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Críticas

Cineplayers

Um filme divertido, despretensioso e que vai agradar a todos no Brasil também.

5,5

Depois de mais de uma década de decadência, a Walt Disney finalmente voltou a liderar as bilheterias americanas e produziu o grande sucesso que é Piratas no Caribe – O Baú da Morte. Há muito, os estúdios Disney só produziam decepções, os prêmios desapareceram, o presidente foi demitido vergonhosamente e os parques temáticos estavam definhando depois dos ataques de 11 de setembro. Se alguma coisa funcionou lá ultimamente foi a aliança com a Pixar, a empresa de Steve Jobs que fez os desenhos animados campeões de bilheteria – para não perdê-la, a Disney comprou-a por um preço milionário.

O sucesso voltou de maneira inusitada. Uma decisão dos executivos resolveu fazer um filme baseado num dos brinquedos da Disneyword (os tais Piratas do Caribe) como forma de atrair mais público e tentar reerguer o complexo de diversão. Chamaram para a tarefa o mais importante produtor de Hollywood hoje, o republicano ferrenho, conservador assumido, partidário de Bush e neoconservador Jerry Bruckheimer, que esteve à frente de patriotadas como Pearl Harbor e Falcão Negro em Perigo, além de alguns dos maiores sucessos nos últimos anos, todos recheados de violência: Armageddon, Con-Air, A Rocha, Inimigo do Estado e Rei Arthur (este último, aparentemente, seu único fracasso).

O primeiro filme, A Maldição da Pérola Negra foi a terceira maior bilheteria de 2003 (US$ 360 milhões) e foi indicado a cinco Oscar, todos técnicos. Para o segundo e terceiro filmes, filmados juntos, torrou um quantidade superior a US$ 250 milhões em cada (superior, portanto, a Titanic), chamou os melhores técnicos conhecidos em efeitos especiais (a maioria vindos de O Senhor dos Anéis); o compositor é ótimo (o alemão Hans Zimmer), os atores são carismáticos, os roteiristas, funcionais. O diretor, Gore Verbinski, mesmo inexperiente em blockbusters até o primeiro filme da franquia, havia dirigido um filme de terror, O Chamado, e sabe misturar atores com efeitos bem.

O filme sofre na primeira hora, pois a história precisa ser recontada e os muitos novos ingredientes (para dois filmes de duas horas e meia), acrescentados. Depois começa a parte mais engraçada (o filme é todo bem-humorado) e daí tem início o show de efeitos e a ação ininterrupta. Piratas do Caribe 2 merece a bilheteria que teve, pois é uma boa diversão – eletrizante, amoral e furiosamente criativa. Tanto que não tem final e vários pontos ficam em aberto para serem resolvidos no terceiro filme. O único beijo em cena é o de Keira Knightley em Jack Sparrow (Johnny Depp), não em seu amado (Orlando Bloom).

Mas o que impressiona mesmo é a produção impecável. É um filme de produtor, Jerry Bruckheimer, como se fazia na Hollywood dos anos 50 e 60. É mais um filme da franquia Bruchkeimer do que um filme da Disney. Além de violento (há corvos comendo olhos de prisioneiros vivos logo nas primeiras cenas), barulhento e megalômano, como são seus filmes, em nada lembra as produções açucaradas, familiares, religiosas e pró-Bush dos estúdios Disney, como Mulan, O Galinho Chicken Little e O Diário de uma Princesa.

Piratas 2 dá certo por causa disso: tanto produtor e empresa deixaram de lado a propaganda neoconservadora que levou Bush duas vezes ao poder e, no caso da Disney, sua aposta cega e equivocada do que seja “um filme para toda a família”. Juntos fizeram um ótimo entretenimento. Pena que, muito longo, o filme por vezes cansa pelo acúmulo de apelos, além da gratuita e desnecessária seqüência com os aborígenes negros. Tem a enorme qualidade de não ser pretensioso, memoráveis efeitos e nenhuma coerência na trama – fato que o torna ainda mais interessante. De qualquer forma, é bem melhor que tudo que os dois, Bruckheimer e Disney, já fizeram nos últimos 15 anos pelo menos.

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