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Críticas

Cineplayers

Uma junção de 11 curta metragens com a única ligação de cigarro e café, que demorou 17 anos para ficar pronto.

6,0

Sobre Café e Cigarros é um dos filmes mais interessantes e inusitados que estrearam em circuito no ano passado. Pena que com pouquíssimo estardalhaço, o que fez com que quase ninguém o visse. Mas vale a pena conhecer essa nova obra do diretor Jarmusch (de Ghost Dog - Matador Implacável e Uma Noite sobre a Terra), que levou nada mais nada menos que dezessete anos para ficar pronta. Isso porque o filme é uma seqüência de onze curtas-metragens, sendo que o primeiro foi filmado em 1986 - que é logo o primeiro dos curtas, o de Roberto Benigni e Steven Wright. O mais curioso ainda é que três desses curtas já tinham sido lançados comercialmente - além do já citado curta do Benigni e do Wright, já tinham sido vistos os de Steve Buscemi com a dupla oriental e o do papo entre Iggy Pop e Tom Waits.

Não há qualquer ligação entre um curta e outro. O diretor apenas faz uma premissa para todos: uma conversa à beira de uma mesa, regada a muito café e cigarros, como (quase) todo mundo faz. E é isso mesmo, o filme não tem pretensão alguma: são apenas algumas conversas, discorrendo sobre temas dos mais variados - entre elas mais uma teoria sobre Elvis Presley, os prejuízos do cigarro à saúde, modos de vida e outros temas banais - mas extremamente divertidos.

Com uma fotografia totalmente em preto e branco (uma alusão ao branco do cigarro e ao preto do café - inclusive, o filme tem quatro diretores de fotografia, cada um ao seu estilo, entre eles o diretor cult Tom DiCillo, de filmes como Johnny Suede e (o ótimo) Vivendo no Abandono), o filme tem seus altos e baixos, claro, pois nem todos os "papos" acabam soando interessantes. Mas alguns momentos são memoráveis.

O episódio envolvendo Cate Blanchett é dos mais marcantes. Ela, dando um show de interpretação (novidade para alguém?), interpretando dois papéis interagindo, um deles como ela mesmo e o outro como uma prima, em um "encontro" dos mais bacanas. Mas o episódio mais divertido é aquele em que zomba com o ótimo ator Alfred Molina. Ele, de filmes como Chocolate, Frida e Homem-Aranha 2, interpreta também a si mesmo em um encontro onde Steve Coogan (A Volta ao Mundo em 80 Dias) acaba constrangido - para delírio daqueles que admiram o trabalho do ator inglês de descendência latina. Aparecem também a dupla de White Stripes e até Bill Murray (Encontros e Desencontros), mais uma vez fazendo um papel estranho, onde ele pode soltar sua verve cômica alindo sua costumeira excentricidade.

O filme acaba se tornando mais um charmoso exemplar do cinema independente americano. Obviamente, é para públicos restritos, aqueles que se interessam por filmes dito "de arte". Mas até mesmo aqueles que não gostam deste tipo de filme, mas que adoram jogar papo fora tomando um cafezinho, vão acabar se identificando.

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