A primorosa água virtual não é suficiente para fazer desta uma boa animação: os personagens são totalmente desinteressantes.
Apesar de ser recheada de tentativas divertidas de entreter o público, e contando com a água virtual mais realista já vista em “desenhos animados” no cinema, a animação Tá Dando Onda não passa de um esforço desgastado e sem qualidades positivas aparentes senão as qualidades técnicas. Funciona como diversão para as crianças, e os adultos podem até rir uma ou outra vez, mas é inegável o fato de o filme ser muito limitado em termos de originalidade. Todas as suas piadas são recicladas de outras animações, e a sensação que muitos espectadores terão é a de já ter assistido algo muito parecido recentemente. A dupla de diretores até tenta inovar, apresentando a história como uma espécie de documentário sobre o mocinho, Maverick, mas é muito pouco para fazer qualquer pessoa que já tenha visto um número razoável de animações ir correndo assistir a mais esta.
Quando falei na falta de originalidade, até desconsiderei que a animação é mais um filme a utilizar-se de pinguins, que vêm fazendo sucesso nos últimos anos com Happy Feet e, principalmente, o documentário A Marcha dos Pinguins. Neste caso, na realidade, poderia ser qualquer espécie de animal a estrelar Tá Dando Onda, não há um motivo especial para que o filme devesse ser sobre pinguins surfistas, o que demonstra a falta de identidade própria (leia-se: esta é uma animação extremamente genérica). A moral da história também é rasíssima: o grande personagem que deveria servir de exemplo às crianças, Big Z, desistiu de competir pelo simples fato de ter perdido uma única competição. Não há um motivo mais importante ou instrutivo, e a mensagem é bastante estúpida: se perder, você já era! E ninguém deveria dizer que aquela espécie de redenção que ocorreu no final foi uma boa lição de moral.
A versão a que assisti era uma versão dublada e regionalizada para o Brasil, ou seja, nosso herói, Maverick, veio de um lugar chamado “Frio de Janeiro”, por exemplo, e os competidores do campeonato de surfe vieram da Bahia ou do Pantanal. É bom para as crianças se identificarem com o que se passa na tela, embora seja ruim para quem gosta de ver o material original preservado (por mais medíocre que este seja). Os personagens, porém, vivem de gírias repetitivas e cansativas, fazendo dos surfistas meros estereótipos que só pensam em água e em vida fácil. No início é bonitinho, mas logo a sensação de falta de conteúdo toma conta, e o que fica é um filme evidentemente sem nada de concreto a apresentar, a não ser um ato final bobinho e fácil de prever.
Se o roteiro é ruim e sem qualidades, o mesmo não pode ser falado a respeito da animação. Como eu já havia comentado, a qualidade da água apresentada é impressionante. A impressão que se tem é que os animadores misturaram imagens reais junto da animação dos animais. Algumas cenas dão ao espectador um gostinho da sensação de pegar um tubo em uma onda gigantesca e isso acaba sendo o melhor aspecto do filme. O mesmo não se pode falar da trilha sonora que, apesar de apresentar músicas razoáveis aqui e ali, passa praticamente batida e nos momentos mais importantes da história somos apresentados às mesmas melodias de sempre.
Tá Dando Onda acaba ficando em um escalão inferior de animações. Um filme extremamente banal, apesar de ter um visual divertido e qualidades técnicas primorosas. Seus personagens são vazios e desinteressantes (não imagino nenhuma criança desesperada por um boneco de Cadú Maverick após a sessão). Desinteressantes como a história, que é previsível até dizer chega. Há boa quantidade de humor visual para entreter as crianças, e creio que isso tenha satisfeito os produtores. Bom para eles, mas para quem gosta de ver cinema com algo a mais, não vai encontrar nada interessante nesta animação.
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