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Críticas

Cineplayers

O passo em falso de um artista.

6,0

O universo cinematográfico de Tim Burton sempre foi um microcosmo dentro da imensa Hollywood. As paisagens disformes, o visual excessivo e os personagens desajustados que habitam seus filmes transformaram-se em uma marca, o emblema de um cineasta que sempre caminhou à margem do cinema genérico, buscando sempre implantar uma genuína veia autoral às suas criações. No entanto, em determinadas ocasiões, ele parece dar de ombros ao seu estilo e acaba por abraçar àquilo de que seu cinema mais foge: a normalidade.

Essa refilmagem de Planeta dos Macacos (Planet of the Apes, 1968) se registrou como a primeira emersão de Burton de seu mundo mergulhado em trevas. O que parecia era que aquele legítimo artista havia caído na emboscada de converter seu cinema artesanal em um produto tipicamente hollywoodiano. Não que esse remake não conserve alguns vestígios autorais de seu realizador, contudo, eles encontram-se extremamente apagados, sempre subordinados à artificialidade plástica e à total ausência de personalidade do roteiro.

Não que os textos de seus filmes fossem lá originais, mas ao menos possuíam forte presença e estabeleciam sempre um paralelo com seu já conhecido trabalho, algo que sempre nos fazia crer que aquele era, de fato, “um filme de Tim Burton”. Mesmo no controverso Marte Ataca! (Mars Attacks!, 1996) seu pulso ainda se fazia notar devido à excentricidade da trama, que se apegava ao cinema b de outrora, mais propriamente à figura de Ed Wood, que sempre fora fonte de inspiração para sua obra. Algo que não acontece aqui, pois além da história jamais oferecer brechas para que haja uma rima com os elementos típicos do diretor, este parece perdido ao não conseguir encontrar um equilíbrio entre a estética e a narrativa.

A experiência de novidade em assistir à união entre o mundo gótico de Tim Burton e o vanguardismo proposto pela trama original de Planeta dos Macacos seria, de certo, algo estimulante, todavia, essa curiosidade vai se extinguindo quando a refilmagem se mostra completamente incapaz de resgatar as críticas sociais e as reflexões pregadas pelo trabalho original. Não que o filme de Burton devesse andar de mãos dadas com a fita de 1968 (se o fizesse, perderia logo sua razão de existir), muito embora seu projeto pareça preocupado somente em traduzir as qualidades plásticas do outro para os tempos atuais, esquecendo-se de que foi no conteúdo que o clássico estabeleceu seu status e reconhecimento.

Diferente da condução lenta, pausada de suas obras de outrora, Tim Burton soa apressado na narrativa desse trabalho. Tudo parece acontecer - especialmente em seu prólogo - muito acelerado, e rapidamente ficam evidentes suas intenções ao adotar esse ritmo: apresentar imediatamente à platéia sua ótica sobre aquele planeta de primatas. É por tal razão que os motivos que culminaram para que Leo Davidson (Mark Wahlberg) parasse, acidentalmente, naquele lugar soam vazios, do mesmo modo que o próprio personagem, que em momento algum esboça qualquer resquício de profundidade dramática.

No entanto, não deixa de ser interessante visualizar a convivência entre os homo sapiens e os símios - estes muito bem representados pela competente maquiagem -, a inversão de papéis e a nítida mensagem repassada sobre a falta de respeito que os homens têm para com estes animais - seus prováveis descendentes. Críticas pequenas, embora atrativas, sempre ilustradas através dos diálogos, manifestações físicas e passagens visuais. Nesse ponto, o filme desperta a atenção, assim como durante a aventura entre o improvável grupo de humanos e primatas que se unem em prol de uma revolução. Esses momentos, mesmo carecendo de um ritmo mais intenso, se mostram como a validez de se ter assistido à projeção, uma vez que, depois da perceptível escassez de seu conteúdo, o ingrediente que resta apenas é a diversão.

E é isso. O entretenimento acaba sendo o elemento restante para salvar a película totalmente descoordenada, já que nem seu roteiro e nem a direção parecem encontrar um norte em meio à pobreza daquela demonstração visual, que se encerra e nos desperta a certeza de que aquele fora um equívoco na carreira de Tim Burton. Mais que isso, uma armadilha. Tanto para o diretor, que abandonou por um momento sua veia artística para se valer de um projeto puramente comercial, quanto para o espectador, que esperava ao menos presenciar algo de autoral provindo desta refilmagem. O que se pode extrair dessa experiência é a noção de que coisa alguma no Cinema sobrevive sem personalidade própria, sem uma identidade que estabeleça uma diferença mínima entre gêneros e autores; lição essa que às vezes Tim Burton parece esquecer.

Comentários (11)

Diego Lima dos Santos | sexta-feira, 26 de Agosto de 2011 - 00:42

Estava eu aqui pensando em postar que respeito a opinião dos senhores mas discordo total e absolutamente; pensava eu que os piores trabalho de Burton seriam, com larga vantagem, Alice no País das Maravilhas e A Fantástica Fábrica de Chocolates, ambos terríveis; me preparava para postar tal comentário quando resolvi rever o perfil deste grande cineasta, do homem que fez nada menos que Edward Mãos de Tesoura (o melhor dele), o primeiro Batman (e o segundo com a melhor Mulher-Gato), Ed Wood, A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça, Peixe Grande e suas Histórias Maravilhosas, etc, quando me deparei com a informação de que, em 1985, este mesmo gênio fez o apavorante As Grandes Aventuras de Pee-Wee, um dos mais horrendos filmes que já vi, daqueles que envergonham e desmoralizam o cinema como forma de expressão de arte, que marcou negativamente minha infância (seria mehor ter sido abusado sexualmente), lembro que passava no Cinema em Casa do SBT, coisa triste msm. É Sr. Burton, teu passado te condena !!! Esse planeta dos macacos é OK, não é o melhor mas está longe de ser um filme ruim e é melhor que a média geral do gênero atualmente.

Adriano Augusto dos Santos | sexta-feira, 26 de Agosto de 2011 - 08:34

É até legal mas aquela reviravolta e a explicação sobre o planeta é chata e forçada.

●••● Cláudio Henrique Tabrickvar | sexta-feira, 26 de Agosto de 2011 - 12:23

As Grandes Aventuras de Pee-Wee, um dos mais horrendos filmes que já vi, daqueles que envergonham e desmoralizam o cinema como forma de expressão de arte, que marcou negativamente minha infância (seria melhor ter sido abusado sexualmente).


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