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Loop

(Loop, 2019)
5,0
Média
3 votos
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Sua nota

Críticas

Cineplayers

Vai e volta

4,0

Para começo de conversa, não é culpa de Bruno Bini estar na competição do Festival de Brasília. Com uma curadoria que parece ter se desdobrado para mudar a cara da seleção tipicamente esperada para o mais importante festival do país, a competição abriga polêmicas políticas, bons filmes com a cara de Brasília (eles não podiam destruir tudo) e seleções incompreensíveis, no que Loop se encaixa. Diferente de Alice Junior, não há um motivo muito claro para a seleção do filme de Bini, mas, como dito no início do parágrafo, nada disso é culpa dele ou de seu filme, que não passa de um passatempo blockbuster na linha de Efeito Borboleta — e todos os outros filmes sobre viagem no tempo para consertar certas viradas do destino com alguma chancela aberta a respeito do banditismo e do "olho por olho, dente por dente".

Enquanto material de consumo rápido, Loop é atraente em seu pacote, mas não oferece emoções baratas suficientemente exploradas antes para criar uma relevância, mesmo que dentro de sua seara. Sem dúvida, é uma produção que prende a atenção do início ao fim, sedutora do ponto de vista narrativo, bem realizada enquanto produção, mas que passeia por lugares que o próprio cinema de entretenimento já passeou, inúmeras outras vezes, com resultados se não superiores, ao menos já vistos antes, o que obviamente tira o vigor do projeto, tendo em vista que já acompanhamos aquele desenrolar com certo conforto. E tendo em vista que o produto tem semelhança com outros de conhecimento amplo, sem qualquer restrição de nicho, esse sentimento perpassaria qualquer público, e não apenas o crítico.

As intenções de Bini são válidas para o cinema de consumo ligeiro, onde questões mais densas não necessariamente fazem o recheio de um produto de larga escala. Nada contra esse tipo de realização, inclusive o cinema foi construído para entreter as massas, mas o que vemos em Loop é uma apropriação de signos já utilizados à exaustão em outros produtos. Nessa reimaginação abrasileirada das tramas com viagens no tempo, nas quais um personagem precisa consertar os próprios erros voltando inúmeras vezes ao passado, a produção acaba por deixar para trás conceitos lógicos dramático-narrativos para que a suspensão da descrença seja constantemente utilizada para benefícios da fruição do todo. 

Até aí, nada que essas tramas não acessem a todo tempo, com iguais propósitos. O problema aqui é com a sensação de que conceitos morais foram acessados de maneira enviesada, e que poderiam criar uma associação politicamente reprovável em todo o projeto, como questões ligadas ao comportamento nocivo que o protagonista vai adquirindo conforme avança a narrativa, sem que jamais seja feito um julgamento de valores em cima de questões terríveis, a ponto de reprovar toda a linguagem apresentada. Sem desenvolver spoilers, o longa vai retirando as ambiguidades das atitudes de seu personagem central, quando começa a horizontalizar essas atitudes a cada vez mais personagens, sem que qualquer debate interno ocorra, apenas todos ali agem em concordância cada vez maior.

Incorrendo inclusive em ações cada vez menos justificáveis no que concerne a lógica da própria narrativa, o elenco não consegue desenvolver seus estofos dramáticos a contento, sendo inclusive expostos a diálogos expositivos, como na cena do reencontro dos irmãos no hospital depois de certo acidente; Bruno Gagliasso e Branca Messina não têm muito a fazer, porque credibilidade não há ali. Os atores parecem não acreditar ou se importar muito com o que é desenvolvido, mas talvez ninguém seja mais prejudicado que Nikolas Antunes, e que apenas o acesso ao filme por parte do espectador possa compreender.

Se a tendência de Bruno Bini no futuro for realmente acessar o cinema através da lógica do cinema de mercado amplo, seria necessário também entender que lugares acessar e em que momento acessar para complexificar seu roteiro, sem precisar abrir mão da lógica na própria cartilha criada para o seu material, nem incorrer em ações que, mesmo sem querer, esbarrem em questões relevantes, como o machismo normatizado ou a pena de morte, sem motivar uma mínima reflexão moral.

Crítica da cobertura do 52º Festival de Brasília

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