Definitivamente um filme que deve ser conferido por todos aqueles amantes do bom cinema. Sempre fui apaixonado por filmes pequenos porém com estórias e interpretações brilhantes, e esse é um filme que exemplifica muito bem isso.
Até que ponto uma pessoa viciada em drogas pode chegar para saciar seu vício? Esse é um dos pontos discutidos pelo roteiro escrito de forma excepcional por Aronofsky. Ele destrincha de forma sombria e a mais real possível a escuridão e o fundo do poço nos quais os personagens chegam. Mas não é apenas a questão do vício que é tratado no longa. A real mensagem que o diretor tenta passar com a estória é a sempre busca pela felicidade e o complemento da nossa alma que tanto procuramos.
Os personagens são muito próximos de cada um de nós, podendo nos comparar a qualquer um deles. A busca e o vicio pela droga é apenas uma metáfora ou paralelo que o diretor constroi para mostrar que estamos todos em busca de algo que nos complete, que nos faça agir de modo alegres ou que maqueiem essa falsa alegria. Isso fica claro em certa parte do longa em uma conversa de Sara com seu filho Harry. Darren ainda aproveita o tema de drogas (assunto hoje em dia mais do que batido) para mostrar que este é um problema que pode atingir a qualquer um, de várias ou diferentes classes, como é o caso de Harry jovem de classe média e sua namorada Marion, jovem rica, ambos viciados em maconha, cocaína e heroína.
São vários os caminhos que o filme segue para nos mostrar até que ponto o ser humano pode chegar ao seu máximo. Ainda nos é mostrado o caso de Sara, uma idosa que começa a ter problemas com anfetamina, droga que usa para emagrecer.Seu sonho é ir ao programa de Tv, no qual foi convidada, porém a mesma só irá se for com seu vestido vermelho, que já não cabe mais nela. Sara decide tomar pilulas para emagrecer e acaba ficando viciada. Seu filho, Harry, é usário e devido a influência de um amigo também vira traficante. A namorada de Harry sonha em abrir uma grife, mas encontra um sério problema: seu vicio em cocaína. O amigo de Harry é um traficante que sente uma enorme saudade de quando ainda era pequeno e tinha sua mãe. Além de serem viciados, cada um tem seus problemas e recorrem as drogas talvez para ameniza-los ou apenas esquecer, e no caso de Jennifer para alcançar o sucesso. Ainda nas entrelinhas o diretor aproveita para criticar o descaso da saúde pública e dos médicos que receitam remédios inadequados, ou que induzem e contribuem para a piora dos pacientes, como no caso de Sara.
O ponto forte do filme também são as atuações. Jared Leto interpreta um jovem perturbado e Jennifer Connely uma viciada. O personagem de Marlon Wayans é pequeno mas é um dos mais emocionantes. Mas a grande atração fica por conta de Ellen Burstyn que interpreta as várias fases do vicio, dando um show em cada uma, mas com ênfase maior na última parte.
É claro que se observado com a percepção de hoje o longa é cheio de clichês, porém para a época foi uma quebra de paradigmas, até mesmo no que se refere a forma com a qual o diretor opta por filmar. Com takes cortados e mesclas de cenas de aplicação da droga com os efeitos e a forma como é aplicada são as opçãos feitas pela diretor para deixar o espectador mais envolvido. Cenas chocantes também fazem parte do longa e algumas até repugnantes, em contraste com outras totalmente emocionantes. A trilha sonora escolhida pelo diretor também ajuda na composição da formula, principalmente a música tema do filme. A medida que o longa vai passando, torna-se cada vez mais sombrio e perturbador, com um ar claustrofóbico. Ponto a favor do diretor.
Mas o longa também apresenta alguns problemas mesmo que poucos. Por exemplo, um erro técnico imperdoável no qual o diretor passa despercebido na edição e deixa, em uma das cenas, aparecer o microfone de gravação. É tão notável que não tem como perdoar. E outro problema se encontra no roteiro. O diretor dá tanta ênfase ao que pode acontecer com os viciados que algumas coisas chegam a ser exageradas ou ate piegas. Porém isso não atrapalha o resultado final, só deixa uma sensação de exagero.
Chocante, nauseante, perturbador. Assim se define essa pequena obra-prima do cinema moderno.
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