Uma história bastante engraçada em sua primeira metade, mas que apela para estereótipos e sentimentalismo barato na conclusão.
A parceria de ouro da Dreamworks vem resultando cada vez mais em bons frutos. Depois dos ótimos O Resgate do Soldado Ryan e Prenda-me Se For Capaz, Spielberg e Tom Hanks voltam a trabalhar juntos no novo filme do diretor, O Terminal. Assim como Prenda-me Se For Capaz, O Terminal é inspirado em uma história real, porém com menos brilhantismo e uma força descomunal por parte de Spielberg e do roteiro para tentar levar as pessoas às lágrimas. Supreendentemente hilário e criativo durante sua primeira hora, é decepcionante ver que em sua segunda parte o filme cai pro sentimentalismo barato, transformando tudo em que havia sido criativo antes em caricaturas clichês, de ritmo lento e conclusões insatisfatórias.
Tom Hanks é Viktor Navorski, um homem normal que viaja de sua terra natal, a fictícia Krakozhia, para os EUA. Ao chegar, as autoridades americanas se encontram com um grande problema em mãos: enquanto voava, Krakozhia sofreu um golpe de Estado e teve o seu poder tomado, perdendo assim o seu reconhecimento de nação por parte dos EUA. Viktor então é, sem culpa alguma, prejudicado por um grande problema diplomático: não pode voltar ao seu país de origem, já que ele teoricamente não existe mais e está em guerra, e não pode pisar fora do aeroporto, pois não tem visto para entrar nos EUA. Sem nada a fazer, ele acaba por tacar a vida para a frente ali mesmo, no terminal do aeroporto internacional de Nova York.
Baseado na história real do iraniano Merhan Nasseri, que viveu 16 anos no aeroporto Charles de Gaulle na França, Spielberg consegue criar uma história surpreendentemente engraçada e divertida, pelo menos até a sua metade. É hilário ver os problemas de Viktor para entender tudo o que passa ao seu redor, o modo como ele cumprimenta o guarda todo feliz enquanto este diz que ele terá de ficar no aeroporto provisoriamente, o modo como começa a falar inglês, como ganha dinheiro para sua alimentação. Enfim, nesta parte do filme tudo é muito criativo, engraçado e bem interpretado. Há umas apelações para os clichês tradicionais de comédias, com piadas excessivamente físicas, como personagens que escorregam e se machucam aqui ou ali. A graça está mesmo nos diálogos inteligentes das situações bem exploradas, como quando o diretor do aeroporto, Frank Dixon (Stanley Tucci) tenta convencer de que se Viktor demonstrar medo ao retornar ao seu país tudo para que tudo se resolva mais fácil.
Só que todas essas flores acabam na segunda metade do filme, quando tudo começa a se resolver e os estereótipos, até então raros no filme, começam a ser usados em demasia e até mesmo sem necessidade. A aeromoça que havia conhecido no início, Amélia (Catherine Zeta-Jones), se torna uma paixão para poder ficar mais fácil de emocionar o público (apesar de que a conclusão desta sub-trama é bem satisfatória), os motivos que revelam o interesse da viagem de Viktor aos EUA são bem insatisfatórios (quando disse que Spielberg e o roteiro apelam, me referi diretamente a esta parte da história), o diretor do aeroporto deixa de ser um personagem egoísta com uma bomba relógio nas mãos e se transforma em um vilão tradicional que só pretende atrapalhar o protagonista (no início ele queria se livrar de Viktor, depois passa a querer ferrar com ele, só que tudo soa muito forçado nessa segunda parte), e o ritmo fica mais lento devido as piadas não serem mais utilizadas para que a história ande.
Somando isso tudo à alguns pequenos furos no roteiro (para que diabos Viktor tentou ligar apenas uma vez para casa? Se o diretor contratou um cara para recolher os carrinhos e Viktor parar de ganhar dinheiro com isso, por que não deu um jeito de expulsá-lo do portão 67?), quase que Spielberg pôs tudo a perder. Toda essa previsibilidade seria perdoada caso ele posuísse um clima que o sustentasse, só que esse final fica realmente meio desinteressante e arrastado. Pelo menos tudo se fecha direitinho e sem apelação.
Tom Hanks acaba se destacando sob o resto do elenco, uma vez que interpreta um estrangeiro, sem sotaque irritante e de maneira muito convincente, com a competência de sempre. Catherine é clichê boa parte do tempo, mas consegue se safar na conclusão de sua história. Já Tucci tem justamente o efeito contrário: começa de maneira brilhante e termina de modo clichê e caracterizado – solução fácil e desnecessária, por sinal. O elenco de apoio também não tem muito o que fazer e se limitam à interpretações mais fáceis e funcionais, explorando o lado cômico tradicional das excentricidades de suas personalidades. Na medida do espaço que o roteiro lhes proporciona, fazem um bom trabalho.
O resultado final acaba sendo positivo pela diversão extrema que ele proporciona. A conclusão tem suas falhas e, de um modo geral, O Terminal fica aquém aos últimos trabalhos de Spielberg, mas ainda assim uma boa pedida em um dias daqueles, de stress e cansaço do trabalho, por ser leve e divertido. Bem produzido, com ótima fotografia, roteiro e interpretações, tem como mais uma de suas virtudes conseguir ter um bom trailer, chamativo e interessante, sem precisar estragar todas as piadas do filme. Hoje em dia, isso é um enorme feito.
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