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Star Wars: Episódio IX - A Ascensão Skywalker

(Star Wars: Episode IX - The Rise of Skywalker, 2019)
5,9
Média
174 votos
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Sua nota

Críticas

Cineplayers

A conclusão satisfatória

4,5

O que é Star Wars, essa saga de fantasia tão presente na configuração do cinema hollywoodiano? A minha referência, no Brasil, é de um conjunto de filmes chamado Guerra nas Estrelas, mas esse título em português já não existe: uma aparição local das várias renomeações pelas quais os filmes passaram. Capítulos renumerados, o aviso de que estávamos acompanhando uma “Saga Skywalker”, de nove partes, e um cânone reformulado são algumas das transformações que não apenas preparam o terreno para produções novas, mas estão sempre ressignificando o que já foi visto (algumas vezes, editando obras anteriores para produzir uma coesão renovada).

Star Wars pode ser, e já foi, coisas muito diferentes. Há diversas formas de se apropriar da saga, como percebemos no conflito entre distintos cânones e gerações (e outros indicadores de identidade) de fãs. Em parte, isso é possibilitado pela simplicidade da história original: uma jornada do herói que abre caminhos para dentro de um universo e mitologia mais amplos. Desse modo, quando J.J. Abrams, diretor de Star Wars: A Ascensão Skywalker (Star Wars: Episode IX – The Rise of Skywalker, 2019), afirma que está dando uma conclusão coerente para a saga, devemos entender antes que saga é essa a partir da qual a coerência pretende ser produzida.

É notável, já antes do filme, que essa suposta coesão narrativa com a série se opõe a Os Últimos Jedi (Star Wars: Episode VIII – The Last Jedi, 2017). Há muito que parece incomodar Abrams no tratamento de Rian Johnson para a trama. E isso é compreensível: são apropriações diferentes de Star Wars, ambas coerentes, ambas possíveis. Enquanto Johnson recusa a dualidade da força – o bem e o mal incorporado pelos Jedi e Sith, respectivamente –, Abrams abraça esse resquício da simplicidade do que hoje chamamos de Uma Nova Esperança. Mais do que isso, no entanto, ele o torna simplista.

O enredo de A Ascensão Skywalker se desdobra da seguinte maneira: Palpatine está vivo, sua presença é sabida através da galáxia, e os heróis, especialmente Rey (Daisy Ridley) embarcam numa jornada para encontrar a localização do antigo imperador e confrontá-lo. O que ocorre, enfim, é uma série de eventos que parece ter a função única de nos fazer chegar, com o filme, em um determinado lugar. A Ascensão Skywalker, porém, parece estar muito satisfeito com o modo como se organiza em direção a uma conclusão dita “satisfatória”.

Esta, todavia, é mais uma restauração de temas menos interessantes da saga. Enquanto Os Últimos Jedi aponta para uma ruptura (uma que, inclusive, é bastante coerente com a trilogia de prólogo), o novo busca um retorno ao ponto de partida. Há pouca complexidade nesse retorno. O dualismo é restaurado, contradizendo algo que aparece até nesse mesmo filme. A força é duas divididas em duas (bem e mal), e não duas em uma (ou múltiplas, como algumas das ramificações mais interessantes desse universo sugerem).

É muito evidente a tentativa de devolver essa simplicidade aos fãs. Há aí uma ideia de “se dar ao público o que o público quer” que é não apenas terrivelmente condescendente, mas que conta com uma falsa universalidade dos espectadores de Star Wars. E essa tentativa se manifesta em uma sequência de acontecimentos que procuram apenas provocar uma nostalgia que não é compartilhada ou distribuída com a homogeneidade que A Ascensão Skywalker espera que seja. O resultado é uma série de apelos que parecem encontrar menos recepção afetiva do que era planejado – o que é compreensível, considerando que o texto do filme tem uma dificuldade de até sustentar muitas dessas provocações.

Para além disso, A Ascensão Skywalker está tão imerso nessa jornada por uma conclusão satisfatória que, no caminho, desconsidera alguns momentos cruciais para nossa ideia de Star Wars como um grande legado (a moral a que o filme procura chegar). A morte de Carrie Fisher, um acontecimento que se interpôs na nova trilogia, é considerada de forma mais respeitosa em relação ao que a atriz significa para a saga em Os Últimos Jedi – e até Rogue One (Rogue One: A Star Wars Story, 2016), concluído antes da morte da atriz, faz uma reflexão mais interessante de seu legado. A Ascensão Skywalker, se consegue ser aquilo que silenciosamente prometia – um retorno ao Star Wars amado pelos fãs (essa massa sem corpo, sem outra identidade além de “fã”) –, a configuração da saga que restaura é aquela que menos me interessa. A galáxia, no entanto, é de fato ampla – e podemos esperar que novas histórias descobertas nela encontrem rumos mais corajosos.

Comentários (6)

Rodrigo Cunha | sexta-feira, 20 de Dezembro de 2019 - 07:34

O que me parece é que esse 9 simplesmente tenta corrigir os conceitos que foram criados no 8 ao invés de tentar contar alguma história, que nessa trilogia nova falta um foco principal e acaba sendo uma reunião de acontecimentos sem um fio condutor forte. Faltam os conceitos da série, os diálogos auto ajuda acabaram ficando rasos demais e a conclusão da relação entre os personagens foi insatisfatória.

Como eu disse, claramente faltou planejamento, uma história principal e, principalmente, comando de alguém que sabia o que estava fazendo e para onde a série deveria ir.

São filmes ruins? Não. Mas falham como obra maior conjunta.

Alan Nina | sexta-feira, 20 de Dezembro de 2019 - 16:31

Cunha, como exigir planejamento de uma trilogia que é explorada de acordo com o ânimo da crítica/ dos fãs? Isso me parece com as novelas da Globo tendo que mudar o roteiro por conta da recepção do público. Não que isso seja ruim. Mas no caso , está sendo.

Rodrigo Cunha | sexta-feira, 20 de Dezembro de 2019 - 18:17

Me parece que foi o seguinte:

7 - Excelente introdução aos novos personagens e uma boa dose de nostalgia. Excelentes cenas visuais.
8 - Trouxe algo novo, também era muito forte visualmente, mas faltava uma história principal como tinha nas duas outras trilogias.
9 - Voltou o primeiro diretor pq o segundo mudou demais a franquia, o conceito da força, renegou personagens criados e mais uma vez apelou pra nostalgia - que é linda de se ver, óbvio, mas num contexto GERAL, é falho. Cagaram a origem da Rey, ignoraram a Rose, enfiaram uma personagem negra só pra estar com o Finn, voltaram com um personagem clássico por voltar e por aí vai.

Sobre o que é essa terceira trilogia, afinal? De novo a luta contra o Império?

Gosto dos filmes individualmente, mas vejo essa falha como saga. Ainda assim, é Star Wars e um filme ruim do Star é muito acima da média. É como um jogo do Mario ou Zelda ruins, ainda são melhores do que a maioria que sai no mercado hahaha.

Rodrigo Cunha | sexta-feira, 20 de Dezembro de 2019 - 18:19

Eu não ligaria pra isso tudo se o filme fosse divertido e tivesse, assim como os dois primeiros, set pieces divertidos, cenas que fossem emblemáticas e lembradas. O 9 é o mais fraco dos 3 nesse ponto e a conclusão dos protagonistas ficou nível novela das 6. Isso que a galera tá revoltada.

Por isso que eu digo que faltou planejamento... Os acontecimentos principais que deveriam ter para poder deixar na mão dos roteiristas desenvolverem. É uma trilogia que sai do nada e chega a lugar nenhum. Pelo menos os dois primeiros são divertidos, esse também é, mas numa escala bem menor.

Ted Rafael Araujo Nogueira | sexta-feira, 20 de Dezembro de 2019 - 21:27

Se conseguirem fazer algo mais medíocre que o Despertar da Força, merecem uma medalha. Mas, desde já, o JJ Abrams é fraco na direção.

Letícia | sexta-feira, 05 de Junho de 2020 - 00:21

Assim como na segunda trilogia, dos anos 2000, o terceiro filme deu novo sentido aos dois anteriores (eps I e II) engrandecendo-os, dessa vez o terceiro filme da nova trilogia meio que estraga os dois anteriores. Esse episódio 9 é muito cagado, viu

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