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Críticas

Cineplayers

É igual ao primeiro. Entenda isso da forma que quiser - para o bem ou para o mal.

3,0

Prova definitiva que há mercado para o cinema brasileiro, Se Eu Fosse Você 2 superou, no primeiro semestre de 2009, as expectativas mais otimistas e tornou-se o maior sucesso do nosso cinema na Retomada – e um dos maiores de todos os tempos. Há quem dirá que voltamos aos tempos de ouro. O interessante é que este não é um caso isolado, já que no mesmo ano tivemos também outros arrasa-quarteirões de fabricação tupiniquim: Divã e A Mulher Invisível são bons exemplos. A partir daí, podemos fazer um monte de análises, algumas delas positivas e tantas outras negativas. No final, ainda é cedo para dizer que passamos por uma nova Era de Ouro no cinema brasileiro – há tanto para amadurecer, mas pelo menos as esperanças estão renovadas.

Análises à parte, Se Eu Fosse Você 2 é exatamente o que qualquer espectador poderia imaginar que seria. É resumidamente mais ou menos isso: se você assistiu ao primeiro filme, aquele de 2006 que também fez bastante sucesso, vai ter as mesmas sensações ao término desta sequência. E isso vale tanto para o lado bom quanto para o lado ruim. As mesmas qualidades e os mesmos defeitos estão de volta. Seguindo a cartilha que estamos tanto acostumados a ver em Hollywood, Daniel Filho mais uma vez jogou em terreno seguro, afinal para que mexer em time que está ganhando? E se houver um terceiro – e há de acontecer! – não seria surpresa nenhuma que seguisse a mesma receita.

A história também não mudou: Helena e Cláudio (Glória Pires e Tony Ramos) trocam de corpos, dando origem a muitas confusões. Há também a filha adolescente, que aparece grávida, para desespero do pai. Tudo isso abre margem para um monte de discussões relevantes (ou nem tanto, pois elas nunca saem do óbvio, do fútil), a que o espectador brasileiro está mais do que acostumado a assistir nas novelas dos canais públicos de televisão. Dizem que é por isso que o filme faz sucesso – pois emula na tela grande o que o público assiste todos os dias na telinha, à frente do sofá. A lógica disso, relacionada ao comportamento do brasileiro, não cabe ser discutida aqui, apenas o filme.

O que está errado é chamar Se Eu Fosse Você 2 de retrato da realidade. Não estou falando da transformação fantasiosa do homem em mulher e da mulher em homem. Mas esse mundo da classe média de Daniel Filho é tudo menos real: é insuportavelmente limpo, embelezado, hipócrita. É tudo, menos realidade, ou é tão real quanto as histórias do ogro Shrek. No final, todos dançam e a vida é perfeita. Mas claro, é uma comédia, o final é previsível. Não há porque desmerecê-lo por isso. Só que mesmo os conflitos apresentados pelo trio de roteiristas são superficiais, limitadíssimos. A maior preocupação parece mesmo ser criar piadas sobre situações estereotipadas dos dois sexos, como a menopausa feminina ou a pelada de fim-de-semana dos homens.

Entre os roteiristas, está Adriana Falcão, responsável por metade da filmografia de comédias populares recentes do cinema brasileiro – a mulher deve utilizar sempre o mesmo manual para escrever. Manual que certamente não ensina coerência, pois o filme está lotado de problemas primários, como o fato de citar claramente um “raio cair no mesmo lugar duas vezes devido às alterações climáticas recentes no nosso planeta”, mas isso jamais acontecer, pois o motivo para a troca de corpos é uma energia misteriosa e aleatória. É apenas um exemplo que demonstra a falta total de preocupação e boa vontade: conhecendo o seu público-alvo, o mesmo que não liga para a mesmice das telenovelas, não há porque se esforçar em escrever algo bem acabado. Nesse sentido, a culpa é tanto do público quanto do autor.

Se Eu Fosse Você 2, apesar de merecer praticamente só desprezo por sua falta de qualidade técnica e artística (é apenas ligeiramente engraçado em alguns momentos) não é veneno para o cinema brasileiro, pois tem seu lado bom, despertando um certo orgulho pelo produto cinema nacional, alvo de tanto preconceito. Outros sucessos recentes, ainda que não no nível deste aqui, provam que não é um caso isolado. Ainda que hoje praticamente só comédias façam real sucesso entre os filmes brasileiros (e elas não são especialmente piores que o lixo vindo de Hollywood, pelo menos), há uma luz no fim do túnel, uma luz que não estava lá há dois ou três anos. Enquanto Daniel Filho faz filmes genéricos para o grande público zumbificado, pelo menos seu sucesso motiva cineastas de verdade a fazerem filmes bons de verdade, e a cada ano há pelo menos alguns deles. Ninguém os assiste, mas eles estão lá, prontos para serem descobertos.

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