Para os cinéfilos, um filme de Robert Altman poderia ser facilmente reconhecido, caso por exemplo, estivesse passando na televisão, ele que ficou conhecido por uma determinada técnica, que na época da sua execução, chamaram o diretor de louco e que o artificio não funcionava no cinema, fato é que funcionou e bem, assim dando fama ao diretor, a técnica era deixar a câmera solta pelo cenário, deixando os personagens - muitos deles - soltos em cena - e muitos, muitos diálogos, alguns deles ao mesmo tempo, várias pessoas conversando ao mesmo tempo, assim sendo, algumas pessoas - eu por exemplo, adoro - já outros tantos detestam, acham uma de uma confusão só, no último grande filme do diretor, tem tudo isso muito humor e sarcasmo.
O nome por trás de ASSASSINATO EM GOSFORD PARK (2001) é Julien Fellowes (vencedor do Oscar de melhor roteiro original) que fala sobre a divisão de classes nos anos 30, mostrando um final de semana numa enorme mansão cheia de esnobes burgueses, que se reúnem para uma visita informal e uma caçada, levando consigo seus empregados, o roteirista usaria exatamente a mesma técnica, a mesma situação e alguns mesmos personagens para fazer sucesso (muito) na televisão, com a série Downton Abbey - tanto no filme, o ponto alto é como Altman mostra os dois lados da situação dentro da mansão, de um lado os donos da casa e seus convidados, do outro as dezenas de funcionários, tudo dividido na mesma proporção em frente a tela.
Os muitos personagens passeiam em frente a tela, assim dificultando em determinados momentos fica difícil situar as intrigas e fofocas que aparecem durante todo o tempo. Claro que, é só uma questão de tempo, até o assassinato do título, todos já estarão situados com cada um, cada cômodo, com cada um no seu lugar, mesmo que cada uma das fofocas sejam as mais tolas possíveis, e claro, o assassinato do título não é nem de longe importante quanto aparenta, no decorrer do filme, vemos que nem o diretor e nem o roteirista se prendem a esse fato, tanto que no título original, esse assassinato não é mencionado, a intenção verdadeira do filme, é simplesmente mostrar as diferenças de classe.
O elenco que para alguns contará com alguns nomes relativamente desconhecido, para os mais atentos, são todos conhecidos, desde Maggie Smith, interpretando uma senhora insuportável, até Helen Mirren, Ryan Phillipe, Clive Owen, Kristen Scott Thomas, Tom Hollander e Bob Baladan dono da ideia original do filme. Com tanta gente em cena, a atenção é mais do que necessária, já que como é do feitio de Altman coloca todos no mesmo plano, conversando ao mesmo tempo, um na frente e outro atrás, é uma técnica que confere um dinamismo e um ritmo ótimo à narrativa do filme.
O filme fala, então, principalmente do relacionamento patrão-servente, pessoas que passam a vida todas devotas de outras, que não possuem vida própria, e estão lá para servir o tempo todo, com figurinos excepcionais, uma direção de arte intocável, Robert Altman que já estava em uma idade avançada quando filmou, brinca com os personagens, os planos, as sequências e faz tudo se desenvolver da melhor forma possível, para alguns vai mesmo parecer bem longo, se deixar levar pelas fofocas e casos da mansão e até mesmo o assassinato é a melhor pedida, o último grande filme de Robert Altman.
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