Nos anos 80, em Belo Horizonte, mais especificamente na vila Nossa Senhora de Fátima, um grupo de jovens negros e pobres se juntam com intuito de montar uma rádio. Com o sonho de levar a cultura e a voz negra, não só para os moradores da favela, mas também para toda Belo Horizonte, eles se unem numa luta de afirmação social e cultural em um Brasil pós-ditadura, em que a democracia ainda era frágil e o preconceito com os negros era bastante enraizado na nossa cultura.
No começo do filme, vemos a rádio favela já formada. Jorge (Alexandre Moreno), o locutor e o braço direto da rádio, anuncia as notícias para os moradores, além de exibir músicas que fazem parte da cultura negra e sonoridades que são vivenciadas pelos moradores da favela, como o funk, soul, hip hop. Músicas com caráter crítico social e político. Por ser uma rádio extremamente politizada na luta por justiça social e clamar pelos direitos dos negros na sociedade brasileira, a rádio favela começou a incomodar muita gente. Por funcionar de forma ilegal, a polícia usou isso como justificativa para começar uma perseguição a própria rádio, buscando de todas as formas calar a voz daquelas pessoas. Logo no começo do filme, o Jorge, responsável pela rádio, é preso. E na cadeia, conversando com outros presos, ele começa a narrar a sua história.
Na reflexão da sua própria vida, vemos o protagonista em uma busca de autoconhecimento. Jorge, filho de uma faxineira de um colégio particular, recebe uma bolsa de estudo para estudar no colégio. Logo vemos que a bolsa é uma forma de favor para a mãe, pois ele é o único estudante negro do colégio formado por filhos da elite e branca. Por ser negro, o preconceito por mais sutil que seja, é visível no filme, em especial na cena em que vemos o protagonista sozinho no colégio, sem amigos ou grupo nos intervalos. Um dos momentos do filme há uma apresentação sobre o tema da escravidão, a forma leviana em que o tema é abordado o incomoda, fazendo a questionar os colegas sobre a afirmação em que o preconceito racial no Brasil não existe. Nessa cena, o preconceito que antes era escondido explode na discussão e nos olhares do colega.
Ao não aceitar mais essa situação, de viver uma vida em que não era o que ele desejava, visto que a mãe dele sonhava que ele estudasse para ser médico. Jorge e seus amigos, cansados da truculência policial, da falta de perspectiva para um jovem pobre e negro se unem para que o sonho de montar uma rádio se torne realidade. Enfrentando o principal problema de não ter o dinheiro para comprar os aparelhos para criar a rádio, aos poucos eles vão conseguindo ajuda dos próprios moradores da favela e com essa ajuda comunitária, eles finalmente conseguem criar a rádio favela.
Apesar de abordar temas importantes, o filme em alguns momentos, soa falho na forma em que o diretor trata esses assuntos. A visão em que a polícia é tratada no filme é maniqueísta e os personagens não são bem desenvolvidos. A dicotomia bem e mal diminui a força do filme. Além da direção em que adota um tom convencional. Não devemos esquecer que no mesmo ano, o cinema nacional foi presenteado com a obra-prima Cidade de Deus, filme do Fernando Meireles, que tratou de alguns temas semelhantes, fazendo um retrato dos moradores da Cidade de Deus, além da abordagem do negro na sociedade brasileira que soa muito mais visceral e devastadora na forma como somos jogados na vida daqueles personagens.
Mesmo que falho tecnicamente, Uma Onda no Ar, é um filme que merece mais reconhecimento. Seja pelo conhecimento da rádio favela, ou por ser um manifesto de uma história de superação de jovens pobres e negros, que com todas as dificuldades encontradas em um Brasil tão desigual, lutaram para que suas vozes fossem ouvidas e que seus sonhos tornassem realidade.
Belo texto, mas o filme é fraco...