Nos últimos anos, tem sido bastante comum a adaptação de best-sellers para o cinema. O fato de a obra original ter um grande público aficcionado faz com que, independentemente de sua qualidade, o filme seja um grande sucesso. Alguns deles, quando passados para os cinemas, acabam tendo sua qualidade bastante diminída, como é o caso da série Harry Potter (cujos dois primeiros filmes são bastante decepcionantes) e o espetacular “O Código DaVinci”, que originou um filme simplesmente comum. Em contrapartida, outras obras geram filmes tão bons ou até melhores, como é o caso da trilogia “O Senhor dos Anéis” e “O Nevoeiro” (este último, sendo um conto vindo de um livro não tão best-seller assim). “Crepúsculo” (Twilight, 2008) , baseado no primeiro livro da série de cinco da escritora americana Stephenie Meyer, se encaixa perfeitamente na lista dos filmes que não têm nem a metade da qualidade do livro, o que não chega a ser um grande problema para os fãs mais apaixonados.
Bella Swan (Kristen Stewart) vai morar com seu pai, o chefe de polícia Charlie Swan (Billy Burke) na cidadezinha de Forks, pois sua mãe e seu padrasto (que é jogador de beisebol) necessitam fazer viagens constantes. Ao chegar no colégio, Bella logo ganha fama (por ser filha do chefe de polícia local) e admiradores, como o chato Mike Newton (Michael Welch) e o “puxa-saco” Eric (Justin Chon). Mas não é nenhuma dessas pessoas que chama a atenção de Bella: à primeira vista, ela fica fascinada por Edward Cullen (Robert Pattinson) e impressionada pela beleza de seus irmãos, Alice (Ashley Greene), Jasper (Jackson Rathbone), Emmet (Kellan Lutz) e Rosalie (Nikki Reed), todos filhos adotivos do médico da cidade, Dr. Carlisle (Peter Facinelli). Nem mesmo o fato de todos os Cullen parecerem que não vivem no mesmo mundo que os outros alunos da Forks High School impede que Bella, aos poucos, vá se apaixonando pelo misterioso Edward. Quando descobre que os Cullen não são uma família comum, mas uma família de vampiros, Bella age contra todas as expectativas e não demonstra medo de seu grande amor e sua família, mesmo sabendo que ele pode matá-la a qualquer momento. Mas o grande perigo pelo qual passa Bella não é a família em que está prestes a entrar, mas sim quando um grupo de vampiros sanguinários, liderado por James (Cam Gigandet) a encontra, dispostos a matá-la a qualquer custo.
O grande problema do roteiro de “Crepúsculo” é que nem ele sabe o tipo de filme que é. Quem já leu o livro sabe que se trata, priotariamente, de uma história de romance, com vários elementos de ação e mistério. Pois o roteiro não define um foco: é mostrado de tudo um pouco, mas nada de maneira satisfatória. Temos apenas pitadas do amor platônico de Bella e Edward, doses bastante homeopáticas do mistério que envolve a verdadeira identidade dos Cullen e pinceladas da ação decorrente da perseguição do bando a Bella. O que contribui fatalmente para isso é o fato de que o filme não é totalmente fiel ao livro. Sendo o livro narrado inteiramente em primeira pessoa por Bella, não seria possível vermos as cenas de James caçando, como vemos no longa. Não há um expectativa criada acerca dos assassinatos, já que sabemos exatamente quem os cometeu. Inclusive temos um final diferente do apresentado na obra de Stephenie Meyer, o que pode desagradar imensamente aos fãs. Temos, inclusive, momentos importantíssimos da trama (mais importantes até que o final) alterados pela roteirista Melissa Rosenberg, como o momento em que Edward confirma para Bella que ele é um vampiro (no livro é no Volvo do personagem, enquanto que no filme a cena é passada na floresta) e quando Bella profere as palavras que se encontram na contracapa do livro (”De três coisas eu estava convicta…”). Esta segunda acontece totalmente fora da ordem cronológica do filme, o que, se tratando de uma cena bastante aguardada pelos fãs, é totalmente inaceitável. Das cenas modificadas, a única que realmente dá certo é uma das cenas finais, que, claro, não será revelada aqui, mas que tem um nível de tensão e violência não vistos no livro de Stephenie. De resto, temos várias boas cenas sendo pouco exploradas, e um filme feito com bastante pressa, com seqüências bastante curtas que raramente conseguem chegar ao clímax. Apesar da tentativa da roteirista Melissa Rosenberg e da diretora Catherine Hardwick de estragarem tudo, “Crepúsculo” carrega uma ótima história da obra original de Stephenie Meyer, o que não pode ser perdido nem com as piores adaptações e direções.
O elenco de “Crepúsculo” era uma das coisas mais aguardadas do filme, em virtude da beleza de quase todos os personagens retratada por Stephenie Meyer em seu livro. E, realmente, o elenco foi escolhido a dedo, todos os personagens tiveram sua beleza extremamente bem representada. O grande problema é que nem sempre é possível combinar beleza com qualidade de atuação, o que é fortemente evidenciado. As únicas atuações que realmente chamam a atenção são Kristen Stewart e Ashley Greene. Kristen, que já participou do ótimo “O Quarto do Pânico” e do fraquinho “Os Mensageiros” com papéis importantes (sendo protagonista no segundo), entra na pele da protagonista apaixonada Bella Swan. Como de costume, Kristen transparece exatamente o que sua personagem exige. Tudo sai certo, desde a entonação da voz até as expressões faciais, o que torna sua personagem a mais fidedigna ao livro, inclusive no jeito desajeitado que ela incorpora com perfeição. Ashley Greene tem um papel mais secundário, como a divertida Alice Cullen, irmã de Edward. Ashey mostra na tela o que, provavelmente, todos os fãs que leram o livro imaginaram de Alice. Totalmente meiga e carismática, a atriz faz com que Alice, mesmo não aparecendo muito, seja querida até pelas pessoas que não tiveram a oportunidade de ler o livro. A maior decepção fica por conta de Robert Pattinson, o vampiro bonitão por quem Bella se apaixona e que faz as fãs suspirarem a cada cinco minutos. Robert é a maior prova de que beleza e qualidade nem sempre andam de mãos dadas. O ator tem alguns bons lampejos, como nas cenas das aulas de Biologia que faz junto com Bella, mas sua atuação, como um todo, é extremamente burocrática. Justin Chon, que interpreta Eric, um colega de escola de Bella, consegue fazer seu personagem (que, no livro, é aturável) ficar extremamente insuportável com sua atuação beirando o ridículo. Taylor Lautner, que interpreta Jacob Black, apesar de aparecer em, no máximo, 5 minutos de filme, tem uma atuação bastante segura, o que pode desfazer os rumores de sua substituição para o segundo filme da série, “Lua Nova”, cuja estréia está, a princípio, programada para o fim de 2009.
A parte visual de “Crepúsculo” é excelente, principalmente se tratando das belíssimas locações e cenários. Os efeitos especiais são ok, mas com uma ressalva: os efeitos usados para mostrar como Edward (e, eventualmente, todos os vampiros) ficam quando expostos à luz solar é fraquíssimo, não conseguindo traduzir a magnitude da narrativa de Stephenie Meyer. Todo o restante, como as cenas em que Edward usa e abusa de sua velocidade, é bem feito, não dando a impressão do “é impossível isso estar acontecendo”, comum quando vemos efeitos esdrúxulos. A trilha sonora é impecável, ditando o ritmo que nem sempre é sustentado pelo roteiro.
“Crepúsculo” é um filme feito para agradar aos fãs que não enxergam através da paixão, e, provavelmente, não vai deixar muito felizes os fãs que não se contentam com qualquer coisa. Se você, assim como eu, já leu o livro, não espere uma reprodução fiel do que estava nas páginas escritas por Stephenie Meyer, pois vai ter uma grande decepção. Se você não leu, este é apenas mais um desses filmes-pipoca que lançam toda semana nos cinemas, ou seja, apenas mais uma opção de diversão barata.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário