O grande clássico do Fellini, ‘’8½’’ é, sem dúvida alguma uma das obras máximas do cinema italiano. Com um roteiro que mistura devaneios e realidades, o filme nos conta a história de Guido, um atormentado e egoísta diretor que sofre com uma súbita falta de criatividade. Na obra, são expostos temas como a igreja e o processo de criação artística, com um toque bastante auto-biográfico. Ainda temos a destruição das barreiras que separam as manifestações oníricas do real, simbolismos fantásticos, atuações inspiradas e muito mais.
Uma vez que esse texto não possui intenção de abordar o filme do Fellini, essa breve introdução foi feita para dizer o que ‘’Nine’’ conseguiu arruinar. O único aspecto que este compartilha com o clássico é a excelente história, que é destruída por cenas musicais esteticamente bonitas, mas sem inspiração nenhuma e que não conseguem prender o telespectador em suas seqüências.
A história fala sobre Guido, um cineasta que passa por um período artístico ruim, e está sendo pressionado para rodar um filme, o qual ainda não possui um roteiro. Sua equipe tenta trabalhar, tentando captar as idéias embaralhadas do conturbado artista mas este se encontra confuso e já não sabe pra onde correr. Como se dá a entender, o diretor já tem um histórico de obras bem conceituadas no cenário italiano, embora a história retrate especificamente esse período ruim de sua carreira. Mulherengo, não consegue ser fiel a sua esposa, Luisa (Marion Cottilard) e a monogamia parece ser algo distante de seu julgamento moral. Possui até uma amante oficial, a sensual Carla Albanese (Penélope Cruz), fora as outras que aparecerão, como Stephanie (Kate Hudson) e Claudia (Nicole Kidman), para a tristeza de sua esposa.
Acontece que ‘’Nine’’ é um musical, e como um filme do gênero, as músicas devem ser no mínimo cativantes para fazer jus a sua denominação. Infelizmente é algo que não é visto na obra em questão. Onde está a energia e potência de ‘’Chicago’’? As músicas são fraquíssimas e deixam a desejar, e nem mesmo um elenco escolhido a dedo pode salvar o filme da derrocada inevitável.
‘’Nine’’ possui um elenco forte, com beldades como Nicole Kidman (que, por sinal, não brilha quase nada no filme), Penélope Cruz esbanjando sensualidade em mais uma das músicas sem graça, e por fim, Kate Hudson e Marion Cottilard, que são as únicas que realmente chamam a atenção no filme. A primeira pelas melhores cenas musicais, e a outra pela atuação em si, comovente, singela e sofrida.
Daniel Day-Lewis merece atenção especial, pois mais uma vez está bem caracterizado e muito bem no papel proposto, mostrando mais uma vez que é um ator bastante completo e competente (embora não seja um dos melhores cantores). O seu papel como Guido está ótimo, e cumpre o papel de passar para o telespectador a ansiedade e tormento do perturbado diretor, e talvez o ator seja um dos poucos pontos positivos dessa obra.
Entendo que Rob Marshall tentou fazer uma homenagem ao grande Fellini, e provavelmente todos esperávamos algo do nível de ‘’Chicago’’ ou melhor. Mesmo assim, ‘’Nine’’ foi uma grave pisada na bola, e o diretor entregou um musical pobre em músicas, com um elenco belíssimo e sem energia nas cenas musicais (pouco originais). Assim como Guido e seu não-filme, cabe a Rob Marshall seguir em frente, todo artista tem uma fase ruim. E deixar Fellini se debatendo de raiva lá embaixo.
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