosões e reviravoltas, um ritmo arrastado e que chega dar sono no público em diversos momentos, incluindo cenas que deveriam empolgar como as batalhas com espadas e os ataques das sereias (nessa sequência em questão admito ter me envolvido por uma minúscula e quase invisível formiga que passava pelo chão do meu quarto), assim o filme é uma prova da precária capacidade do diretor como cineasta, e o orçamento folgado da produção ajuda á fortalecer minha idéia.
Incorporando um Jack Sparrow um pouco mais desinteressante que anteriormente, Johnny Depp continua tendo um desempenho ótimo diante da tela, infelizmente o ator é imensamente prejudicado pelo excesso de tempo que o capitão permanece em tela, já que o roteiro não consegue criar piadas e sacadas visuais suficientes para duas horas de projeção, e consequentemente, nosso tão amado companheiro de aventuras acaba se tornando uma brincadeira cansativa, deixando Depp no piloto automático a maior parte do tempo, mas o personagem ainda consegue divertir e entreter. Felizmente, temos uma companheira á altura de Depp e Sparrow; Penélope Cruz além de conseguir compor uma personagem sedutora e tão manipuladora como seu “amado”, a atriz ainda consegue mostrar algo mais do que seus (fartos) atributos físicos: Sua capacidade artística, tanto nos momentos cômicos como nos dramáticos, saindo-se muitíssimo bem e assim espero que se haja uma quinta sequência, Penélope Cruz seja convidada a voltar.
Ainda com vigor, Geoffrey Rush tem sua interpretação prejudicada pelo roteiro mal estruturado, já que é apresentado no início como um vilão impenetrável sentimentalmente, mas que somos forçados á se envolver, pois ele na verdade é um dos mocinhos (ah, que dó dele), mas em nenhum momento sua bondade é consistente o suficiente para nos fazer torcer por ele – mas é quase impossível não sorrir ao ouvir a risada inesquecível do velho lobo do mar nos minutos finais do filme. E finalmente chegamos no maior e mais imperdoável pecado que Navegando em Águas Misteriosas comente... O vilão do filme, o “terrível” Barba Negra é desinteressante e em poucos momentos é realmente ameaçador, e assim não o valente pirata fica na sombra dos vilões dos filmes anteriores; perto do perspicaz e amaldiçoado Capitão Barbossa e do complexo Davy Jones, Barba Negra é tão ameaçador e cativante como uma caixa de fósforos vazia. E a atuação fraca de Ian McShane não ajuda em nada – talvez não seja culpa do ator, mas (novamente) da direção limitada e do roteiro precário. Felizmente a direção de arte continua tão boa quanto dos filmes anteriores, o navio do vilão é terrivelmente ameaçador e obscuro, assim como o local que se encontra a tão procurada fonte da juventude.
Não tendo espaço para expandir seus duelos – já que a história se passa em apenas três lugares e que não mudam em momento algum, diferente do que acontecia nos outros filmes, que apresentavam inúmeras locações que se revezavam constantemente - Piratas do Caribe - Navegando em Águas Misteriosas é (apesar de suas falhas imperdoáveis) um passatempo divertido e simpático, porém passageiro, que não trás absolutamente nada de novo á serie, muito pelo contrário, usa dos elementos errados que já estavam presentes nos filme originais.
E se a Disney quiser continuar com o sucesso de sua franquia de maior sucesso, o estúdio tem que começar a se preocupar com algumas coisinhas: Garantir a presença de Johnny Depp e Penélope Cruz, contratar urgentemente outro diretor e fazer com que os roteiristas lembram-se das aventuras inesquecíveis vistas em A Maldição do Pérola Negra, e tentar fazer algo igualmente emocionante quanto... Mas se continuarem com esse ritmo, esses piratas vão acabar encalhando no Caribe.
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