A obra de Peter Hedges, ‘’Do Jeito Que Ela É’’ (No original, Pieces of April, título distorcido cruelmente pela tradução brasileira e que faz algum sentido se analisado junto ao filme) aborda um tema bastante comum em termo de família. Muitas vezes as diferenças acabam provocando rupturas em muitos lares, e a falta de diálogo e até de respeito e compreensão agravam divergências de posicionamentos, que podem culminar em rompimentos de laços entre familiares.
Uma das filhas, April (Katie Holmes), a considerada ovelha negra da família convida sua família para passar o dia de Ação de Graças em sua casa. Como é comum a preparação de uma ceia nessa data, April fica responsável por preparar a grande refeição, até que, na hora de preparar o peru... Descobre que o fogão está quebrado! Desesperada, a querida ovelha negra da família fica à mercê de seus vizinhos e aí a história se desenvolve.
Enquanto isso, no núcleo da família que se desloca para a casa de April, todos falam mal de April, ressaltando seus defeitos e a insatisfação de irem pra lá. Com exceção do pai (Oliver Platt), que rebate as críticas à filha, dizendo que deveriam dar outra chance a ela e esquecer os momentos ruins no passado. A mãe desdenha da filha e diz não guardar nenhuma recordação boa da mesma. No filme não fica tão claro, mas a mãe parece apresentar alguma doença terminal, o que faz com que a família tente satisfazer todas as suas vontades.
April pede ajuda a seus vizinhos, alguns ajudam de coração aberto, recebendo-a de forma calorosa e ajudando-a com dicas. Outros exigem algo em troca, indagando à personagem ‘’O que eu ganho em troca?’’. Tem até vizinho que ajuda sem precisar falar a mesma língua, como a família de orientais que a recebe. O roteiro faz um estudo interessante e divertido sobre o altruísmo do ser humano e aborda um ponto de vista positivo, na medida que April consegue ajuda da maioria dos vizinhos que pede.
O vizinho egoísta representa muito bem o estereótipo do homem moderno, que está sempre focado em si mesmo. Isolado em seu próprio mundo, com seus artigos tecnológicos de última geração (um fogão de primeira linha, novíssimo no caso). Mostra-se até um receio em lidar com outras pessoas ‘’externas’’ ao seu mundo, como quando o vizinho se refere à April, falando para seu cachorro – ‘’calma, ela não morde’’. Com humor, o diretor trata essa visão do homem moderno de forma despretensiosa mas um tanto crítica e bem colocada.
O filme ainda traz uma sequência bonita em seu final, quando há uma reconciliação e uma atitude inesperada da mãe (que não será revelada aqui, nesse texto). A ausência de trilha sonora deixa o filme com um tom cru, em April e seus pedaços deixados em cada lugar que passa. Ao final, quando consegue finalmente reunir todas essas pequeninas partes de si que deixara espalhada pelo prédio, sente-se completa ao recuperar a única parte que faltava para completá-la, sua família.
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