Uma sequência muito boa para a epopéia do agente sem memória, ainda que inferior ao original.
Quando escrevi sobre A Identidade Bourne, fechei a matéria com um “recomendadíssimo!”. De fato, aquele filme foi um dos grandes destaques do gênero thriller de ação e espionagem dos últimos anos, possuindo um belíssimo roteiro e um herói muito caristmático, ainda que sofresse de falta de memória. E como havia sido um grande sucesso de bilheteria (outro ponto destacado naquela matéria), foi sem surpresa que a sequência logo fora anunciada. A Supremacia Bourne segue o mesmo estilo do seu antecessor e fora alguns problemas com a sua direção é também tão bom quanto ele.
Baseado mais uma vez em um romance de Robert Ludlum, o filme começa praticamente de onde Identidade parou. O que quer dizer que ajuda muito ter assistido a ele, embora não seja indispensável. Ajuda no sentido de já entrar na história conhecendo a personalidade de Jason Bourne, que é razoavelmente complexa; suas motivações, suas dificuldades. Entender o personagem de início enriquece – e facilita – e muito a experiência de assistir a esta sequência. A história pode ser facilmente explicada com poucas palavras (e também é interessante não ir sabendo muito mais dela): Jason Bourne (Matt Damon) é descoberto por um agente que quer matá-lo enquanto estava na sua nova casa, à beira da praia (a locação é linda), com Marie (Franka Potente). Sem entender nada ele passa a ser perseguido durante todo o filme, ao mesmo tempo que tenta descobrir a pista do porquê isso está acontecendo.
A estrutura da história, então, mostra-se praticamente a mesma do primeiro filme, o que de certa forma é um dos poucos fatores negativos, já que assim esta sequência pode ser considerada mesmo desnecessária, visto que não apresenta nada de realmente inovador. Ainda assim é um filme muito divertido, com cenas de ação sempre interessantes e um roteiro que vai revelando surpresas da forma a sempre deixar o espectador interessado também na história, e não apenas na ação, mesmo que em alguns momentos o desenvolvimento das situações ocorra de forma bastante lenta, o que pode frustrar alguns espectadores sedentos de movimento.
O filme só não é mais interessante porque o diretor Paul Greengrass tentou criar um clima de super-realismo para ele, mostrando a câmera sempre trêmula, principalmente nas cenas de ação e na cena principal de perseguição de carros (o filme não poderia deixar de ter uma, assim como no original). A intenção foi boa, mas é fato que ele exagerou razoavelmente, já que em alguns momentos é praticamente impossível entender o que está acontecendo na tela. A tal cena de perseguição automobilística, então, que no original foi maravilhosa (algumas pessoas comparam-na à cena de Operação França ou Bullitt – talvez as duas melhores perseguições do cinema de todos os tempos), nesta sequência é apenas “provavelmente” maravilhosa. Provavelmente porque nota-se que ela é intensa e muito bem coreografada, mas na realidade fica difícil de entender muito bem o que está acontecendo devido ao excesso de movimentos da câmera. Um exagero do diretor que custou um pouco caro. Em Domingo Sangrento, do mesmo diretor, o estilo era o mesmo, porém para aquele filme ele era mais adequado.
O elenco basicamente é o mesmo de Identidade, sendo a adição mais notável a do ator Karl Urban. Algumas personagens ganharam mais destaque (a personagem da atriz Julia Stiles, por exemplo), enquanto outras perderam (Franka Potente), mas o filme sempre se mantém forte em termos de interpretações, pelo fato de seu estilo realista (lembrando mesmo o recente Colateral, de Michael Mann) exigir mais dos atores. O roteiro é muito bom e ainda que não tenha nenhum elemento inovador, como já foi comentado, mesmo em relação ao filme original, pode acabar surpreendendo o espectador com alguns momentos bem marcantes que não sejam só cenas de ação. Claro, Matt Damon é a estrela principal e continua muito bem em seu papel.
Finalizando, posso novamente recomendar o filme, não só para quem gostou do primeiro, mas para qualquer um que curta ação e espionagem. É um belo exemplar do gênero ainda que não apresente nada de novo e tenha alguns exageros na direção de Paul Greengrass. A Supremacia Bourne é um dos raros filmes que podem ser considerados razoavelmente inteligentes mesmo com suas forçadas de barra no roteiro. Não é filme pra ganhar prêmio, é filme pra divertir. Esse conseguiu faturar ainda mais que o primeiro, então é provável que seja criado um terceiro, fechando uma trilogia. Se mantiver o nível, tudo bem!
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