Conhecido por muitos como o clássico definitivo dos western, o filme permanece intocável quatro décadas depois do lançamento.
O clássico máximo do gênero western. Engraçado é o fato de não possuir John Wayne em seu elenco. Mas tem Clint Eastwood, então estamos em boas mãos. O fato é que o filme dirigido por Sergio Leone, hoje, praticamente 40 anos após seu lançamento, pode ser considerado intocável. Este é o melhor trabalho que explica o tão simples e ao mesmo tempo tão deslumbrante gênero conhecido aqui no Brasil popularmente por "bangue-bangue". Há de tudo: o deserto, o confronto de pistolas, os bandidos e mocinhos sujos e barbados, cavalos, prostitutas... faltaram talvez as diligências. Mas o que realmente faz desse filme o mais especial desse gênero hoje já praticamente abandonado?
Chamar Sergio Leone de mestre dos faroestes é baba! É óbvio! Fica até chato. Alguns sempre ficarão do lado de John Ford. Mas ninguém foi tão regular como o diretor italiano. Aqui, ele demonstra estar tecnicamente perfeito. Sua sede pelo perfeccionismo em seus enquadramentos é assustadora. O duelo final, então, envolvendo o Bom, o Mau e o Feio, serve como uma perfeita síntese de toda a emoção e maravilhas que um bom bangue-bangue pode proporcionar. São aproximadamente cinco minutos - a impressão que se tem é que passa-se uma eternidade - entre olhares, suor escorrendo, mãos preparando-se para empunhar o revóver... Os cortes acompanham a crescente tensão que um espectador que se deixa levar pode sentir juntamente com os personagens: vão ficando mais rápidos e nervosos à medida que o momento do clímax vai se aproximando. Pode ser agora, pode ser agora... foi! Tudo, no final, resume-se a um ou a dois tiros, mas a jornada até ali valeu muito.
O filme não é fácil! Não possui um estilo comum. Os 10 minutos iniciais, aproximadamente, não possuem uma fala sequer. Leone gasta-os para montar o clima, apresentar seu mundo - nada agradável para os olhos - e alguns de seus personagens sujos e fétidos. Até a história estar completamente formada, passa-se mais de uma hora de projeção. Descobrimos finalmente que há um tesouro enterrado em um cemitério. A localização está dividida na cabeça de três sujeitos diferentes: os já citados Bom, Mau e Feio (seus nomes são irrelevantes para a trama), interpretados respectivamente por Clint Eastwood, Lee Van Cleef e Eli Wallach. Apesar dos nomes, não há mocinhos no filme todo. Os três roubam, trapaceiam e querem realmente achar o tesouro a qualquer custo. Eastwood, obviamente pelos seus traços mais requintados (seu apelido é "Blondie" no filme, ou "Loirinho", segundo a dublagem brasileira), acabou ganhando a conotação de "bom".
Os três personagens são absolutamente perfeitos para a história. Suas interpretações são também incríveis. Por mais que muitos críticos insistam que o gênero não costumava ser muito forte em termos artísticos - afinal, são só um bando de machões falando palavrões e atirando uns contra os outros - este filme pode ser analisado como muito forte nessa categoria. Possui sentimento, raiva, comicidade (sempre em momentos oportunos). A maneira canastrona de Eastwood é de arrepiar. O modo desajeitado e sem educação de Eli Wallach (muitos consideram este o papel de sua carreira) como o bandido Tuco - o Feio - fazem deste uma antítese perfeita à classe de Eastwood. Lee Van Cleef, como o Mau, consegue ser assustador em cena para os outros personagens. O filme não mede palavras e ações, há um nível de violência razoavelmente acentuado até para os dias de hoje, o que o torna, de certa forma, mais realista, pelo menos ao tentarmos imaginar como realmente era o Velho-Oeste.
A busca pelo tesouro pelos três personagens é somente um dos temas abordados pelo roteiro. É a parte mais divertida, mas a história foi encaixada no meio da Guerra Civil norte-americana (segunda metade do século XIX) de uma forma muito interessante. No meio da jornada dos personagens, estes se deparam com soldados e acabam entrando no meio da batalha, onde mais de mil extras foram utilizados nas filmagens. Uma outra curiosidade é o fato de Orson Welles ter sugerido a Sergio Leone não utilizar o contexto da Guerra Civil no roteiro, devido ao fato desse tema ser um fracasso de bilheteria naquela época. Que nada! O filme arrecadou muito mais de dez vezes o que custou. Obviamente não daria para esperar um grande aprofundamento no tema (o filme não é sobre a guerra), bem pelo contrário, os personagens "brincam" de serem soldados somente com o propósito de chegarem mais perto de sua meta final.
O tema musical de Ennio Morricone hoje é uma das músicas mais lembradas da história do cinema. Serviu e ainda serve para dezenas de paródias - muitos conhecem a música sem sequer terem ouvido falar do filme. Isso acontece muito raramente - 2001: Uma Odisséia no Espaço me vêm à cabeça nesse momento. Inspirado pelo uivo dos coiotes, o tema reflete a força das imagens e dos personagens de Leone, sempre tocado em momentos-chave do filme. O resto da trilha sonora também funciona de forma bastante apropriada, embora não haja algo tão interessante do que a música que Morricone compôs para ser o tema central do filme. Nem de perto!
Três Homens em Conflito não está livre de algumas imperfeições. Elas serão sentidas em maior ou menor proporção dependendo de cada espectador. Há muitos que repudiam o gênero western. Não vêem nada nele além de um conjunto de diálogos forçados e tiroteios baratos. Vendo da superfície, isso também vale para o filme de Sergio Leone. Porém, a construção da história é um pouco mais sofisticada que a média desse tipo de filme, não sendo muito linear e apresentando algumas pequenas reviravoltas interessantes. Por vezes, ele torna-se arrastado demais (não necessariamente a sequência inicial que não possui diálogos), e para a história configurar-se clara ao espectador demora um bocado. Finalmente, fora os três personagens principais, todos os coadjuvantes são deveras subdesenvolvidos. Mas, no final das contas, isso pouco importa, afinal os personagens principais preenchem o longo período do filme de maneira que não há necessidade de se ter grandes coadjuvantes.
Este filme encerrou a trilogia do diretor conhecida por Trilogia dos Dólares, formada também por Por um Punhado de Dólares e Por uns Dólares a Mais. Sergio Leone faria ainda na década de 1960 um outro western, Era Uma Vez no Oeste. Porém, embora mais rico em narrativa e desenvolvimento dos personagens, não é um filme tão divertido e completo quanto este (embora seja mais sério e forte). Três Homens em Conflito (o título ficou mau no Brasil, o que não é nenhuma novidade), permanece, então, como seu melhor filme do gênero (embora todos eles de maneira geral sejam excepcionais e muito acima da média). Um filme que sobrevive já há mais de uma geração e que, enquanto o cinema existir, continuará sendo lembrado. Mesmo sem John Wayne no elenco - o astro máximo desse tipo de filme - este é o faroeste definitivo.
"faltaram talvez as diligências"
Isso é coisa mais de Western americano. Western Spaguetti carrega uma imagem beeem diferente - começando pelos personagens, que, diferente dos americanos, são sujos (enquanto nos americanos os homens são bem limpinhos, de barba bem feitinha, etc). Não dá para misturar o faroeste italiano com o doas EUA...
Se esse filme não ganha nota 10, qual ganha?
Obra master.