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Críticas

Cineplayers

Pânico 4 consegue rir de si mesmo na medida certa e se manteve interessante, ainda que como comédia e paródia.

7,0

Em 1996, Pânico (Scream) revitalizou o gênero dos filmes de terror ao utilizar humor e sátira em meio a sustos e mortes elaboradas. Com uma ficha técnica oriunda da TV (Neve Campbell estava em Party of Five, Courtney Cox em Friends, o roteirista Kevin Williamson foi o criador de Dawson's Creek) e de pessoas que não estavam no auge de sua filmografia nos cinemas (Drew Barrymore, o diretor Wes Craven), o filme foi uma proeza, e foi uma agradável surpresa constatar que tantos “talentos” conseguissem, de forma inteligente, subverter clichês do gênero enquanto inconscientemente criavam toda uma nova leva de regras a serem utilizadas nos anos seguintes.

Desde então, duas continuações foram realizadas, nenhuma à altura no original. Em Pânico 2 (Scream II, 1997) contava ainda com a presença de seu criador, e estava tão em alta que entre as milhares de participações especiais (Sarah Michelle Gellar, Jada Pinkett Smith, Omar Epps, Heather Graham, Liev Shreiber, Joshua Jackson, Jerry O'Connell, Portia de Rossi, Tori Spelling, Luke Wilson) constam inclusive nomes como Robert Rodriguez, que dirigiu as cenas de Stab, o filme dentro do filme, na primeira de muitas referências metalinguísticas que permeariam a franquia. As filmagens começaram apenas 6 meses depois da estréia do original, o que demonstra a pressa em lucrar ao máximo com a mina de ouro. Infelizmente, um tempo melhor trabalhando no roteiro teriam ajudado bastante, principalmente no desfecho.

Pânico 3 (Scream III, 2000) foi apenas uma grande piada mal feita, um reflexo do declínio do gênero que o original tinha revitalizado. Foram tantos Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado (I Know What You Did Last Summer, 1997), Lenda Urbana (Urban Legend, 1998) e genéricos, seguidos de paródias como Todo Mundo em Pânico (Scary Movie, 2000), que em pouco tempo ficou claro que aquele jeito inovador de se fazer terror já estava esgotado. A própria franquia começou a cair nos próprios clichês que tentava ridicularizar, e simplesmente encher a tela de personagens secundários prontos para mortes macabras em uma história absurda que ameaçava destruir qualquer lógica que os filmes anteriores tentassem estabelecer, o que não ajudou. O fato de Kevin Williamson ter abandonado o projeto por diferenças criativas também não. Ainda assim, o trio principal Sidney, Gale e Dewey (Neve Campbell, Courtney Cox e David Arquette) continuavam relativamente intactos. Apesar dos exageros, do roteiro absurdo e do humor inteligente ser substituído pelo quase pastelão, a química entre o trio continuava a funcionar, e só por isso, mesmo depois de uma década, talvez ainda houvesse interesse por mais uma sequência.

Kevin Williamson voltou ao comando (em partes) e ganhou novo material para “criticar” quando nos anos 2000 o terror foi “re-revitalizado” pela onda gore de Jogos Mortais (Saw, 2004) e suas inúmeras sequências. Já nas primeiras cenas somos brindados com o que de melhor o roteirista conseguiu criar na linha tanto de alfinetadas alheias até a auto-paródia. As atrizes peitudas da TV aparecem para deixar seu recado, e naquele momento podemos lembrar porque adorávamos tanto o original (e tão pouco as continuações). E uma coisa que eu admiro muito em filmes nesse estilo é saber não se levar tão a sério e saber rir de si mesmo na medida certa.

Infelizmente Pânico 4 escorrega em velhos hábitos. Não é possível que quando Marielle Jaffe apareça em cena, alguém tenha dúvida que ela morrerá em questão de poucos minutos. Peitudas sem talento não duram muito nesse tipo de filme. E o desfile de personagens secundários irritantes e desinteressantes é enorme, e só distraem do que realmente funciona, que ainda é o trio original.

Sidney decide voltar a Woodsboro, cidade onde se passou o primeiro filme, para lançar um livro sobre como superou seus traumas. Lá encontra o atual delegado Dewey, que surpreendentemente não manca mais, nem aparenta ter nenhuma lesão, mesmo depois de ser apunhalado tantas vezes no passado. Gale está infeliz com o marasmo que se tornou sua vida depois de casada, e parece ansiar por alguma série de assassinatos que possam gerar um novo best-seller, mesmo que inconscientemente. Junte-se a isso uma misteriosa tia para Sidney (convenhamos, com a mãe que teve, e o irmão pródigo psicopata, eu teria medo de laços de sangue), uma prima que lembra em muito uma versão high-school 2011 dela mesma, com colegas de personalidades muito parecidas com os amigos que possuía no filme original, e muitas piadas sobre remakes.

De novo, essa foi a parte que funcionou melhor: trazer o velho cenário, e focar no primeiro filme da série, praticamente ignorando os acontecimentos de Pânico 2 e 3. Nossa protagonista não se tornou uma atriz de sucesso, ou uma grande operadora de telemarketing. Pelo contrário, fez o que a maioria das pessoas fariam, lucrar com a “sorte” de ter sua vida destroçada por 5 assassinos em um curto espaço de tempo. Mais do que fugir, se esconder, ou tentar se livrar do seu passado, Sidney parece cada vez mais conformada com o fato que aonde ela for, haverá um louco com uma nova teoria, regras e instinto assassino. E embora lute com o mascarado sempre que ele aparece (uma das poucas que não sai correndo apenas para ser esfaqueada, um bom sinal de que aprende com os erros), não se deixa sucumbir por uma culpa óbvia e desinteressante de que pessoas a sua volta acabam morrendo. Apesar do título original (Scream), ela grita bem pouco, tem ares de Linda Hamilton, evoca mais mulheres fortes e independentes do que as frágeis e vulneráveis tão comuns nessa franquias de terror. E cada nuance tão pouco sutilmente acrescentada a cada novo filme só a tornam melhor.

Embora acerte quando foca no original, o filme erra feio quando tenta acrescentar qualquer fato novo. Embora um personagem filme tudo o tempo todo, e supostamente isso esteja sendo exibido 24h na internet, em momento algum isso é explorado pelo filme. Não basta citar novas regras se não forem trabalhar as tramas que sugerem. Wes Craven já foi muito mais hábil em criar cenas de tensão, e em Pânico 4 esperamos muito mais ansiosos pela próxima piada do que pelo próximo susto. E isso é grave em um thriller de terror.

Mas o item mais polêmico certamente é o terceiro ato, quando descobrimos a identidade do(s/as) assassinos(os/as). Há rumores de que o final foi modificado, refilmado, de que os produtores chamaram Ehren Kruger (roteirista do infame terceiro filme) para dar uma polida no roteiro.

Independente de qualquer fato, a revelação e a justificativa têm causado igual apreciação e irritação nos fãs da franquia. Mas depois de Laurie Metcalf em Pânico 2, e o filho perdido em Pânico 3, acredito que a escolha tenha sido uma evolução e tanto. Talvez o discurso que justifica os assassinatos seja um pouco jogado demais, e acabe soando ridículo e pouco trabalhado. O que é uma pena, pois Pânico, quando acerta numa crítica, pode ser fenomenal. Porém quando erra, beira o risível.

Pânico 4 é um avanço, e talvez um merecido final pra uma franquia que conseguiu descer bastante o nível e merecia ser lembrada como algo melhor. Consegue ser divertido, apesar dos tropeços, e trazer o suficiente do original de volta para satisfazer os fãs. Talvez devessem ter aprendido a lição há mais tempo com a Sidney: “Don't mess with the original”.

Comentários (1)

Osnir Sotério de Lima | sexta-feira, 20 de Janeiro de 2012 - 07:47

Bom passatempo, nada mais que isso. A inovação se limita à inserção de diversos celulares e internet no já manjado esquema das três produções anteriores. Mas no final até que ficou divertido, principalmente para os fãs da franquia.
A mecânica é a mesma de sempre. Sidney chega na cidade e todo mundo começa a morrer, todos são suspeitos até que se descubra ao final quem é o real assacino e seus motivos (normalmente forçados para se enquadrarem no roteiro).
Algums diálogos são, no mínimo, improváveis, para não dizer impossíveis ou até ridículos (um policial,segundos antes de morrer com uma facada na cabeça, fazer piada sobre o Bruce Willis é cruel...).
Contudo, durante a exibição você não sente a hora passar a sai do cinema com aquela sensação de que não jogou seu rico dinheirinho fora. Pânico 4 definitivamente não é um marco do gênero, mas é competente em entreter, divertir e, claro, pregar alguns sustos no público.

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