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Críticas

Cineplayers

Payne retorna em filme emocionante e divertido sem ser piegas.

9,0

Nebraska (idem, 2013) é o mais novo filme de Alexander Payne, um diretor que o que tem de pouco prolífero, tem de consistência em qualidade e tema. Sua filmografia evolui constantemente e com grande sensibilidade sobre temas como família, perdão, complexas relações entre seus personagens principais, mas sem perder o bom humor, e sempre de forma pouco arrogante. Mesmo em um filme em preto e branco, e com um roteiro tão profundo, poucos filmes no ano de 2013 serão tão palatáveis para um grande público. Assim como Argo (idem, 2012), no ano passado, é difícil encontrar um filme que fale tão abertamente e tão honestamente com tantas pessoas, e a baixa rejeição ao filme pode fazer desse pequeno e despretensioso filme um azarão na próxima temporada de prêmios.

Bruce Dern (escolhido melhor ator em Cannes) interpreta Woody Grant, um homem idoso e alcoólatra que recebe uma carta pelo correio avisando que ganhou 1 milhão de dólares. Uma clara propaganda enganosa, mas que o faz embarcar numa road trip com seu filho, o frustrado David Grant (Will Forte), um vendedor não muito bem sucedido e com sérios problemas no relacionamento. A viagem traz a tona todos os problemas de relacionamento esperados que os anos de excesso de bebida de um, e a falta de força e personalidade do outro, poderiam trazer. Como se isso já não fosse o suficiente para gerar um bom estudo de personagens, somos rodeados por figuras incríveis, que transitam entre o insuportável e o imprescindível, seja pela esposa de Woody (incrível June Squibb, com as melhores tiradas), ou o filho bem sucedido do casal Ross (Bob Odenkirk), ou os milhares de personagens que vagam pela cidade de Hawthorne.

O roteiro, o primeiro que Alexander Payne filma sem ser de sua autoria, merece muito do mérito do filme. Embora seja difícil em um filme tão redondo, onde tudo funciona tão bem em seu devido lugar, apontar algo que se destaque, é no roteiro de Bob Nelson que está o coração do filme, numa história tão simples, mas tão emocionante, e ao mesmo tempo engraçada e divertida. É o coração do filme, ainda que sua genialidade as vezes possua um timing que lembre o de uma sitcom. Dá pra sentir a piada se formando, os atores levantando as bolas que serão cortadas em seguida. Não que isso seja ruim, pois o resultado final funciona. E como todo bom momento cômico, nos faz rir, o que é o essencial.

Durante o curto período que acompanhamos os personagens no filme, temos apenas pequenas imagens sobre o que deve ter sido a vida de cada um deles, e como as relações podem ter se deteriorado. Não sabemos tudo o que viveram, mas compreendemos as suas dores. Não esperamos o perdão, mas entendemos a necessidade de querer lidar com tudo o que aconteceu. A idade avançada de Woody e sua falta de lucidez ocasional trazem um tom de urgência, de finitude. Ele não tem muito tempo para corrigir seus erros, e nem pretende. Will, que poderia desistir de seu pai, e não ser julgado por isso, tendo em vista tudo o que passou e os constantes abusos verbais que sofre, insiste, pois sabe que pode ser sua última chance de salvar a relação que mais deu errado em sua vida.

Nebraska pode ser considerado um road movie. Mas a viagem que importa é muito mais dos personagens, das suas relações. E o que poderia ser uma história triste, melancólica e pesada, se torna divertida, ainda que reflexiva. Um dos raros casos de filmes emotivos, sem ser piegas, engraçado ainda que inteligente, de fácil identificação com o grande público, sem ser medíocre.

Comentários (28)

Carlos Dantas | quinta-feira, 13 de Fevereiro de 2014 - 22:28

Só tem BEBERRAUM por aqui, hein

Daniel Oliveira | terça-feira, 18 de Fevereiro de 2014 - 17:46

Esse filme foi uma surpresa pra mim. Esperava não gostar tanto, mas fiquei bastante feliz com o resultado final. Payne é hábil em fazer humor com uma história essencialmente dramática, e faz isso como ninguém.

Escrevi uma crítica no meu blog, caso queiram conferir ;)
http://cinefilosantista.blogspot.com.br/2014/02/critica-nebraska.html

Caio Henrique | quinta-feira, 20 de Fevereiro de 2014 - 09:40

O tipo de filme que você assiste com umas doses de whiskey na cabeça...

Patricia Alves Tinoco | quinta-feira, 20 de Fevereiro de 2014 - 18:24

Muito linda a delicadeza amorosa do filho em relação ao pai mesmo que este tenha estado ausente na maior parte da vida daquele.Podemos sentir o prazer do filho com o que está proporcionando para seu pai.Lindo filme.

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