Um dos melhores trabalhos cômicos que o cinema já viu, dirigido pelo estranho diretor Terry Gilliam.
É quase consenso entre cinéfilos e boa parte da massa crítica que Monty Python em Busca do Cálice Sagrado é a melhor comédia já criada em todos os tempos, pelo menos do tipo pastelão. Inspiradora de centenas, talvez milhares de comediantes ao redor do mundo, a trupe inglesa realizou uma obra-prima do gênero, conseguindo de maneira nada sutil fazer rir e também criticar a sociedade britânica da Idade Média (!!!). Um dos diretores é ninguém menos que Terry Gilliam, hoje ainda um dos mais regulares na ativa (seus filmes geralmente são obras-primas, ou no mínimo incríveis - Brazil - O Filme, Os Doze Macacos são exemplos disso). Também dirige a obra Terry Jones, do grupo de atores comediantes. Ambos possuem vários papéis dentro do filme, ou seja, fazem o trabalho de direção e de atuação, provando seu talento nato para o gênero.
A história se passa durante a Idade Média, na Inglaterra, onde o Rei Arthur parte numa jornada em busca de pessoal para formar o grupo conhecido como os Cavaleiros da Távola Redonda. Quando consegue formá-lo (além dele estão Sir Lancelot, Sir Robin e Sir Galahad) recebem a missão divina (literalmente) de encontrarem o cálice sagrado, que está escondido em algum lugar do reino britânico. Para isso, separam-se em grupos, cada um liderado por um dos quatro principais integrantes, e todos só se reencontrarão perto do final. Cada grupo vive uma aventura diferente, uma mais sem sentido que a outra, mas todas elas renderão enormes risadas (parece anúncio de televisão, mas é a pura verdade).
O humor encontrado no filme, mesmo que não seja atemporal (veja o próximo parágrafo), é ainda afiado e, como já foi dito, serve também de crítica à alta sociedade na Idade Média (e, por que não, à atual, de certa forma!?). O que dizer, por exemplo, da discussão entre o Rei Arthur e um pobre e desmazelado camponês sobre Monarquia? É um texto perfeito, aliado a um timing cômico magistral. O filme possui uma cena memorável atrás da outra, e há inúmeros detalhes que exigem atenção e fazem valer uma revisitada. Cálice Sagrado é, antes de tudo, uma comédia pastelão. A cena final é talvez a coisa mais absurda e sem sentido já filmada dentro do cinema, uma espécie de auto-paródia, ao mesmo tempo que tenta criticar todo aquele modo de vida sem sentido, até mesmo ridículo, motivado pela imensa ignorância provida nas pessoas durante a Idade Média (a teoria, por exemplo, de provarem que uma mulher é bruxa é ao mesmo tempo engraçada e triste, já que a realidade não era menos absurda).
Recentemente eu tive uma espécie de "experiência" ao assistir esse filme com duas pessoas (leia-se: meus pais) que não podem nem serem cotados como parte do público casual, ou seja, aquele que vê filmes apenas de vez em quando, dando sempre prioridade a títulos comerciais de Hollywood ou produções nacionais, que atualmente estão muito populares. Meu interesse foi ver se eles achariam o filme tão hilário quanto eu achei na primeira vez que assisti (já que depois, como todas as comédias, as piadas perdem a força e o filme torna-se mais divertido do que engraçado). O resultado foi negativo: risadas dispersas e um tanto quanto desinteressadas. Creio que, portanto, este não seja um filme para o grande público atual, embora ele tenha envelhecido muito bem, visto que o tema "Idade Média" é genérico, e muitas comédias hoje em dia são lançadas sobre ele. Mas o ritmo não é moderno, no sentido de rápido, e as piadas visuais não são lá muito apelativas (ainda que sejam geniais).
Criado como uma espécie de filme de baixo orçamento, propositalmente, Cálice Sagrado encontra soluções muitas vezes incríveis para cenas teoricamente difíceis. O maior exemplo é quando o grupo encontra um monstro de várias cabeças em uma caverna, perto do final do filme. Ao invés de tentar criá-lo na vida real, a solução – barata – encontrada foi utilizar animação – também da mais barata possível – para realizar a cena. Esse artifício é utilizado várias outras vezes dentro do filme, sempre de maneira original e bizarra (afinal, estamos falando de um filme dirigido por Terry Gilliam). Os efeitos especiais também são deliberadamente baratos, como na cena (a mais engraçada do filme) do coelho assassino ou na luta entre os dois cavaleiros (a segunda cena mais engraçada do filme). Maquetes malfeitas também foram utilizadas, fato que é citado pelos personagens na seguinte passagem (retirada do site IMDB):
Lancelot: Olhe, meu rei.
[soam trombetas]
Rei Arthur: Camelot.
Sir Galahad: Camelot.
Lancelot: Camelot.
Patsy: É somente uma maquete.
Rei Arthur: Shh.
Monty Python em Busca do Cálice Sagrado está entre as melhores e mais importantes comédias de todos os tempos sim (nos anos 70, o grupo dominou o gênero ao lado do diretor Mel Brooks). Com ousadia imensa para a época, uma enorme quantidade de cenas antológicas para o gênero, e multi-interpretações geniais por parte de cada um dos integrantes do Monty Python, além do próprio diretor Terry Gilliam.
Uma obra-prima!
Filme é hilário do inicio ao fim... Pena que as continuações ficaram bem abaixo deste...