Antes de falar sobre qualquer aspecto de Inimigos Públicos, duas observações: 1) Não assista ao filme com sono. 2)Deixe o volume da televisão bem alta. Após dizer isso, é bom dizer que o filme é bem sucedido em quase todas as suas tentativas de criar uma combinação eficiente de um filme de arte e de ação. Uma das grandes forças da produção está em seu elenco: Johnny Depp interpreta John Dillinger com perfeição, dando a cara de gangster de cinema que o ‘mocinho’ precisava, além disso ver Depp expressivo e sem ser caracterizado com exagero é ótimo: O ator consegue passar a frieza do personagem nos momentos que isso é preciso e ao mesmo tempo dar veracidade á suas cenas românticas. Aliás, Marion Cotillard também tem uma atuação soberba, tendo picos dramáticos intensos (fisicamente, psicologicamente e emocionalmente). Já Christian Bale fica um pouco escondido atrás do casal principal, e por mais que sua atuação seja ótima, seu personagem jamais é aproveitado satisfatoriamente pelo roteiro.
Aliás, esse é um dos poucos problemas de Inimigos Públicos: Na busca de criar uma construção climática para que as cenas de ação funcionem como deveriam, o roteiro acaba esquecendo de desenvolver um pouco seus personagens e no fim fica a impressão de que todos eles foram sub-aproveitados pelo script, já que o público percebe que em algumas cenas os personagens deveriam mostrar uma complexidade maior. A relação entre John e Billie convence por conta das grandes atuações, mas se tivesses sido interpretados por outros atores, o espectador dificilmente se sentiria envolvido com o romance, já que ele nunca é desenvolvido completamente. O pior é que todos os coadjuvantes não têm muito tempo em tela e, consequentemente, não cativam.
Além disso, a história em si não é tão imprevisível e empolgante quanto poderia, cedendo minutos valiosos á cenas que pouco acrescentam á trama e, por isso, os cento e quarenta minutos de projeção acabam parecendo um pouco mais longos do que realmente são (por isso o: ‘Não assista ao filme com sono’, do primeiro parágrafo). Em compensação, Inimigos Públicos contém algumas cenas realmente inspiradas, que demonstram a experiência da equipe (a sequência que mostra Dillinger como uma espécie de celebridade é perfeita) e a direção de arte é sutil e ótima: Desde os figurinos da época – que são bem característicos – até os elegantes cenários que mostram a sofisticação da arquitetura.
Porém, mesmo com diversas qualidades, nada se compara com a direção fenomenal de Michael Mann, que constrói cuidadosamente as cenas de tiroteio dispersas pelo longa: Sempre deixando o público consciente do que está acontecendo, Mann opta por uma ação nem menos ou mais realista, mas sim mais cru e, consequentemente, impactante. O fato é que os enquadramentos espertos e clássicos do cineasta não são a única característica que fazer as cenas de ação funcionarem: A mixagem de som é brilhante, fazendo com que os diálogos fiquem mais baixos e surpreendente o público pela nitidez (parece que você está vendo a bala sair de dentro da arma e se chocar contra uma vidraça) e pela diferença (em questão de grandiosidade) das cenas mais calmas Além disso, Mann jamais enaltece o protagonista afim de aumentar sua importância história, humanizando-o e o aproximando dos espectadores.
Com uma fotografia exuberante, Inimigos Públicos acaba passando perto de ser uma obra de arte, se não fosse por seu ritmo e seus personagens pouco impactantes, o filme teria se tornado um marco no cinema contemporâneo. Isso não significa que o filme não seja de cair o queixo.
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