EFEITO MANADA + FÉ CEGA + DISSONÂNCIA COGNITIVA
Calma, essa não é uma resenha sobre psicologia; mas até poderia ser, pelo motivos que irei expor a seguir.
Como cinéfilo, poucas vezes vi um trailer cegar tanto o público. Creio, na verdade, ter havido no psicológico coletivo dos espectadores uma junção de fatores - ou transtornos - que explicam a bizarra badalação em torno desse blockbuster lado B que é o LOGAN.
Portanto, antes de mais nada, já sentencio que o longa é simplesmente mais um filminho caça-níquel de super-herói com jeito de lado B, exatamente nos moldes dos dois anteriores do personagem protagonista, Wolverine. Nada, eu disse NADA, fugiu ao script apresentado nos dois filmes que são considerados, com justiça, ruins por boa parte dos fãs (se bem que o primeiro considero razoável, apesar de diversos defeitos). Os três filmes são paupérrimos, com roteiro infantil, direções comerciais e um festival de clichês do primeiro ao último segundo. Logan, em nenhum momento fugiu dessa regra. Inclusive, o final chega até a causar uma certa aflição ao perceber-mos que se trata da mesma cena manjada e surrada que já vimos em milhões de outros filmes.
Por quê então ele está sendo tão elogiado se é a mesma porcaria dos dois primeiros, em todos os sentidos?! É aí que a ciência, através da psicologia de massas, consegue nos trazer respostas satisfatórias para entender essa "maluquice", entusiasta que sou dessa importante ciência na explicação das atitudes humanas.
A peça chave nesse delírio coletivo é o trailer de Logan.
Como sabemos, o trailer é a propaganda de um filme onde é mostrado uma sinopse através de cenas importantes dele. Deste trailer dá para se desprender a ideia de que os personagens, outrora mutantes poderosos, estariam velhos e frágeis, numa espécie de mundo pós-apocalíptico, com um enredo mais focado nos dramas pessoais dos personagens do que nas cenas de lutas para agradar a bobalhada. Alguém mais atento e com senso crítico, todavia, percebe que o trailer na verdade não mostra isso e, ao meu ver, nem tinha essa intenção. Mas então por que as pessoas enxergaram assim?
Como tudo na ciência, não se sabe exatamente como as coisas funcionam, muito menos o que se passa na cabeça das pessoas. No entanto, o que parece bem claro é que houve uma junção de fatores que levaram o público a idealizar um filme que na prática não existe! Mas por que então foram assistir o filme com essa convicção? A resposta é: FÉ CEGA.
Mas por que após assistirem ao filme ainda acreditavam que ele era aquilo que só estava em suas cabeças? É o que a ciência chama de DISSONÂNCIA COGNITIVA, quando o que a pessoa acredita ser real, distoa da realidade, mas é o que ela quer acreditar, portanto, se torna real na mente dela.
De certa forma, psicologicamente falando, soa tudo a mesma coisa, pois se o sujeito tem uma fé cega, ele só vai enxergar aquilo que ele quer ver e, vice-versa; se a pessoa sofre de dissonância cognitiva, acabará por desenvolver uma espécie de fé cega.
Mas o que teria desencadeado essa maluquice nos fãs? Bom, não sei ao certo onde isso surgiu. Possivelmente da própria máquina de divulgação do longa, de críticos pagos, resenhas vendidas, enfim, toda enganação e propaganda canalha que quem é mais bem informado sabe que existe. E esse marketing deu certo, gerando um EFEITO MANADA, ou seja, quando uma atitude ou ideia é difundida à respeito de algo e as pessoas acreditam porque todo mundo ao seu redor concorda. A força que o filme teve em causar esse efeito manada no público decorre do sucesso indiscutível do personagem principal - que de fato é um ótimo personagem e muito bem interpretado por Hugh Jackman -, do sucesso dos filmes dos X-Men e dos quadrinhos que os originaram, e pelo simples fato que os filmes de super-herói agradam muito o mercado e, evidentemente, os estúdios. Acrescente-se a isso o elemento de o público acreditou que seria um filme de super-herói mais sério ou dramático - uma demanda de parte dos fãs que os estúdios resistem em colocar em prática.
Moral da história: o trailer de Logan foi eficiente em convencer as pessoas não apenas a comprarem o ingresso do cinema, MAS TAMBÉM DE CONVENCÊ-LAS DE QUE O FILME ERA BOM E DIFERENTE DOS DEMAIS, MESMO ANTES DE ASSISTIREM!
Confesso que nunca tinha reparado esse efeito com tanta intensidade. Mas há uma explicação que ajuda a entender. Os trailers sempre foram uma peça importante na divulgação e marketing de um filme. Antigamente eles eram mais simples e diretos, mas agora estão mais elaborados e mais eficientes em induzir o público a erro, juntamente com toda a máquina de propaganda que já citei e que inclui uma cambada de supostos críticos que trabalham por encomenda.
As bobagens foram muitas. Disseram que seria um filme ultra violento, que era uma história comovente, que o Wolverine estava velho (o personagem não envelhece!) e até que não se tratava de um filme de super-herói! Porém, quem não sofre dos transtornos psicológicos que citei e tiver pelo menos um mínimo de senso crítico perceberá que não existe NENHUM desses elementos e que o filme é, inclusive, nos mesmos moldes com trama infantil e recheado de cenas clichês que já vimos milhões de vezes em outros blockbusters, com direito a diversas cenas patéticas, como a do final.
É importante que se diga que o roteiro até permitia essas possibilidades que os fãs almejavam, mas, como sempre acontece, o estúdio não quis arriscar, pois havia muito dinheiro e potencial de lucro envolvido. A questão é ter lucro e pronto.
Sabemos que a grande maioria das pessoas adoram esse tipo de filme e vão ao cinema apenas por entretenimento fugaz. Daí essas pessoas elogiarem Logan é natural, já estamos acostumados, e não apenas no cinema, como também na música, na literatura, etc. O triste e trágico é quando esse efeito manada atinge praticamente todos os críticos e cinéfilos, como parece ser o caso, que provam não ter a condição primordial para tal, que é CAPACIDADE DE DISCERNIMENTO.
Logan é só mais um filméco de super-herói.
"De certa forma, psicologicamente falando, soa tudo a mesma coisa, pois se o sujeito tem uma fé cega, ele só vai enxergar aquilo que ele quer ver e, vice-versa; se a pessoa sofre de dissonância cognitiva, acabará por desenvolver uma espécie de fé cega."
O Davi nunca se definiu tão bem.
PS. E é óbvio que o favorito dele na trilogia é o primeiro né? Surpresa alguma. 😏
Repetacular! 😲 😏
🙄🙄🙄
Quando o cara não entende do personagem e de cinema, não dá mesmo...