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Críticas

Cineplayers

Uma versão "correta" de Peter Pan: bom figurino, é divertido e tem boa trilha sonora.

6,5

"Toda criança cresce... Menos uma."

É com essa frase sugestiva que se inicia a história de Peter Pan, um menino a quem a vida é uma eterna diversão, sem deveres ou responsabilidades. Um menino que por fora é extremamente confiante, forte e corajoso. Que não teme nada nem ninguém. Mas na verdade, interiormente, esse menino não é tão valente como demonstra. Ele tem muitos medos e inseguranças. Medo de crescer... Medo de responsabilidades... Medo de compromissos... Medo da solidão.

Isso tudo faz de Peter Pan um personagem complexo, e traduzir toda essa complexidade paras as telas é um trabalho arriscado, que poucos tentaram fazer - inclusive Steven Spilberg não ousou mexer na obra original, lançando o que seria sua visão de um Peter Pan adulto. Coisa que não foi muito bem recebida mundo afora. Mas P. J. Hogan (O Casamento de Meu Melhor Amigo) consegue se sair bem, em parte graças ao talento de parte do elenco, principalmente do semi-estreante Jeremy Sumpter, que encarna um Peter Pan perfeito, com postura e olhar confiantes perante os outros, e com uma boa dosagem de medos e inseguranças quando sozinho.

Baseado na peça escrita por James Matthew Barrie, em 1904, o filme conta a história de Peter Pan, um menino que não queria crescer, que vive no mundo da fantasia conhecido como Terra-do-Nunca (onde a infância nunca passa) em companhia de um grupo de garotos conhecidos como Garotos Perdidos, que conhece Wendy e seus irmãos em uma noite em que ouvia escondido histórias de aventuras contadas pela garota, e os leva para a Terra-do-Nunca, onde eles vivem aventuras só imaginadas nas histórias contadas por Wendy.

É claro que as crianças não entendem a complexidade dos personagens (da aversão de Pan ao amadurecimento ou a iniciação à sexualidade de Wendy), mas o andamento ágil da trama com ação, piadas e momentos ternos dosados na medida certa garante a satisfação dos pequenos. Aliás, o clima, efeitos, cenários e fotografia fantasiosos se enquadram perfeitamente ao gosto deles, uma vez que a grande maioria mal conhece o personagem, e talvez nunca tenham ouvido falar na Terra-do-Nunca. Impossível não se divertir com seqüências de efeitos caprichados, como a ótima seqüência em que a sombra de Pan se separa dele, fazendo que ele chegue a chorar, pensando em uma maneira de grudá-la novamente.

E falando em efeitos, eles são ótimos. As primeiras cenas dos personagens voando pela janela são belíssimas, assim como a transição entre os dois mundos, saindo das estrelas para a colorida Terra-do-Nunca, onde o Sol tem rosto, as nuvens são de algodão e os mares são dominados pelo terrível pirata Capitão Gancho e sua tripulação. Fora os efeitos, a parte técnica do filme não decepciona, mas está muito longe de ser perfeita. Mais longe ainda de conter toda complexidade e elementos necessários para se contar uma história como essa, que está completando 100 anos.

Entre os problemas está a diferença entre o nível dos atores, que é bastante grande. Como comentei, Jeremy Sumpter encarna perfeitamente Peter Pan, uma ótima escolha, já a garota que faz Wendy, a inexperiente Rachel Hurd-Wood, não está tão convincente. Em momento algum ela se surpreende com alguma coisa, nem mesmo com um menino entrando voando pela sua janela perseguindo sua sombra... Como se isso fosse a coisa mais normal do mundo. Mas de certa forma isso nem mesmo é sua culpa, e sim característica de sua personagem. Mas é nessas horas que um bom diretor deve colocar o dedo, fazendo pequenas modificações necessárias para tornar a história mais convincente (coisa que Peter Jackson fez bastante na trilogia O Senhor dos Anéis, conseguindo resultados maravilhosos).

Dos atores, a escolha mais infeliz foi a de Ludivine Sagnier como a fada Sininho. Em ascensão na França (seu país natal), a atriz consegue não transmitir absolutamente nada, ou melhor, transmite uma certa antipatia. Como sua personagem não fala, ela se expressa (ou deveria se expressar) através de gestos e expressões faciais, mas falha terrivelmente, criando uma personagem um tanto artificial - para contrastar, basta observar a indiazinha, que aparece em poucos momentos, que também não fala, mas transmite muito mais apenas com suas expressões. Em compensação, ela pode ser vista em um melhor papel em Swimming Pool, que estreiou recentemente no Brasil. Ao menos a mídia tem elogiado.

Jason Isaacs tem participação dupla, com resultados distintos. Ótimo como Capitão Gancho, pouco convincente como pai da Wendy. Poderia ter sido mais bem aproveitado. Suas cenas com Pan são muito boas, tendo até um certo grau de violência. Uma pitada de humor negro o tornaria perfeito. Destaque para Richard Briers, como Smee, que apesar de aparecer pouco, consegue sempre dar um certo brilho ao personagem.

No mais tudo está OK. O figurino bem arranjado, músicas bem orquestradas (é claro que nada comparado ao ótimo trabalho de John Williams em Hook, mas não decepciona). O enredo dá umas escorregadas, em alguns momentos os cortes são perceptíveis, mas nada que prejudique o resultado final.

E por falar em final, alguns podem ficar decepcionados com o final reservado aos Meninos Perdidos. Na verdade não sei se na história original é como nos foi apresentado, pois o filme parece muito mais baseado na versão da Disney do que na obra original. De qualquer forma, Peter Pan é um bom filme que tem tudo para agradar tanto as crianças quanto aos adultos. Principalmente àqueles que guardam dentro de si um pouco do personagem.

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