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Críticas

Cineplayers

Divertido, embora Daniel Filho quase tenha estragado.

7,5

Trocas impossíveis de um corpo por outro é um assunto que volta e meia alguém resolve pôr nas salas de cinema e assim já está mais do que batido. Criança já disse “Quero Ser Grande” e virou adulto no corpo de Tom Hanks. Pai já virou filho em “Vice-Versa” e mãe e filha também inverteram seus papéis numa “Sexta-Feira Muito Louca” e até rico ficou pobre, num estilo bem “O Príncipe e o Plebeu”. Agora, a abordagem é em cima de marido e mulher.

Filme brasileiro em grande circuito, com a intenção de ganhar dinheiro, sinônimo de Globo Filmes! Mas, isso não é de todo ruim. Além de um sinônimo indiscutível de qualidade de produção, o grande público gosta de ver atores da telinha na telona e acabam indo ao cinema, coisa que não fariam por um filme de menor porte. Enfim, “Se Eu Fosse Você” vem para guerra das férias pelas mãos do diretor Daniel Filho.

Num elenco pra lá de estelar, Glória Pires é Helena, mãe de família, regente de um coral infantil, rica de berço e assim sendo, muito refinada, esposa de Cláudio, papel de Tony Ramos. Este já não teve tanto berço assim, é mais expansivo que sua esposa. Dono de uma agencia de publicidade, odeia a sogra (Glória Menezes) e não tem muito diálogo com a filha Bia (Lara Rodrigues). Helena se sente meio perdida no meio de tudo isso, sendo apenas a ponte entre o marido, a mãe e a filha, entre as mães e as crianças do coral, enfim, aquelas agonias que só gente rica se dá ao luxo de ter e vai reclamar no psicanalista. Ele se sente carregando a família nos braços, tanto financeiramente quanto estruturalmente. Tolinho...

Numa noite em que os três primeiros planetas se alinham e o casal diz algumas frases ao mesmo tempo eles trocam de corpo. Inicia-se a comédia. Nenhum dos dois se travesti de homem ou mulher. Tony passa a interpretar Helena e Glória agora é Cláudio. Nem precisa muita criatividade para que o roteiro deixe o riso frouxo. Basta imaginar um casal de temperamento bem distinto, trocado. Onde o homem no corpo de uma mulher tenta se manter sob saltos ou ficando menstruado e uma mulher, em corpo de homem, tenta fazer xixi em pé e conta piada de sacanagem.

Assim, cada piada faz parte do cotidiano da vida de casado. São pequenos detalhes que ninguém consegue imaginar o sexo oposto executando e que a dupla desempenha muitíssimo bem, obrigada. O elenco, que como disse é estrelar, conta ainda com Thiago Lacerda, Lavínia Vlasak, Danielle Winits, Maria Ceiça e Ary Fontoura, entre tantos que estão razoavelmente bem. Na sintonia do filme: uma simples comédia pedindo simples atuações. Um certo destaque ao Thiago Lacerda que, como Marcos, sócio de Cláudio na produtora, teve um pouco mais de destaque. Chega até a surpreender um pouco àqueles que ainda não têm confiança em seu trabalho.

Agora, vamos ao problema do filme: Daniel Filho. Tudo bem que ele seja "super" conceituado e reconhecido na TV, mas no cinema não é assim que a banda toca. A escolha da direção foi o erro em "A Dona da História" e se repete aqui. Fora o "detalhe" de percebermos o momento ideal do corte para o comercial e da câmera sem movimento, mais estática enquanto a cena anda, tem o tempo. Isso é cinema, não é televisão! Assim sendo, não queremos cortes para o plim-plim entrar e se sinta a vontade para movimentar a câmera (sem deixar ninguém tonto, é claro). Ficar cortando a cena a cada fala sendo que os atores estão na mesma sala deixa o filme lento e, literalmente, sem movimento.

Agora por fim, o tempo. O assunto dá muito pano para manga. O casal que acorda tendo, cada um, que viver as dificuldades da vida do outro, no corpo deste outro pode gerar um roteiro de 10 horas com boas piadas, mas isso não é cinema indiano, portanto uma hora e pouco já estaria de bom tamanho para a comédia. Mas, não é bem assim que a coisa se desenvolve e chega um ponto em que a platéia pensa: "- Tudo bem, já entendi e gostei da piada, mas ela não vai se resolver, não tem final?" Obviamente que sim, o final chega e tudo se resolve, a piada se salva e a atuação da dupla se mostra excelente até a última fala... Com uma exceção: faltou um pouco mais de desespero. Qualquer um que acordasse num corpo que não o seu próprio teria um pouco mais de desespero e assim, dificilmente deitaria para dormir calmamente durante uma semana. Bem, mas como essa seria a única falha da dupla, vou optar por colocar a culpa no diretor (mais uma... menos uma...) e deixar a dupla e o roteirista ficarem bem na foto, que por sinal tem um fundo perfeito: a cidade maravilhosa. Que dispensa iluminador, cenógrafo ou qualquer outro artifício, igual à competência de Glória Pires e Tony Ramos.

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