Os inúmeros problemas de pós-produção de “Caso 39″ (Case 39, 2009) são um fato nada chamativo para o longa. Arrecadando apenas US$ 11,6 milhões ao redor do mundo, o filme começou a ser produzido em 2009, teve a estréia adiada várias vezes e, ao meu ver, passou a despertar menos interesse do público. No entanto, mesmo após mexerem e remexerem cenas e a montagem, este longa de estréia do diretor alemão Christian Alvart, mesmo utilizando um gênero já bastante explorado (o de crianças más, representado otimamente pelo recente “A Órfã”), consegue agradar bastante com uma trama ágil e despreocupada com passar a realidade o tempo todo para o espectador.
Emily Jenkins (Renée Zellweger) é uma assistente social extremamente dedicada que recebe de seu chefe seu 39º caso, referente à garotinha Lilith Sullivan (Jodelle Ferland), bastante anti-social e estranha. Aparentemente tratada com violência por seu pais, Lilith caiu muito de rendimento na escola e não dormia mais. Os temores de Emily são confirmados quando precisa salvar a garotinha de uma tentativa de assassinato por parte de seus pais, que tentam matá-la queimada em um forno. Emily, então, decide cuidar pessoalmente de Lilith até que surja uma família para adotá-la. Mas é aí que o terror começa…
Com um início no melhor estilo devagar-quase-parando, a trama de Caso 39 é monótona em seus minutos iniciais. No entanto, após o primeiro evento-chave, a história toma um rumo interessantíssimo, mesmo com um fraco desenvolvimento de personagens do início do filme. Alvert consegue criar um clima de tensão bastante eficiente, através da boa fotografia e de bastante ousadia. Os momentos de devaneio da protagonista (muito bem feita por Renée Zellweger) são totalmente realistas, e não passam com um piscar de olhos. Esse é, talvez, o maior acerto do filme, que dá origem a cenas realmente assustadoras. A cena do armário, situada próximo aos momentos finais do filme, é uma das melhores da projeção em virtude desse recurso muito bem utilizado pelo diretor estreante. Nesse filme, terror físico e psicológico estão unidos de tal maneira que, por vários momentos, não conseguimos diferenciar o que é o quê. Há de se destacar, também, o fator psicológico da protagonista que, ao mesmo tempo em que tem certeza do que está acontecendo, tem sua sanidade posta em cheque como na cena descrita anteriormente.
O modo como Alvert mata seus personagens também é interessantíssimo. Não, não é inovador, mas também não é uma cópia dos trocentos filmes iguais que vemos por aí ao longo dos anos. As pessoas não recebem ligações da Samara dizendo que morrerão dentro de 7 dias nem cometem suicídio por causa de um vírus que está no ar; há lógica, há tensão, há medo. Além do modo, as mortes em si são bastante estilosas, com total destaque para a primeira. Apesar de ter pontos fortes em número muito maior que os fracos, Caso 39 bóia em seus clichês. Como sempre, há a pessoa desesperada, a pessoa que não acredita em nada e diz que a que acredita está louca e por aí vai. No entanto, Alvart também sabe surpreender seu espectador, como acontece no final do filme. O diretos nos mostra como transformar em surpresa algo que parecia óbvio, presenteando-nos com um final digno do restante de seu longa: de tirar o fôlego.
Do elenco de Caso 39, os únicos atores que eu conhecia anteriormente eram Renée Zellweger (de Cold Montain e Bridget Jones) e Bradley Cooper (do ótimo O Último Trem). Surpreendi-me bastante com o funcionamento de todo o elenco em cena, entrosados e envolvidos na trama. Renée está OK como protagonista, por vezes exagerando nos tons de voz e expressões faciais, mas acertando na maioria das vezes. Kerry O’Malley e Callum Keith Rennie, que interpretam os pais de Lilith, vão muito bem com o papel de pais insanos da garota, transmitindo um realismo bastante desagradável (no melhor sentido da palavra). Bradley Cooper, interpretando Doug, amigo e flerte de Emily, vai muito bem, confirmando totalmente minhas impressões a seu respeito tiradas do filme O Último Trem. Mas a maior surpresa, novamente, está na “garotinha do demônio” interpretada pela muito competente atriz Jodelle Ferland. Em seu oitavo filme, a atriz canadense de apenas 14 anos tem carisma e consegue transmitir tudo de que sua personagem precisa para passar o medo necessário ao bom andamento do longa. Com mais este nome, a nova geração de atores (muito bem representada por Nathan Gamble e Isabelle Fuhrer, dentre o que me lembro agora) promete retomar aos velhos tempos, em que, para ser ator ou atriz, era necessário ser bom, não só ter beleza como está sendo a nova moda de Hollywood.
Caso 39 é mais uma das agradáveis surpresas, um terror acima da média que não é atrapalhado por seus clichês. Muitos acertos, poucos erros e um filme imperdível para quem gosta do gênero. Grande acerto do então estreante diretor Christian Alvert.
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