Eu não faço questão de esconder de ninguém que tenho sempre um pé atrás para assistir a um filme de Woody Allen (para não dizer que tenho os dois). Eram cinco filmes vistos, até então, e só "Meia-Noite em Paris" conseguiu entrar na lista dos que gostei. Portanto foi com uma razoável dose de boa vontade - e muito apreço a Cate Blanchett - que me dignei a sair de casa para assistir a "Blue Jasmine". E até que saí satisfeito da sessão.
O longa acompanha a história de Jasmine (Cate Blanchett, de "O Aviador"), uma ricaça que se vê no fundo do poço ao perder todo seu dinheiro, o qual foi confiscado pelo governo após a prisão de Hal (Alec Baldwin, de "Simplesmente Complicado"), o marido dela. Então, Jasmine se vê obrigada a ir morar com sua irmã, Ginger (Sally Hawkins, de "Simplesmente Feliz"), numa casa simples em um bairro de classe média de San Francisco.
A comparação de Jasmine com Blanche DuBois (personagem marcante interpretada pela fantástica Vivien Leigh em "Uma Rua Chamada Pecado", de Elia Kazan) é inevitável. Na verdade, as histórias são absurdamente próximas. Mulheres acostumadas ao luxo, que, ao se verem sem dinheiro, buscam refúgio na casa de suas irmãs. Mulheres que buscam um homem que possa as sustentar - porque, claro, merecem tudo do bom e melhor. Mulheres com o emocional profundamente abalado e a um passo de perder todo o controle de si. E, claro, mulheres que menosprezam os parceiros românticos de suas irmãs.
Tal qual como no longa de 1951, em que Vivien Leigh dominava a tela, Cate Blanchett é um monstro em cena durante "Blue Jasmine". Apoiada na cuidadosa construção da personagem no próprio roteiro de Woody Allen, a atriz expande as nuances de Jasmine ainda mais. É uma interpretação hipnotizante, merecedora de cada prêmio que vem recebendo e do Oscar que ainda receberá. Intensa e sem se prender aos tiques típicos de Allen, Blanchett é a dona do filme - "Blue Jasmine" não seria um quarto do que é sem ela.
Também importantíssima na trama é a irmã de Jasmine, Ginger. Contrapondo quase totalmente a personalidade da irmã, a personagem de Hawkins é apresentada de forma bem mais sutil. A diferença entre ambas fica ainda mais notável a partir dos flashbacks que o roteiro amarra muito bem durante a película. O encontro de ambas em Nova York durante a "fase rica" de Jasmine é marcante, da mesma forma que a discussão de ambas nos momentos finais do filme. São maneiras totalmente opostas de encarar a vida.
"Blue Jasmine" é, na verdade, um filme de personagens muito bem construídos, porém é em seu próprio roteiro que residem algumas de suas falhas. Allen, talvez priorizando o estudo de personagens, constrói um roteiro que acaba caindo em saídas fáceis. A resolução do romance de Jasmine com Dwight (Peter Sarsgaard, de "A Órfã") é totalmente abrupta e até preguiçosa, se pararmos para pensar, e os diálogos por vezes caem na armadilha de serem expositivos demais.
Por fim, o longa acaba por ser um trabalho bem distante das últimas coisas que vimos de Woody Allen, se apoiando bem menos na comédia. Talvez por isso tenha conseguido conquistar uma simpatia que ainda não consegui sentir por muitos dos seus filmes. Apesar dos problemas, "Blue Jasmine" é um ótimo filme, apoiado muito mais na magistral interpretação de Cate Blanchett do que no estilo de Allen e que vale uma conferida.
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