Filmes baseados em obras de Stephen King, mestre da literatura de horror, sempre chamam a atenção do público, principalmente dos fãs de seus livros. Mas, após uma série de fracassos como “Montado na Bala” e “O Apanhador de Sonhos”, os filmes do mestre passaram a ser vistos com certa desconfiança. Mas eis que surge esse maravilhoso “1408″ (2007) para dar um brilho a mais à lista das produções cinematográficas baseadas em livros e contos do autor.
O filme conta a história de Mike Enslin (John Cusack), um escritor cujos livros são recheados de contos e listas sobrenaturais. Após a morte de sua filha em decorrência de um câncer, ele deixa toda a sua vida para trás para se dedicar unica e exclusivamente à sua carreira de autor do sobrenatural, viajando pelo mundo passando por lugares mal-assombrados, como cemitérios, hotéis, castelos… Seu objetivo, no entanto, é maior do que alavancar sua carreira com livros instigantes e intrigantes: é descobrir a vida após a morte. E é nessa toada que ele conhece, através de um postal, o Hotel Dolphin, famoso não por seus lindos quartos e arquitetura exuberante, mas por um quarto em especial: o 1408.
Intrigado pelo aviso no verso do postal, dizendo para que o leitor não se hospede no 1408, Enslin decide experimentar uma noite no local, mesmo sofrendo grande resistência do gerente do hotel, Gerald Olin (Samuel L. Jackson). O alerta de Olin para Enslin não se hospedar no referido quarto deve-se ao fato de que 56 pessoas morreram ao se hospedarem lá. Mas a insitência e a teimosia de Enslin fazem-no não desistir da idéia, fazer a hospedagem e passar aterrorizantes 70 minutos dentro do quarto.
O filme conta com acontecimentos alucinantes (às vezes literalmente) que fazem com que o espectador não desgrude os olhos da tela. O dinamismo do protagonista prende os olhos do espectador na tela o tempo inteiro, não deixando o ritmo cair em momento algum. A princípio incrédulo com os alertas de Olin, Mike vê com os próprios olhos e sente na pele a assombrosidade do 1408. Sofre constantemente com alucinações de antigos hóspedes do quarto repetindo o ato de suas mortes, com perturbações auditivas e confusão dos sentidos. O quarto faz com que ele perca totalmente a noção de tempo (ele não sabe se está no quarto há um dia ou há alguns minutos) e da realidade, levando-o praticamente à loucura. Isso tudo ajudado pelo fato de ele se lembrar constantemente da filha morta e dos conflitos familiares que sucederam o acontecido.
1408 é um filme perturbador tanto para o protagonista quanto para o espectador, que quase nunca sabe o que é real e o que não é, o que se assemelha muito a “O Iluminado”, filme de grande sucesso baseado em um livro de igual repercussão de Stephen King. E é nesse ponto que o filme peca. A alta complexidade do roteiro, conduzido brilhantemente pelo diretor Mikael Hafstrom, torna algumas seqüências confusas, não cumprindo sua função de deixar suspense no ar. Se você desviar a atenção por um segundo pra ver quem está do seu lado, ou por causa de um barulho, será difícil retornar à tona no filme. Mas isso não chega a ser um empecilho, pois não é tão fácil assim desviar a atenção assistindo a um longa como esse.
Os cenários do hotel e do quarto específico são belíssimos, tudo está no lugar onde deveria estar e não há nenhum grande exagero. Cenários que, combinados à trilha sonora sufocante, colaboram extremamente para o clima de mistério passado no filme inteiro, dando mais um motivo para o espectador não desgrudar da tela.
O elenco, escolhido a dedo, faz o filme funcionar com perfeição. Jonh Cusack oferece a 1408 a melhor atuação sua que eu já vi, dando ao personagem uma complexidade e uma cinética sensacionais, sendo muito seguro e perturbador. O roteiro ajuda a sua exposição, já que ele aparece em praticamente todas as cenas, ou seja, o roteiro gira em torno de seu personagem. Samuel L. Jackson, na pele do gerente Olin, é, ao lado de Cusack, um dos destaques do filme, apesar de aparecer muito pouco. Sua interpretação forte e sólida faz com que temamos verdadeiramente o quarto 1408.
Assistir a 1408 perturba. Acompanhar as variações e complexidade do roteiro é complicado, mas quem consegue fazê-lo tem uma experiência única: assistir ao renascimento dos filmes baseados em obras do gênio do horror!
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