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Críticas

Cineplayers

O que escrever sobre uma comédia clichê?

3,5

O título acima pode ser equivocadamente interpretado como uma tentativa de trocadilho infame, mas, na verdade, é a primeira pergunta que vem à mente de quem precisa escrever sobre O Que Esperar Quando Você Está Esperando (What To Expect When You’re Expecting, 2012). E tal indagação pode surgir tanto para quem gosta de comédias com várias histórias paralelas – sim, há muitos entusiastas – como àquele preparado para mais um longa-metragem a adotar a fórmula de modo pouco inspirado, já que o novo trabalho de Kirk Jones, de Estão Todos Bem (Everybody's Fine, 2009) se revela um trabalho extremamente anódino, para o bem e para o mal.

Baseado no livro homônimo de Heidi Murkoff, o filme apresenta vários casais às vésperas da chegada de um bebê: Holly (Jennifer Lopez) e Alex (Rodrigo Santoro) formam um casal latino que, impossibilitado de ter um filho do modo tradicional, decide adotar uma criança africana; Wendy (Elizabeth Banks), que profissionalmente enaltece a magia da maternidade mas vive um caso quando, enfim, engravida do atrapalhado Gary (Ben Falcone) – que, para agravar seu tormento, vê a jovem Skyler, (Brooklyn Decker), namorada do pai cinquentão e esportista (Ramsey, Dennis Quaid), permanecer linda e tirar de letra sua inesperada gravidez; Jules (Cameron Diaz) e Evan (Matthew Morrison), celebridades mais preocupadas com sua carreira na TV que na criação do bebê num relacionamento a dois; e também vemos Rosie Anna Kendrick) e Marco (Chace Crawford), casal jovem e improvável que se adequa às diferenças para o bem de uma gravidez acidental – única subtrama que porta consigo o mínimo de carga dramática.

Como novidade ao precoce clichê de comédias envolvendo múltiplas histórias que se cruzam num dado momento, o roteiro de Shauna Cross e Heather Hach apresenta um pequeno núcleo paralelo: um curioso grupo de pais liderado por Vic (Chris Rock), mais sábio por possuir o maior número de filhos. Ao expor suas idiossincrasias ao inseguro Alex, essas figuras estereotipadas e desajeitadas são responsáveis pelos melhores momentos do filme, ainda que nenhum seja especialmente engraçado – prova disso é o destaque dado ao pequeno Jordan (interpretado pelos gêmeos Resan e Reginald Womack), explorado como artifício para razoável quantidade de gags. Tal aspecto, então, realça ainda mais o desinteresse das outras histórias. Se o grande pecado de Woody Allen em Para Roma Com Amor (To Rome With Love, 2012) foi não manter a linearidade de suas quatro histórias, o filme de Kirk Jones até se mostra regular, mas por todas as situações serem igualmente desinteressantes, nada envolventes.

Também vale dizer que os problemas do filme nem podem ser atribuídos ao elenco. Ben Falcone é naturalmente engraçado, Brooklyn Decker sabe como ninguém viver a inofensiva loira fútil, Dennis Quaid está devidamente fanfarrão na pele de um “vovô-garoto”. Nesse mesmo núcleo, percebemos o mais notável esforço na comédia, de Elizabeth Banks, que ainda ganhou a companhia da impagável comediante Rebel Wilson – que mais uma vez surge num papel dispensável à trama, aparecendo apenas para fazer graça. Porém, quem teria mais motivos para reclamar de sua personagem é J.Lo, prejudicada no corte final por ficar um bom tempo fora de cena (Santoro não, pois estava sempre reunido com os pais do Central Park) por conta do mau desenvolvimento de sua história, a mais inócua de todas. O desfecho longo e desnecessário dessa história fará o espectador lembrar-se de outro péssimo filme da atriz, Plano B (The Back-up Plan, 2010).

O Que Esperar Quando Você Está Esperando não possui o elenco estelar de Noite de Ano Novo (New Year’s Eve, 2011), nem se apresenta como uma novidade com um décimo da eficácia e ternura de Simplesmente Amor (Love Actually, 2003). No entanto, seu anunciado desempenho inferior nas bilheterias deve ser atribuído ao fato de ser uma comédia fraca, que preenche lacunas de boas piadas com personagens e situações clichês que não surtem mais o efeito pretendido, por ser uma obra que baseia-se (e falha) no “fazer rir” puro, simples e fácil etc. Mas lamentável mesmo é constatar que esse filme torna ainda mais flagrante a ausência de criatividade na cada vez menos inventiva Hollywood, que ao fundir best-seller com formato explorado continuamente nos últimos anos não consegue nem repetir o sucesso dos modelos consideravelmente superiores em que se inspirou.

Comentários (4)

Rodrigo Torres | sexta-feira, 24 de Agosto de 2012 - 12:20

Entendo perfeitamente, Rafael. O filme não incomoda muito (tive vontade de sair da sala enquanto assistia à Saga Molusco, por exemplo), mas a gente para, pensa nele e vê que pouca coisa se salva. Enfim, não me causaria revolta ver uma nota 6 dele, mas achei essa a mais justa.

Rique Mias | sábado, 25 de Agosto de 2012 - 21:42

Haha, gostei do Título.

Ricardo Marques | segunda-feira, 03 de Setembro de 2012 - 14:44

Realmente fraco e, me desculpem os fão de Santoro, mas a interpretação dele nesse filme está sofrível. Fica claro que ele está tão preocupado em entender e falar bem o inglês, que parece esquecer que está atuando.

Camila Gomes | segunda-feira, 10 de Setembro de 2012 - 11:12

O filme é muito fraco!!! Pelo elenco e título eu confesso que esperava uma comedia "assistivel" no minimo.
Mas achei pior que isso!
Ponto fraco do filme: Todo o seu contexto.
Ponto Alto do filme: O menino Jordan, que coseguiu aos 45 do segundo tempo, tirar um sorriso meu ao tomar uma "latada" na cabeça. Rs!
😁

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