O lançamento de filmes musicais feitos para público adolescente têm sido cada vez mais freqüentes em Hollywood. Juntamente com a febre “High School Musical”, que chegou ao terceiro capítulo em 2008, veio este legalzinho “Ela Dança, Eu Danço” (Step Up, 2006), cujo título em português é simplesmente terrível (fazendo alusão a uma música de sucesso da época no Brasil), mas cuja história, apesar dos inúmeros clichês, agrada bastante. Mais um daqueles filmes que têm tudo para dar errado, “Ela Dança, Eu Danço” não chega a dar totalmente certo, mas tem certa capacidade de envolver e emocionar o espectador.
A história é bem simples, até bobinha. Tyler Gage (Channing Tatum), um adolescente encrenqueiro, que anda pelas casas noturnas e ruas de Nova York com seus inseparáveis amigos Mac (Demaine Radcliff) e Skinny Carter (De’Shawn Washington) arrumando confusão, depreda e invade uma escola de artes, e é condenado a prestar 200 horas de serviço comunitário no local, como faxineiro. Lá, no entanto, ele conhece uma bailarina que está montando sua coreografia de fim de curso, Nora Clark (Jenna Dewan). Nora, cujo parceiro está impossibilitado de ensaiar por ter lesionado a perna, procura desesperadamente um parceiro para continuar os ensaios até que sua dupla volte, mas não consegue encontrar ninguém à altura nas outras turmas da escola. É aí que Tyler oferece ajuda e Nora, após relutar, obtém autorização da Diretora Gordon (Rachel Griffiths) para continuar seus ensaios com o faxineiro. Tyler, mesmo sendo acostumado somente às danças de rua, acaba se envolvendo com a dança, e supera todos os seus limites para ajudar Nora, enquanto, através da dança, nasce um novo amor.
Perceberam como tudo é bastante óbvio o repleto de clichês? Tudo o que foi escrito acima pode ser visto em vários outros filmes, tanto de qualidade superior quanto de inferior. O que diferencia “Ela Dança, Eu Danço” dos outr0s é que a diretora estreante Anne Fletcher não tem vergonha dos clichês e da obviedade do seu filme, o que lhe dá vários pontos a seu favor. Ela sabe usar extremamente bem o roteiro bobinho escrito a quatro mãos por Duane Adler e Melissa Rosenberg, e não deixa os clichês tão escancarados para o público. Só que impossível não se irritar com a obviedade constante da película, já que a cada momento você visualiza exatamente como é a cena seguinte. Até as “reviravoltas” (que não têm nada de reviravoltas, a não ser na cabeça da diretora e dos roteiristas) são extremamente previsíveis e bobas, não trazendo o mínimo de surpresa para o espectador, mas também não chegando a incomodar. Apesar da presença de tanta obviedade, o filme chega a emocionar em alguns momentos, e o ponto onde ameaça decolar é quando o amor de Tyler e Nora começa a ser explorado. No entanto, o ponto alto do filme são os ensaios da dupla, que se mostra bastante desenvolta para dançar (muito bem, diga-se de passagem) diante das câmeras. Mesmo parecendo um absurdo o desenvolvimento de Tyler de uma hora para outra, as cenas de dança são ótimas, principalmente a da apresentação final que, apesar das “reviravoltas” tentarem, sem sucesso algum, esconder, é feita mesmo entre Nora e Tyler. Outro ponto que merece destaque é o fato de que a diretora não coloca os protagonistas no mesmo plano, dando muito mais destaque a Tyler. São mostradas inúmeras cenas da vida cotidiana do rapaz, enquanto que as cenas com Nora, isoladamente, são bastante resumidas, e sempre mostrando a relação instável que a garota tem com a mãe. Outra personagem que, na minha opinião, poderia ter mais destaque é a Diretora Gordon, interpretada muitíssimo bem pela australiana Rachel Griffiths (sobre quem falarei mais abaixo). Sua participação na trama é boa, mas, em virtude da importância de sua personagem, poderia ter sido mais explorada. Há de se destacar também a trilha sonora do longa. As músicas estão longe de ser a chatice que ouvimos na maioria dos filmes relacionados a música e dança. As músicas tocadas representam perfeitamente as situações expostas na tela, e as que embalam as coreografias são extremamente adequadas e propícias para o tipo de dança apresentado. Acerto imenso so longa, que eu atribuo ao fato de a diretora Anne Fletcher ser uma experiente e renomada coreógrafa norte-americana. No entanto, o grande erro do filme é o de, por vezes, usar mecanismos baratos e desnecessariamente sentimentalistas para tentar emocionar o espectador. O ponto onde isso ocorre descaradamente fica próximo do final, quando há um assassinato totalmente desnecessário, sem o qual a trama não perderia em nada. É uma pena que alguns diretores insistam em lançar mão de tais elementos, que têm cada vez menos espaço no cinema moderno, em seus filmes ainda nos dias de hoje.
O elenco de “Ela Dança, Eu Danço” é muito bem escolhido, com destaque para o protagonista Channing Tatum e para Rachel Griffiths. O protagonista, cujo personagem, Tyler, é muito mais explorado que o da outra protagonista, Jenna Dewan, tem muito carisma e personalidade, o que o credencia facilmente ao papel que lhe foi dado. Inclusive, na minha opinião, esse carisma do ator foi um dos fatores motivadores para Tyler aparecer muito mais que Nora. Apesar de tanto carisma, sua atuação não chega a ser espetacular, nem a melhor do filme. O posto de melhor do filme fica com Rachel Griffiths, que acrescenta uma grande dose de brilhantismo à sua personagem, a Diretora Gordon. Caso a diretora fosse interpretada por uma atriz não tão talentosa quanto Rachel, com certeza sua importância não seria tão evidenciada, e ela se tornaria apenas mais uma personagem secundária. Janna Dewan interpreta a protagonista feminina da trama, e, mesmo não convencendo, tem uma atuação ok. Os outros coadjuvantes não têm grande destaque, ficando nivelados em um nível regular.
“Ela Dança, Eu Danço” tem todos os elementos possíveis para não ser levado a sério, e para cair no lugar-comum dos filmes adolescentes. Mas é a própria consciência de sua diretora que acaba salvando o filme, que, mesmo estando longe de ser uma obra-prima, acaba agradando e divertindo. Utilizando verdadeiros atores que sabem dançar, vale a pena passar os 103 minutos do filme aguardando pelas cenas de dança, que terminam em uma maravilhosa apresentação final. “Ela Dança, Eu Danço” consegue passar seu recado, mesmo não sendo com a melhor das premissas.
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