Quando assisti a “O Padrasto” (The Stepfather, 2009), imaginei que traria uma boa opção de filme para os que leem esta crítica. Infelizmente, tive uma imensa decepção ao ver que este se trata de apenas mais um remake totalmente sem qualidade como os lançados aos montes todo ano. Baseado no filme homônimo de 1987, O Padrasto foi considerado pelo respeitado site Cinematical um dos piores filmes de 2009, mesmo tendo obtido uma decente bilheteria nos EUA.
Susan Harding (Sela Ward) é uma mulher divorciada, traída pelo ex-marido com sua secretária, que tem três filhos. Seis meses após conhecer David Harris (Dylan Walsh), eles passam a viver juntos, como uma família aparentemente feliz e normal, principalmente após o regresso do filho mais velho, vindo do colégio militar, Michael (Penn Badgley). No entanto, com o passar do tempo e à medida que conhece melhor o novo padrasto, Michael passa a suspeitar que David não é quem realmente aparenta ser e que esconde vários segredos de seu passado.
Baseado em fatos reais, o filme não fez o sucesso esperado e a crítica o recebeu com paus e pedras. Esperava-se de seu remake um novo e melhor modo de contar a interessante história, mas o que se vê na tela é um filme sem força narrativa, sem tensão e, sobretudo, sem construção de personagens. O grande vilão David faz o estilo “paradão” e não desperta no espectador os sentimentos caraterísticos para vilões: ódio, desprezo, medo (o que é ajudado também pela decepcionante atuação do bom Dylan Walsh). As mortes não carregam tensão consigo e acontecem de modo rápido, trazendo à mente de quem vê sempre os mesmos pensamentos, como “É só isso mesmo?” ou “Nossa, já acabou?”. A fotografia é sem graça, sempre a mesma e não omite detalhes que seriam importantes para passar a sensação de não saber o que está acontecendo. Mas isso tudo não chega perto do problema dos clichês. Ah, os clichês! Presentes em praticamente toda a película, eles irritam e nos fazem saber exatamente o que vai acontecer. O cara que chega quando algo sobre ele está sendo descoberto, uma bateria de celular que acaba quando não poderia acabar, um imprevisto que acontece quando não poderia acontecer, um homem sendo morto quando estava prestes a descobrir tudo sobre o passado do culpado… Há filmes que fazem uso dos clichês em seu favor, mas o diretor Nelson McCormick parecia não ter idéia do que fazer com seu material, colocando mais e mais sustos gratuitos e esperados no meio dos milhões de clichês já existentes. Direção que não conseguiu atingir o clímax do filme em seu momento de clímax, fazendo uma cena final monótona e risível, que nos faz lembrar facilmente dos mais fracos episódios da interminável série Sexta-Feira 13.
Mesmo recebendo uma direção fraca, o elenco do filme acaba se sobressaindo frente aos inúmeros defeitos da produção. Dylan Walsh, conhecido por fazer um dos papéis principais na ótima série Nip/Tuck, é um bom ator, indiscutivelmente. Mas a mesma expressão que fica em seu rosto durante praticamente toda a projeção incomoda, bem como os diálogos imbecis que é obrigado a protagonizar. No entanto, consegue sustentar bem seu personagem, muitíssimo mal construído. Sela Ward cumpre bem o papel de mãe que busca a felicidade após o divórcio, mas também sofre com os diálogos e com a fraca construção de personagens (vamos combinar, todos os personagens são mal construídos, não mencionarei mais isso a partir de agora). Sua crença desmedida em David pode ser considerada justificável, o que não ajuda o filme, já que o excesso de crença jogaria mais ainda o espectador contra o padrasto. O destaque do elenco fica para Penn Badgley, que interpreta o enteado do criminoso, o qual tenta a qualquer custo revelar a verdadeira identidade do homem. Acerta nas expressões faciais e no modo como profere suas falas, sendo o personagem mais verossímil (se é que podemos utilizar esta classificação para o filme) de toda a produção. Sua namorada no filme, a atriz Amber Heard, completa bem o elenco principal, como a pessoa que tenta desanimar Michael em suas buscas. Assim como Penn, sua atuação é corretíssima. As crianças que interpretam os outros filhos de Susan não têm o mínimo destaque no filme, sendo praticamente figurantes.
Enredo mal contado e inverossímil, personagens mal construídos e carência total de tensão ditam o ritmo deste O Padrasto, mais uma refilmagem totalmente desnecessária que agride o que conhecemos do bom cinema. Seu final dá abertura para o remake da continuação feita em 1989, o que promete mais um dos filmes dos quais devemos passar longe. Remakes normalmente são ruins, continuações, idem. Você arriscaria assistir ao remake de uma continuação?
Por Danilo Henrique.
Apesar do padrasto do filme ser um psicopata que daria um assustador filme de terror e suspense, a trama não emplaca, os diálogos são fracos e o final ainda deixa margem para outra continuação inútil.