Apesar de ter suas semelhanças com o recente O Bom Pastor, de Robert De Niro, este filme tem alma e qualidades próprias.
Esta recomendável produção norte-americana passou praticamente despercebida pelos cinemas dos Estados Unidos, sem que houvesse maiores repercussões. Isso pode ter ocorrido pela semelhança temática entre Quebra de Confiança e O Bom Pastor, de Robert De Niro, que obteve muito mais visibilidade. Apesar disso, os dois longas são diferentes, e são justamente as diferenças de Quebra de Confiança, junto com um elenco de respeito, que garantem qualidade ao filme do diretor Billy Ray.
O filme conta a história real – tudo é muito fiel aos fatos - do agente do FBI Robert Hanssen, que ficou conhecido por ser o responsável pelo maior escândalo de traição da história da inteligência americana. Hanssen era um dos mais respeitados agentes do FBI, mas depois de mais de 20 anos de serviço, começou a ser investigado por suspeita de traição. Atuando como agente-duplo, ao mesmo tempo em que ele trabalhava para os Estados Unidos, vendia informações confidenciais para os russos.
Quebra de Confiança é um grande filme e possui vários méritos. É incrível como o diretor Billy Ray conseguiu, mesmo com o espectador já sabendo quem é a pessoa infiltrada, segurar a atenção e manter um ótimo clima de suspense durante o decorrer da projeção. Angústia e apreensão são sentimentos que acompanham o espectador. O roteiro é simples, a narrativa é cronólogica. É aí que o filme começa a se diferenciar de O Bom Pastor, um suspense policial sobre a criação da agência de inteligência norte-americana, a CIA, e um caso de traição ocorrido. O ótimo filme de Robert De Niro conta com uma edição mais elaborada, com idas e vindas no tempo, e com pequenas revelações no decorrer do longa, que levavam, aos poucos, à resolução do mistério. Aqui, já temos várias respostas logo no começo, mas a história se mostra tão interessante quanto o filme sobre a CIA.
Além disso, o roteiro, escrito por três pessoas – inclusive o próprio diretor -, é muito mais simples do que o visto na história de traição de O Bom Pastor. O longa de Ray é muito mais compacto e a narrativa é cronológica e, portanto, mais fácil de acompanhar do que o estilo narrativo encontrado na produção de De Niro. Não estou, de forma alguma, criticando O Bom Pastor, que consegue ser um grande exemplar mesmo com uma narrativa complexa e uma grande extensão. O filme de Ray mostrou uma maneira diferente de mostrar esse tipo de suspense, e o diretor está aprovado. Quebra de Confiança possui uma metragem ideal. São menos de duas horas de puro suspense e tensão.
Ryan Phillippe interpreta Eric O’Neill, um jovem integrante do FBI, que recebe de sua chefe, a ótima Laura Linney, a missão de ser assistente de Robert Hanssen (Chris Cooper), veterano agente suspeito de servir aos soviéticos/russos. Aos poucos, o jovem começa a descobrir que sua missão é mais complexa do que imaginava. O’Neill sente-se dividido: sabe que Hassen pode ser uma pessoa perigosa, mas ao mesmo tempo, vai sendo envolvido pela personalidade cativante do agente-duplo. Hassen passa a imagem de ser católico fervoroso, praticante. Tenta, inclusive, levar O’Neill e sua esposa a freqüentarem as missas junto com sua família. Mas, em sua privacidade, ele mostra ser uma pessoa controversa, que não segue à risca os ensinamentos cristãos. Ele gosta, por exemplo, de assistir à pornografia pesada. Não tem medo de enganar as pessoas, e não se sente incomodado por ser responsável pela morte de tantas outras.
Quebra de Confiança apresenta boas atuações, apesar de Ryan Phillippe não ter apresentando, ainda, uma atuação impecável. Mas, mesmo assim, ele está bem. Os ótimos Chris Cooper e Laura Linney dificilmente decepcionam, e não foi desta vez que eles deixaram a desejar. O diretor Billy Ray, que dirige seu segundo filme, mostra-se competente tanto na maneira como filma, como na forma que conduz as atuações do elenco.
Com uma trilha sóbria e lenta, boas atuações, ótima direção, competente trabalho de edição – que situa a passagem de tempo, por exemplo, com a troca de quadros em uma parede, mostrando o fim da era Clinton e o início da era Bush - esta produção passa seu recado de forma mais sucinta que o longa de De Niro. Um longa que não deixa nada a desejar.
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