Filme baseado em fatos reais que nos transpõe denso mosaico acerca da vida e obra, por assim dizer, de Idi Amim, ditador Ugandense na década de 70, focando por sobre vários aspectos ditatoriais gerais clássicos tanto como variadas idiossincrasias próprias para com as condições (propriamente mentais suas) sociais e econômicas de seu país.
Idi Amim para com seus déspotas predecessores ou não, nos mais variados regimes autoritários pelo globo; em termos gerais: personificante, cínico, poderoso, e, por vezes, encantador. Ditador de Uganda. Assim como sua paranoia de sempre estar sendo traído por seus asseclas, e a busca por uma ajuda em um comprometimento paradoxal com seu médico como figura a lhe aconselhar em momentos dificultosos, Amim vem a ser construído como figura difusa e inconstante. Sempre em conflitos de personalidade que tornam como insegurança paranoica uma faceta de caráter assustadora vista que a solução é sempre a exclusão e o massacre do que quer que sejam suas dúvidas. O grande mote do filme é mostrar esta figura como meramente humano com características que vão do doentio ao terno e simpático e não somente um androide que personifique um mal maniqueísta desde o início de sua aparição. É aqui que o mesmo se mostra tão mais perigoso. Um ser humano capaz das mais variadas atrocidades, mostrado como o é: com medo, alegria, raiva, dúvida (a velha e capciosa dúvida) e violência (mesmo que por olhares brancos).
Eu cito a dúvida sempre por ser um governo altamente personalista que necessitar-se-ia sim de uma equipe que viesse a fomentar suas decisões e promulgar sua função de controlador (devido aos perigos coletivos) e protetor da pátria. Porém o desmembramento de seus partidários, onde o que viria a sobrar majoritariamente seria uma forte milícia que teria como função massacrar como forma de controle governamental; deixaria poucos conselheiros ao alcance e ao agrado de Amim. Toda esta estrutura fora fomentada por sua personalidade complexa e excludente onde a paranoia sempre prevalecia e o caráter sanguinário como correto e justo seria concatenado como justificável por um déspota.
Dirigido com cautela e sem caracteres ufanistas ou salvacionistas por Kevin Macdonald, se mostra como um relato de regime autoritário que visa um encaixe em aspectos mais autoritários de seu líder, algo tentado pelo mesmo, e que conseguira fechar seu país nisso. Não que os olhares ocidentais estivessem preocupados com morticínios existentes para além das oportunidades de acusação que os mesmos ensejassem, mas ali teve um troço mortal de dessabores brutais.
Material de direção segura, dando bastante espaço para o brilho de sua dupla principal de atores (inteligência coerente ao moldar seus personagens principais em embates constituídos mediante a construção cênica no duelo de suas personalidades) Macdonald acerta ao expor o convívio destes dois se deteriorando de maneira gradual desde o encantamento inicial à destruição total de valores morais, sociais e éticos de Amim visualizados por seu médico escocês Nicholas – em tensa atuação de James McAvoy. Aliás ponto interessante o tratamento do diretor a este personagem, que de início pacifista e com boas intenções, sem deixar de possuir um boa dose de ingenuidade, onde aqui há um óbvio tratamento do branco colonialista bondoso se metendo em um vespeiro desconhecido na crença de uma mudança estrutural em tal ambiente por sua presença. Este tornar-se-ia um ser desanimado pela falsa motivação inicial e sim um soldado da providência, buscando salvar-se fugindo do abismo moral violento que o separava de Amim, e claramente fugindo da responsabilidade de ter sido engabelado. Obviamente.
Idi Amim. Forest Whitaker. Uma atuação impecável pra fazer história no cinema norte-americano de um personagem tanto detestável quanto sensacional. Do encanto à frustração logo seguida pela violência absurda de maneira natural e transposta cruamente, diante de sorrisos e gritos onde sempre permeiam os direcionamentos cruéis duvidosos, e nunca claros de Amim, o que sempre valoriza ser um humano, abjeto, mas sim, humano que ele é. Sua dúvida acaba pela utilização da violência sem remorso, apenas como resolução de uma problemática, pra conter um devaneio paranoico. E Forest passa por toda esta estrutura humana membranosa atribuindo todos estes elementos de forma catártica, negativamente ou não para alguns, onde na cena em que Amim quase é assassinado ao carro com Nicholas ele inicialmente se prostra como um justiceiro que fora incumbido de salvar o país e o fato de sê-lo dá-lhe o poder e o direito de ser um carrasco escroto. Um ser transformado em, rapidamente e naturalmente, em criatura desprezível. São estas transformações confusas de Amim que Whitaker controla magistralmente, e que dão ao personagem um caráter perigoso e definido como crápula humano.
A parte técnica no que tange, principalmente, a fotografia e edição cumpre sua função ao moldar uma estrutura cada vez mais negativa e fervente ao redor de Amim, causando momentos claustrofóbicos e violentos de natureza extremamente crua, como na cena onde uma de suas esposas é encontrada aos pedaços no hospital por traição. Extremamente representativa do que foi capaz Idi Amim. Ótima trilha sonora que segue o embalo negativo do filme brincando com o espectador, gradual e lentamente como um sapo em uma panela de água morna, matando lentamente, de maneira absorta, real de forma a só contemplar a vil desgraça humana projetada até então.
Violento, escroto, de visão ocidental colonialista, grosseiro, tenso, brutal, boçal, visceral, doentio, perigoso, denso, nevrálgico, seboso, em pedaços, fascistóide, atual, mentiroso, verdadeiro, zuadento, de falsa calma, realista, sensacional, sensacionalista, humano, cinema demais.
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Ajustado!