No dia 5 de Setembro de 1972 o mundo parou. Durante os Jogos Olímpicos de Verão de 72 em Munique na Alemanha Ocidental, 11 membros da equipe olímpica de Israel foram tomados reféns por um grupo terrorista palestino, denominado de Setembro Negro.
Essa luta é muito antiga, mas também infelizmente muito atual. Quantas vezes não ligamos a TV e vemos sofrimento, mortes e guerras entre Israel e Palestina? Entrar em detalhes sobre essa disputa, tentar julgar quem está certo, seria errôneo de minha parte. Spielberg pensa o mesmo. O diretor não quis expor quem está com a razão ou quem começou esta guerra. Ele apenas mostrou um lado do conflito. O Massacre de Munique não foi o começo, nem o fim dessa disputa, foi somente um dos inúmeros – se é que podemos colocar dessa forma – estopins.
Este é um assunto extremamente importante de se trabalhar, ter um conhecimento prévio a respeito do conflito Israel-Palestina é fundamental para acompanhar e desfrutar melhor de “Munique”. As raízes desse conflito estão no fim do século XIX. Os judeus não possuíam um território próprio, portanto não eram considerados um estado, uma nação; sendo assim migraram para Palestina em busca de se estabelecer nessa região porém a Palestina em sua grande parte habitada por Árabes relutou em ceder espaços. Depois disso inúmeros conflitos passaram a ocorrer, chegando assim ao atentado de Munique em 72, retratado no filme.
A ousadia de Spielberg foi muito arriscada, não se trata de um conflito do século passado, é atual. Se intrometer nesse mundo é extremamente complicado e delicado, qualquer deslize poderia tomar proporções que nem podemos imaginar. Spielberg consegue unir o entretenimento de assistir um ótimo filme á um fato histórico e político, sendo verossímil e coeso. Spielberg mostra também em pequenos flashes como foi atentado, ele não revela logo no começo, vai aos poucos. Á medida que o personagem de Bana vai se modificando as peças do atentado vão sendo montadas, chegando por fim a frase do repórter Jim McKay exibida ao vivo para 900 milhões de pessoas: “Eles estão todos Mortos”. Spielberg também mostra a fatídica tentativa do exército alemão de tentar resolver o problema, os oficias totalmente sem preparo acabaram por piorar as coisas.
Depois do massacre em Munique o governo de Israel convoca Avner Kaufman (Eric Bana) ex-segurança da primeira ministra e membro do Mossad (política secreta de Israel) com a missão de vingar Israel do atentado. Avner será encarregado de comandar mais quatro recrutados, com quase nenhuma experiência no campo. Avner e seus comandados terão que eliminar 11 pessoas de uma lista, considerados estas terroristas. Essa busca aos terroristas foi nomeada de Operação Cólera de Deus. Para isso Avner teve que “deixar de existir”, ou seja, mudando-se para a Europa, mudando de identidade, não tendo mais ligação com ninguém. O filme se concentra nas ações do personagem de Bana, mostrando toda transformação que o seu novo trabalho lhe causará: O afastamento de sua mulher grávida de 7 meses, o anonimato e principalmente a dúvida a respeito do que as pessoas da lista fizeram para merecer tal atitude.
O elenco de “Munique” se encaixou muito bem, Eric Bana, quem diria, soube suportar o peso de carregar um filme desse calibre como protagonista. Daniel Craig o novo 007 lembrou por horas ser James Bond, o filme ainda conta com Geoffrey Rush (“Piratas do Caribe”), Ciarán Hinds (“Miami Vice”), Mathieu Kassovitz (“O Fabuloso Destino de Amélie Poulain”) e Mathieu Amalric (“O Escafandro e a Borboleta”).
A trilha sonora de “Munique” é fantástica, logo no começo do filme somos apresentados a uma lindíssima musica, assim como em todo o filme belos concertos de piano dão a tônica da trama. A parte técnica tem a cara de Spielberg, um figurino magistral recriando a época dos atentados, a fotografia também está muito acima dos demais, como é de praxe em seus trabalho ele leva toda sua cúpula e mostra um trabalho irretocável, uma aula de como se fazer cinema. É difícil um cineasta do calibre de Steven Spielberg se arriscar tanto, com um nome mais do consagrado o diretor não quis ficar só no mesmo, estufou o peito e disse: “Eu vou fazer mais uma coisa diferente.” E fez.
Da gosto de assistir um filme como “Munique”, infelizmente é uma realidade que convivemos, mas ficar de braços atados sabendo que há alguns quilômetros de distancia crianças morrem a cada minuto é lamentável.
“Munique” recebeu 5 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Montagem e Melhor Trilha Sonora.
Steven Spielberg aliando cinema a política faz um dos melhores, se não o melhor filme de 2005. É lógico que muitos meios de comunicação irão virar o nariz para essa obra-prima de Spielberg, mas vamos louvar e agradecer a coragem e o talento desse cineasta.
Nota: 9,5
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