Um épico cheio de altos e baixos. Recomendado apenas para quem gosta muito do gênero.
Pra variar, mais um épico chega às telas do mundo. Em um ano que tivemos Tróia arrasando as bilheterias mundiais (embora nos Estados Unidos tenha feito um sucesso apenas moderado, no resto do mundo teve uma arrecadação estrondosa), e em que teremos no final de ano o aguardado Alexandre, de Oliver Stone, Rei Arthur, do diretor Antoine Fuqua, chegou com ressalvas. Não tem um grande nome para sustentar o elenco, e isso é o que parece fazer mais falta no final das contas. Keira Knightley não tem ainda o cacife para ser protagonista de um filme muito grande, embora tenha se saído bem no bobinho Driblando o Destino e tenha dado uma boa coadjuvante em Piratas do Caribe. Já Clive Owen, o Arthur em pessoa, embora tem um nível de personalidade decente (aparece bem na tela) não tem nome suficiente também.
Então, já que Rei Arthur não é um filme de grandes interpretações, o que sobra é a esperança de que teremos um bom roteiro e, claro, cenas de ação de alto nível para sustentar o filme. No geral, pode-se considerar este um filme muito sólido. Possui uma bela fotografia, muito semelhante à do filme anterior do diretor, Lágrimas do Sol, embora tenha sido fotografado por outra pessoa, Slawomir Idziak, o responsável por filmes como Falcão Negro em Perigo (e é a fotografia o melhor deste filme de Ridley Scott). Os tons escurecidos enfatizam a ambientação muito bem realizada da Idade Média. A direção de Fuqua também é bastante caprichada (e o diretor já provou poder ser de primeira linha com o ótimo Dia de Treinamento), com ângulos de câmera bacanas e bastante agilidade para demonstrar as batalhas.
Falando em batalhas, o filme tem uma cena em particular que é belíssima, e não é a principal. O ataque sobre o gelo é um belo exemplo de cena que, mesmo forçada, funciona por causa de sua tensão. É um momento em que vale a pena torcer pelos heróis do filme. Já a cena principal de batalha é apenas regular. Toda ela ficou muito redundante além, claro, de ser totalmente previsível. No geral, o filme cai no lugar-comum dos épicos atuais: o de tentar repetir as batalhas da trilogia O Senhor dos Anéis (filmes que, mesmo sendo recentes, já influenciam e muito o cinema). Além das batalhas, a parte introdutória é visivelmente inspirada em O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel, com o ponto negativo de passar informação demais para o espectador que não conhecia anteriormente a lenda do Rei Arthur. Enfim, originalidade deveria ser sempre o ideal, mesmo se o resultado acabar sendo medíocre, pelo menos se tentou criar algo.
Em relação à lenda, o filme criou bastante controvérsia ao divulgar que apresentaria um Rei Arthur mais real, a partir de fatos descobertos recentemente. Como eu ignoro a lenda original, e não sei se realmente o que foi divulgado é válido ou não, não considero este um ponto negativo, enquanto muitos estão acabando com o filme por desrespeitar uma história já contada inúmeras vezes anteriormente de uma outra forma. Mas basicamente é um filme sobre lealdade, traição e coragem. Todos os elementos básicos de um épico. Gladiador e Coração Valente são exemplos recentes que trazem tudo isso, só que de forma muito mais divertida (principalmente o filme de Ridley Scott, menos sério e realista que o de Mel Gibson). Aliás, o maior pecado do filme é ser em boa parte do tempo monótono. Não é um filme grande: tem pouco mais de duas horas, porém em diversos momentos a história mostra-se arrastada, e não há muita regularidade em sua narrativa, como uma preparação melhor para a grande batalha final, por exemplo – talvez esse tenha sido o motivo do porquê ela não ser realmente muito interessante.
Os efeitos especiais são bacanas, embora na realidade seriam desnecessários. Para tentar criar um ou outro ângulo de câmera “legal”, Fuqua acabou adicionando efeitos digitais desnecessários (a cena da flecha de Guinevere, tão vendida no trailer, por exemplo), porém que acabam dando um charme interessante ao filme. As locações são extremamente realistas (como a parte da batalha no gelo, já comentada) e toda a produção é muito caprichada. Aí entra a marca do produtor Jerry Bruckheimer, uma pessoa que preza o grande apuro técnico. A trilha sonora é – surpresa! – muito boa. Quase inspiradora em certos momentos, transformando planos simples e óbvios em beleza visual. No cinema, o som sempre serviu para ressaltar as imagens, e aqui acontece um bom exemplo disso.
Rei Arthur custou uma nota preta e não arrecadou o suficiente pra se pagar, embora provavelmente vá funcionar melhor em DVD. É um filme interessante, mas serve mais como escapismo do que para ser levado à sério. Se tivesse um pouco mais de agilidade em sua montagem e narrativa para deixá-lo com um ritmo mais leve e divertido, poderia ter se saído melhor e acabar justificando as expectativas que existiam antes de seu lançamento. Ainda assim, em um período de vacas magras nos cinemas ele pode acabar achando seu lugarzinho ao sol. Mas ainda assim é o filme recente mais fraco do diretor Antoine Fuqua, que parece querer se especializar no gênero ação. Quem sabe na próxima ela não se dê melhor!
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