“Instinto Secreto” (Mr.Brooks, 2007) é um filme que tinha tudo para dar errado. Mais uma história de serial killer, um diretor que estava afastado das telas há 15 anos, um elenco que não vem sendo utilizado em grandes filmes ultimamente, um ator de comédia em um dos papéis principais… Mas não é que, apesar disso tudo, conseguiram fazer um filme relativamente bom?
Earl Brooks (Kevin Costner) é um executivo muito bem-sucedido que comanda uma empresa de caixas. Com uma vida familiar estável e com o prêmio do Homem do Ano, Brooks tem a vida que todo mundo pediu a Deus, não fosse seu ego louco e homicida, Marshall (William Hurt), que domina sua mente fazendo-o cometer inúmeros assassinatos e encobertá-los. Em seu suposto último homicídio, Mr. Brooks é fotografado pelo vizinho do casal assassinado, Sr. Smith (Dane Cook). Em troca de seu silêncio, Sr. Smith pede uma concessão a Brooks: participar de seu próximo assassinato. Vendo-se forçado a matar novamente, Brooks (que é conhecido pela alcunha de “Assassino da Digital”) é praticamente levado à loucura, pois é investigado pela detetive Tracy Atwood (Demi Moore), tem problemas com a filha grávida que está largando a faculdade e ainda é ameaçado pela possibilidade de Smith entregar as fotos à polícia.
O filme conta com um bom elenco, mas que anda meio sumido das grandes produções. Kevin Costner, Demi Moore e William Hurt já tiveram seu ápice na carreira, e têm feito, ultimamente, filmes não muito repercutidos na mídia, apesar da indicação de Hurt ao Oscar em 2006 por “Marcas da Violência”. O diretor Bruce A. Evans faz seu segundo filme; mas o problema é que o primeiro foi feito em 1992! Apesar disso, consegue fazer um bom thriller, sendo bastante atrapalhado pelo roteiro. Roteiro esse que traz, em 2 longas horas de filme, inúmeras subtramas, que fazem o espectador, por vezes, achar que está assistindo a uma reunião de vários curtas. Há um excesso de reviravoltas e as subtramas não são bem desenvolvidas e resolvidas, o que acaba incomodando bastante. Se tivessem a coragem de fazer como foi feito com “Magnólia”, cuja duração de cerca de 3 horas faz com que tudo seja devidamente resolvido e explicado, “Instinto Secreto” correria o “risco” de ser uma obra de arte, pois tudo ficaria claro e inteligível. A cena que parecia ser a final me agradou, apesar de não ter sido exatamente o que parecia ser.
Kevin Costner, com uma ótima e revitalizante atuação, dá uma alma sombria e comovente a Mr. Brooks. Mas ele não seria nada sem a estonteante presença de William Hurt no papel de Marshall. O entrosamento espetacular entre os dois é o ponto forte do filme. Demi Moore, também bastante sumida, faz com bastante competência a detetive Atwood, mas sem o mesmo brilho da dupla citada acima. A surpresa fica a cargo de Dane Cook, ator de comédia, fazendo seu primeiro papel sério com uma grande responsabilidade, pois seu personagem é um dos principais do filme. Sua atuação é corretíssima, e ele consegue transferir a obscuridade de seu personagem para dentro de si mesmo.
“Instinto Secreto” está longe de ser um grande filme. Os fatores citados no primeiro parágrafo apontam que seria impossível esse filme ao menos dar certo. Mas, por milagre ou não, o longa é bem encaixado e, não fossem as falhas no roteiro, faria mais sucesso do que fez. E seria um sucesso merecido.
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