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Volume Morto

(Volume Morto, 2019)
5,8
Média
6 votos
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Sua nota

Críticas

Cineplayers

Volume alto demais

4,5

Ainda na seara das inexplicáveis aquisições e atitudes da curadoria de Brasília esse ano, o filme de Kauê Telloli tá alguns degraus acima de Loop, mas ainda fica difícil imaginar esse filme sendo selecionado não fosse a equipe desse ano tão defensora de um cinema comercial sem desdobramentos. Um suspense feito para agradar espectadores das salas multiplexes e deixá-los com uma sensação de ter visto algo surpreendente, Volume Morto tem potencial para encontrar um público que o adule, o que não é o caso de um pensamento crítico ligeiramente pouco mais evoluído e aí se incluiria também o próprio público que exigir mais dos produtos que consome. 

Moldado por uma trilha sonora irritante e onipresente que interfere em qualquer mínima emoção e antecipa as ações, o que só piora as situações, o filme se passa praticamente num único cenário: uma sala de aula vazia. A professora de inglês Thamara (Fernanda Vasconcellos) chamou os pais de Gustavo para conversar sobre a criança, que enfrenta, literalmente, problemas de comunicação. À medida que as intenções tanto da professora quanto dos pais vão se mostrando cada vez mais nebulosos (e suas atitudes incompreensíveis, e estúpidas, e disparatadas), o filme assume sua porção suspense psicológico de vez nesse clima de teatro filmado.

Embora a direção de Telloli dê mobilidade ao espaço e elenco ínfimos, o filme passeia quase sempre entre o redundante e o inofensivo no troca troca de possibilidades vilanescas entre seus poucos personagens, e mesmo a duração reduzida (75 minutos) parece exacerbar os limites da trama, que é muito rala. A montagem de Leonardo Gusmão e Bruno Austran imprime ritmo ao projeto, mas o roteiro carece de fôlego que mantenha a atenção e a paciência intactas diante das acusações e agressões cometidas de parte a parte, resultando num material cada vez mais vazio de motivos e que se despede com mais dúvidas que respostas - e nem são elipses ou lacunas, mas vácuos narrativos.

Além das questões técnico-narrativas, o filme ainda flerta com um machismo corroborado por personagens femininas na reta final muito estanho de encarar, ainda que o plano que observa o elenco baixando o olhar pra não ver o horror a sua frente seja bem pensada e instigante, abrindo uma porta de debate que poderia levar o filme para um contexto moral a respeito da anuência daa vítimas a seus algozes. Mas um epílogo que sugere uma nova observação sobre os eventos apresentados no filme, incluindo um personagem diferente culpabilizado pelos atos cometidos como uma espécie de liderança intelectual, desanda os aspectos morais que o filme poderia ter pensado em construir. 

Exagerando no tom apresentado desde o início, sem qualquer sutileza para construir os caminhos escolhidos pelo roteiro, Telloli parece ter pulso pra conduzir uma atmosfera mais explícita, tendo em vista a mão pesada com que delineou os eventos e o tom do material. Nesse segundo longa, as questões que poderiam conferir um verniz mais denso ao projeto foram sabotadas para criar um filme mais acessível, ainda que o roteiro não dê conta de amarrar todos os pontos frouxos da produção. Nem o elenco tem espaço pra realizar algo, pois o autor esteve mais interessado em criar situações do que necessariamente relevo dos agentes das mesmas. Com isso, Volume Morto é um passatempo indicado apenas se estiver em busca de emoções rápidas, porque suas inserções psicológicas ficam a dever quando o filme deveria explorar suas nuances.

Crítica da cobertura do 52º Festival de Brasília

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