Thrillers em aviões geralmente rendem bons filmes. A idéia do terror enclausurado em um espaço tão pequeno, sem a chance de fuga pode render bons momentos para os fãs do gênero. É o caso deste Plano de Vôo, que está chegando às locadoras. E um filme que quer dizer "eu tenho um final surpresa" deste suas primeiras cenas sempre carrega uma grande responsabilidade: se esse final não for realmente surpreendente, o sucesso do filme pode ir por água abaixo. O que nos aguarda aqui? Obviamente você não achará a resposta neste texto, mas o resultado foi satisfatório - pelo menos no limite do que um filme comercial de Hollywood pode ser.

O filme mostra-se interessante ao dar dicas claras de um falso final surpreendente. Ao perceber que esse final seria muito óbvio, o espectador mais atento pode redobrar seu interessa, ao constatar: "Hollywood é clichê, mas não pode ser TÃO clichê". A partir daí, uma tonelada de possibilidades abrem-se para o que poderá vir a ser o VERDADEIRO final-surpresa. Aconteceu algo assim, porém muito mais inteligentemente e sutilmente em A Vila. Aqui, como foi comentado, não há nenhum choque ou algo de realmente novo no que é apresentado, mas a construção da história para chegar naquele ponto é muito interessante, e o mais importante para um suspense: prende a atenção.

Há, claro, uma galeria de estereótipos. O filme inspirou-se no medo exagerado dos norte-americanos para com terroristas dentro de aviões, e tentou encaixar o tema colocando dois coadjuvantes árabes e um americano ignorante contra eles. Tudo bem bobinho e sem graça, mas felizmente não o suficiente para estragar a diversão maior: nossa protagonista está ou não está maluca? Na dúvida sobre o que isso significa, leia a sinopse. Por ora, destaco aqui a atuação decente de Jodie Foster, que conseguiu não ser irritante no papel de uma mãe desesperada.

Alguns críticos chegaram a citar Hitchcock quando falaram sobre Plano de Vôo. Talvez seja um pouco de exagero, mas o mestre do suspense também não era perfeito, quase estragando sua quase obra-prima Intriga Internacional com aquele final horroroso e non-sense. Oras, Plano de Vôo não é pior que aquilo. Obviamente comparar este lançamento com um mau momento de Alfred não é exatamente justo, mas serve para demonstrar que tais citações, sob um ponto de vista não muito positivo, não deixam de ser válidas.

Plano de Vôo é recheado de momentos tensos e, mesmo quando a coisa toda torna-se um absurdo, continua sendo um filme divertido. O talento de Sean Bean, é bem verdade, foi muito desperdiçado, e todo o elenco coadjuvante é estupidamente mongol. Mas tirando essas imperfeições, este é um produto de bom refinamento técnico (a trilha sonora é muito bacana) e, como é um filme de pequena duração, não consegue se tornar uma história enfadonha. Ainda bem, assim posso dizer que ele pode ser recomendado.