Um musical frenético que reinventou o gênero no início dos anos 2000.
Um filme que chegou de fininho no Festival de Cannes, foi lançado em poucos cinemas nos Estados Unidos e poucos meses depois já era reverenciado pelo mundo todo. Moulin Rouge foi um dos maiores eventos cinematográficos dos últimos anos, dando um suspiro de alívio ao cinema americano em um ano - 2001 - onde os filmes foram marcados por produções especialmente abaixo da média, muitas histórias revistas, recontadas, refilmadas e pouca originalidade. Mesmo tendo ganho somente U$ 175 milhões ao redor do mundo (quantia considerada pequena para um filme tão comentado quanto), Moulin Rouge ganhou milhões de fãs e críticos, e já pode ser considerado um clássico do cinema.
O diretor responsável por tudo isso é o australiano Baz Luhrmann, que já tinha tido destaque (menor, é verdade) quando, na metade da década de 90, trouxe às telas uma versão moderna, exagerada e, acima de tudo, ousada de Romeu e Julieta, interpretada por Leonardo DiCaprio (Titanic) e Claire Danes (Mod Squad). Em Moulin Rouge ele ousou mais ainda. Ousou, e acertou o tom. Seu novo filme é um musical diferente de tudo que se vê hoje no cinema, inclusive diferente dos próprios musicais de antigamente (o auge do gênero foi a década de 60, com "A Noviça Rebelde"). As cores são exageradas, os personagens excepcionalmente extravagantes, a música, à princípio, não tem nada a ver com o roteiro do filme (leia bem: à princípio). Misture tudo isso e teremos, junto com interpretações aguçadas de Nicole Kidman (linda no filme) e Ewan McGregor uma fórmula que encanta, diverte, emociona e que, ao final do filme, é difícil de não ficar marcada, talvez pra sempre, dentro de sua cabeça.
Christian (Ewan McGregor) é um jovem inglês sonhador que chega a Paris no ano de 1899 com o desejo de se tornar um escritor. É a virada do século e a cidade vive uma revolução artística riquíssima em qualidade (que de fato ocorreu e só foi parar na crise da economia mundial, no final da década de 20). Logo Christian vê-se escrevendo uma peça denominada de "Espetacular Espetacular". Acaba também conhecendo Satine, uma cortesã (que é um nome mais macio para "prostituta"), por quem acaba se apaixonando. Mas para financiar a peça surge um duque, que em troca de dinheiro acaba exigindo "exclusividade" sobre Satine. O filme, a partir daí, evolui com este triângulo amoroso - Duque, Satine e Christian, até um final de tirar o fôlego.
O enredo realmente não parece ser original, e de fato não é! Porém, a forma como a história, deste que é apenas mais um amor proibido, é contada, através de musicais, é que impressiona. Baz decidiu utilizar músicas contemporâneas para ilustrar a história ao invés de escrever suas próprias músicas (o que seria arriscado e dificilmente daria certo). Portanto, temos na trilha sonora do filme desde Madonna até Fatboy Slim, David Bowie, Bono, etc., etc., etc. Há uma canção original, "Come What May", que é também uma das mais bonitas do filme. O melhor de tudo isso é que a interpretação das músicas pelos atores é fantástica: Nicole Kidman, Ewan McGregor, John Leguizamo e Jim Broadbent, em pessoa, é que cantam as músicas. A maioria dublada depois das gravações em estúdio, mas muitas cantadas mesmo ao vivo. E o resultado é excelente.
Embora possa não parecer, todas as filmagens do filme passam-se dentro de um imenso estúdio da Fox, na Austrália. Mas esqueça as telas azuis: Baz fez questão de recriar todos os detalhes em cenários construídos manualmente, um trabalho muito apurado. Curioso o fato de que, depois de acabado o filme, todos os cenários foram destruídos sem dó para dar espaço às filmagens de "O Ataque dos Clones", que começariam logo após as de Moulin Rouge. Essas imagens da destruição podem ser vistas no DVD duplo do filme. Só por curiosidade, o filme conta com uma ponta da cantora pop Kylie Minogue, que faz a fadinha verde, que pode ser vista no início do filme.
Outro ponto a se destacar é o incrível carisma dos personagens coadjuvantes. São figuras estranhas, como o "gnomo" interpretado por Leguizamo (de "O Verão de Sam"), uma figura altamente apaixonante, que nos faz rir com sua alegria mas nos emociona em seus momentos tristes; ou mesmo o careca que é segurança do duque, um personagem que, mesmo não abrindo a boca no filme inteiro, tem momentos muito divertidos.
Moulin Rouge é um filme para ver, rever e ter em casa. Se você ainda não assistiu, é altamente recomendável que o faça agora. Dificilmente você vai ficar indiferente ao filme.
Minha professora de Estrutura de Roteiros disse que as cores branco, azul e vermelho, são referências para a bandeira da França. Um exemplo é no começo do filme quando mostra Satine (Nicole Kidman) no começo do filme com seus olhos azuis, cabelo vermelho e pele bem branca.