É bastante raro um filme de terror ter força suficiente para chegar a uma seqüência. Mas, apesar disso, alguns produtores insistem em levar às telas seus filmes “que completam o original”, mesmo que a maioria dessas continuações sejam verdadeiros caça-níquel. Por isso é impressionante que a franquia “Jogos Mortais” chegue a este “Jogos Mortais 4″ (Saw 4, 2007), e que a força do primeiro filme é mantida até o quarto. Mais impressionante ainda é que esses quatro filmes foram produzidos em anos subseqüentes, começando em 2004 e chegando ao quarto em 2007, com o lançamento do quinto marcado para amanhã. E o primeiro filme da segunda parte da prometida hexalogia de Jogos Mortais mostra-se ser o mais eclético de todos, dando espaço para a tortura, para a investigação policial e para o sentimentalismo (essencial para o desenrolar da trama).
Jigsaw (Tobin Bell) e Amanda (Shawnee Smith) estão mortos, o que nos leva à conclusão óbvia de que Jigsaw tinha preparado um novo discípulo antes de sua morte. Discípulo este que demonstra ter a mesma eficiência e crueldade de seus antecessores, o que pode ser comprovado pela primeira armadilha, uma das mais impressionantes da franquia. Mas a história gira em torno principalmente do Tenente Rigg (Lyriq Bent). Após encontrar, junto com os demais policiais, a detetive Kerry (Dina Meyer) no local de seu jogo, que culminou em sua morte, Rigg entra em desespero, pois todos ao seu redor sempre acabam morrendo. Dentro desse contexto, Rigg é seqüestrado pelo novo discípulo de Jigsaw, tendo que passar por uma série de testes, para, enfim, chegar ao objetivo final (uma verdadeira obsessão do tenente), que é salvar os detetives Hoffman (Costas Mandylor) e Matthews (Donnie Wahlberg) (sim, ele está vivo!). Esses teste ocorrem em vários pontos da cidade, envolvendo jogos de outras pessoas, sempre mostrando a Rigg alguns dos sentimentos de Jigsaw quando arquiteta seus jogos (utilizando frases como “Veja o que eu vejo”, “Sinta o que eu sinto” e “Salve como eu salvo”). Para passar por todos esses teste e chegar ao final do jogo, Rigg tem apenas 90 minutos, que devem ser utilizados com total cuidado. Enquanto isso, os detetives Strahm (Scott Paterson) e Perez (Athena Karkanis), que participaram da incursão que encontrou o corpo da detetive Kerry, iniciam uma investigação meticulosa para descobrir quem está dando seqüência aos cruéis jogos de Jigsaw e Amanda. E os caminhos apontam para Jill Tuck (Betsy Russel), ex-mulher do gênio do horror.
Seguindo o caminho dos outros filmes da série, mas agora, pela primeira vez, sem a participação de Leigh Whannell na direção ao lado de Darren Lynn Bousman, “Jogos Mortais 4″ apresenta cenas que certamente vão ficar na cabeça do espectador por bastante tempo. No primeiro, temos Dr. Gordon (Cary Elwes) cortando o próprio pé; no segundo, temos Amanda caindo em uma “piscina de seringas”; no terceiro, temos a cirurgia no cérebro de Jigsaw. Neste quarto filme, temos uma autópsia perfeita feita em Jigsaw. Não é perfeita no sentido de sanguinária, é perfeita no sentido de fidedigna. As estruturas internas do corpo humano, mesmo as mais detalhadas, são mostradas, dando um caráter extremamente realista ao procedimento. As armadilhas mantiveram o ótimo nível, mas, como já foi citado, a melhor é a primeira, que coloca em prova as reações do ser humano quando algo lhe é tirado. O sentimento faz-se presente neste “Jogos Mortais 4″ de maneira totalmente propícia, útil, levando a esclarecimentos sobre o passado de Jigsaw. Por exemplo, ele não se tornou um “assassino” (o que eu não creio que ele seja) apenas pelo fato de ter câncer, mas também por uma perda irremediável em sua vida (não vou estragar a surpresa). Há um aspecto muito mais humano em Jigsaw do que você pode imaginar, até aceitar.
A parte visual de “Jogos Mortais 4″ é excelente, assim como dos outros filmes da franquia. Maquiagens muito bem feitas dão um tom maior de realismo às cruéis armadilhas, e dão também o tradicional frio na barriga. A trilha sonora, liderada pela música que arrepia ainda mais a nossa nuca no final de cada filme da série, é muito boa, ditando o ritmo com que é conduzida a trama. O elenco é, mais uma vez, bastante homogêneo, com boas atuações de todos os atores. Destaque, como sempre, para Tobin Bell, com seu incansável Jigsaw. A cada filme, o ator mostra-se mais talentoso, confirmando o grande acerto feito no primeiro filme, pois, como Jigsaw aparecia muito pouco e tinha umas 20 palavras para falar, eles poderiam ter escalado o faxineiro do estúdio (nada contra os faxineiros, por favor) para ficar ali deitado durante quase duas horas. Mas o presente que nos deram foi imenso, e Tobin Bell pode ser considerado como um dos principais responsáveis por tamanho sucesso da franquia. Também pode-se destacar a atuação de Lyriq Bent, como o atormentado Tenente Rigg. Seu personagem, que sempre quer salvar todos sem se preocupar com o que deve fazer, é bastante complexo, pois enfrenta vários dilemas em seus testes. Outro bom nome do elenco é Betsy Russel, como Jill, a ex-mulher de Jigsaw. Sua atuação convincente confere à personagem a força necessária para retratar os dramas sofridos ao longo de sua vida e, é claro, o drama que enfrenta ao ser considerada suspeita.
“Jogos Mortais 4″, como já foi dito, mantém o nível das outras produções. Mas, infelizmente, comete um pequeno erro, que é utilizar personagens demais. Quando você se dá conta, descobre que não sabe mais quem é quem, e isso atrapalha bastante seu entendimento da trama. E, neste filme que exige o máximo de atenção, em virtude da quantidade de informações que são passadas, perder o rumo não é muito aconselhável.
Como ”Jogos Mortais 4″ é uma continuação que não começa de onde o terceiro filme terminou, algumas pessoas chegaram a considerar seu lançamento desnecessário, o que não é verdade. Ainda há muito o que descobrirmos sobre Jigsaw, seus jogos e seus discípulos. E prepare-se para se surpreender ao ser revelada a identidade do discípulo deste quarto filme, cujo final é excelente, como os três que o antecederam. Fica agora a expectativa para o lançamento do 5º filme, que será amanhã. E, claro, espere a crítica neste site. E lembre-se: “Os jogos estão apenas começando!”.
OBS.: Crítica feita um dia antes do lançamento do 5º filme da série no Brasil.
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