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Todos Dizem Eu Te Amo

(Everyone Says I Love You, 1996)
7,2
Média
230 votos
?
Sua nota

Críticas

Cineplayers

Love is in the air.

8,5

Woody Allen é um cineasta de homenagens. É possível notar em quase todos os seus filmes alguma referência honrosa a uma pessoa, lugar, filme, ídolo ou música. Em Manhattan (idem, 1979) ele faz uma escancarada declaração de amor à sua cidade querida; em Interiores (Interiors, 1978) há claras referências ao cinema de seu ídolo confesso, Ingmar Bergman; em Memórias (Stardust Memories, 1980) Fellini é o grande homenageado da vez; A Rosa Púrpura do Cairo (The Purple Rose of Cairo, 1985) apresenta uma singela homenagem ao próprio cinema; Billy Wilder, Roman Polanski, Alfred Hitchcock e Orson Welles ganharam a atenção de Allen em Um Misterioso Assassinato em Manhattan (Manhattan Murder Mystery, 1993); Neblina e Sombras (Shadows and Fog, 1991) marca a vez do cineasta se aventurando pelo Expressionismo Alemão; e em O Escorpião de Jade (The Curse of the Jade Scorpion, 2001) Allen escolhe o filme noir para enaltecer.

No caso de Todos Dizem Eu Te Amo (Everyone Says I Love You, 1996), Allen decide homenagear os musicais ao estilo da velha Hollywood e, de quebra, incluir nessa lista de homenageados o sentimento mais constante no cinema: o amor. É de conhecimento de todos que não há gênero mais capaz de potencializar, engrandecer e florear o amor do que o musical, e é por isso que neste filme não há espaço para comedimento ou vergonha – tudo é escancarado, com personagens cantando aos quatro ventos pela rua, dançando ao lado de pedestres desconhecidos uma coreografia impecável, sofrendo em rimas suas desilusões amorosas, e voando (literalmente) no embalo de uma bela canção. Ao decidir optar por esse caminho, Allen acaba encontrando nessa pieguice uma maneira de enriquecer sua forma dinâmica de contar histórias.

Como se trata de uma homenagem descompromissada e leve, Allen abre mão de seu realismo pessimista característico ao abordar os relacionamentos amorosos. A trama é lotada de personagens, cada qual representando um tipo de amor diferente, mas todos sempre dispostos a arriscar uma chance com o algoz dos corações. Skylar (Drew Barrymore) e Holden (Edward Norton), por exemplo, formam o típico casal jovem apaixonado que planeja um futuro casamento, sendo o rapaz um tanto mais empolgado com a idéia do que a moça, que prefere sonhar ainda com príncipes encantados. Já Steffi (Goldie Hawn) e Bob (Alan Alda) representam aquele amor mais maduro e longevo, agora que estão comemorando mais um ano de casamento feliz. Joe (Woody Allen), ex-marido de Steffi e melhor amigo de Bob, é um cara que está sempre à procura do amor, mas parece nunca conseguir encontrá-lo. Von (Julia Roberts) é uma historiadora sensível que sonha em viver um tórrido romance extraconjugal, mas que se mostra insegura e culpada demais para arriscar a estabilidade do seu casamento. Lane (Gaby Hoffmann) e Laura (Natalie Portman) são duas irmãs pré-adolescentes que disputam a atenção do garoto mais bonito do bairro. E Djuna (Natasha Lyone), nossa narradora e filha de Steffi e Joe, é uma jovem que se apaixona e desapaixonada por vários caras como quem troca de roupa.

Através desses tantos personagens e tramas podemos notar a dinâmica típica de um trabalho de Allen, com direito a muitas neuroses, idas e vindas, troca de casais e desilusões amorosas. O toque diferencial está na forma como todo esse ritmo se modifica quando o amor entra em pauta. No meio de tantas histórias acontecendo ao mesmo tempo, tudo pára e fica de repente mais lento, mais romantizado, quando um dos personagens decide falar de seus sentimentos através de uma canção. Nesses momentos tudo parece um romance ao estilo de Doris Day e Rock Hudson, ou mesmo Fred Astaire e Ginger Rogers. É então que Allen se deixa levar pelo seu lado mais cafona e abraça de vez o gênero que decidiu homenagear.

Allen pediu para que seus atores cantassem como se estivessem no chuveiro, e até quis que Goldie Hawn cantasse um pouco pior para que seus números musicais não ficassem artificiais. Afinal, mesmo com todo o romance e toda a firula, se trata de um trabalho moderno, e os sentimentos dos personagens pareceriam muito mais reais e intensos se cantados sem muita preparação. Quem se deu bem nessa história foi Edward Norton, que protagoniza alguns dos números musicais mais inspirados e se mostra versátil como sempre. Julia Roberts também aproveita bem a oportunidade de encarnar a personagem mais típica de Allen na produção, cheia de neuras e complicadíssima – e foi quem mais seguiu à risca a instrução de cantar como se estivesse no chuveiro (sua cantoria é desastrosa). Mas quem realmente chama a atenção é Goldie Hawn, ao lado de Allen, na belíssima canção I’m Through With Love (aquela mesma interpretada por Marilyn Monroe em Quanto Mais Quente Melhor [Some Like it Hot, 1959]), à beira do rio Sena na noite de réveillon parisiense, no melhor e mais inspirado número musical da produção. As locações – Nova York, Paris e Veneza – completam o cardápio de um autêntico filme romântico.

Todos Dizem Eu Te Amo pode parecer menor ou um tanto mais inofensivo que alguns trabalhos conceituados de Allen, mas seu público e objetivo são outros. Poucas vezes o cineasta fugiu tanto de sua zona de conforto, e o resultado é mais uma de suas deliciosas homenagens, feita especialmente para se assistir a dois. É um trabalho voltado para todos os românticos incorrigíveis, e para todos que já disseram ou ouviram aquelas três palavrinhas mágicas que fazem qualquer coração bater mais forte. Não preciso nem dizer quais são, não é?     

Comentários (13)

Heitor Romero | sábado, 16 de Junho de 2012 - 10:59

ah obrigado *_*. Eu usei o termo cafona, mas no sentido de ser aquela coisa à moda antiga, romantizada, ultrapassada e que hoje não se vê mais. E eu sou um dos únicos que coloca esse filme entre os meus preferidos de Allen, deve ser um dos meu feel good movies preferidos haha.

Vlademir Lazo | sábado, 16 de Junho de 2012 - 15:36

O Heitor deve amar a Julia Roberts, isso provavelmente influi na adoração dele pelo filme rs.

Heitor Romero | sábado, 16 de Junho de 2012 - 21:23

Rs, é um sonho ver Allen dirigindo e atuando com ela, não posso negar que isso influencia na minha admiração pelo filme hehe.

Daniel Mendes | sábado, 16 de Junho de 2012 - 21:24

Sinto muito Patrick, mas eu já perdi as contas de quantas foram as vezes que o cinema tratou o amor de forma cafona em diversos filmes, alguns tidos até como obra primas...me recuso a falar o nome para que não venha alguém me importunar.😉

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