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Críticas

Cineplayers

Vôo United 93 pode até não ser o melhor filme do ano, mas é, dignamente, o mais importante.

7,5

Estariam os Estados Unidos prontos para verem a ferida ainda aberta pelos ataques de 11 de Setembro serem remexidas, mesmo cinco anos após os incidentes que mudaram o curso da história? Essa era a grande questão que pairava sob o filme Vôo United 93, do britânico Paul Greengrass, a respeito do fatídico dia, mais especificamente sobre o episódio do seqüestro de um dos quatro aviões por parte dos terroristas, cujo alvo era o Capitólio e que acabou sendo tomado pelos passageiros para depois cair no solo, matando todos os que estavam a bordo.

A despeito da bela recepção que o filme obteve, tanto por parte da crítica quanto do público, a pergunta que abre este texto poderia ser facilmente respondida. Mas não é bem assim. Os traumas causados por aquele dia estão mais vivos do que nunca; o medo causado pela insegurança permanece, a xenofobia é crescente, a guerra arbitrária criada pelo desvairado George W. Bush para destruir o Iraque virou uma carnificina sem prazo de validade. Enfim, 11 de Setembro não vai deixar de ser um assunto delicado por um bom tempo. É mais preciso dizer que todas as medidas adotadas pela produção do filme, tentando recriar com o máximo de fidelidade os ocorridos dentro daquele avião, que conseguiram arrancar o respeito para com aqueles que o assistem. Afinal, foram feitas exaustivas entrevistas com familiares e amigos dos cerca de quarenta passageiros e tripulantes que estavam a bordo; dossiês de cada um foram confeccionados, constando personalidade, como reagiram – grande fonte de pesquisa foram as ligações telefônicas que estes fizeram com o avião sob ataque, o que vestiam e toda uma sorte de informações. 

Um belo trabalho da equipe de pré-produção, que demonstra extremo cuidado por parte dos realizadores do filme em mexer em assunto tão espinhoso. Nada com que eles já não tivessem experiência, pois brincaram com barril de pólvora antes com Domingo Sangrento, belíssima dramatização do protesto feito por irlandeses em busca de direitos civis que acabou em massacre pelas tropas britânicas em 1972.

O tom documental que Greengrass já tinha empregado com grande impacto em Domingo Sangrento volta a ser utilizado em Vôo 93, com mesmo efeito. A câmera age como se fosse uma mera observadora dos eventos que vão sendo mostrados, e acaba levando o espectador a uma imersão que talvez ele não esteja preparado – e esse é o grande trunfo da técnica. Não há desnecessários desenvolvimentos de personagens; apenas suas ações são mostradas, o que aumenta ainda mais o choque pela ação, e não por recursos manjados.

O roteiro, do próprio diretor, opta por duas narrativas paralelas que discorrem em tempo real. Uma apresenta o embarque dos passageiros, o vôo e a tomada do avião pelos terroristas. A outra se prende à cabine de controle de vôos, funcionando como uma espécie de grande apresentação cronológica de todos os eventos e também como os olhos dos espectadores diante dos fatos. Uma pena que esta parte se alongue mais que o necessário e se torne por demais cansativa.

Quando os passageiros do vôo fazem a escolha de tomar o avião, selam o próprio destino e se tornam heróis de um episódio sobre o qual não houve vencedores. O que nos leva a reflexão de tudo o que está por debaixo deste episódio: o que há de pior e melhor na humanidade. Por tudo isso, Vôo United 93 pode até não ser o melhor filme do ano, mas é, dignamente, o mais importante.

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