Um milhão de espectadores. Dois milhões. Cinco milhões. O mercado de comédias brasileiras só faz crescer. Os números milionários surgem agora com uma naturalidade surpreendente. É o cinema nacional no seu auge. É? Antes de Minha Mãe é Uma Peça - O Filme (idem, 2012) ter início, a sala de cinema em que estive submeteu seus espectadores a nada menos do que cinco comédias a estrearem nas próximas semanas ou meses. Todas elas com aquela pincelada americanizada (uma em particular parece uma remontagem de The Hangover) e rostos conhecidos da televisão aberta. Se fizessem um jogo de adivinhações do tipo “a qual filme pertence esta cena?”, poucos acertariam, tamanha é a similaridade visual e o tom das cenas entre todos esses futuros “sucessos” de bilheterias. Todos, é bom destacar e não por coincidência, sob a mesma bandeira.
E o que todo esse tom reclamatório tem a ver com Minha Mãe é Uma Peça – O Filme? Tudo! E nada! Esta é apenas mais uma laranja aleatória do pacote. Isso pouco importa, a sala se divertiu à beça. Pois o filme é (de novo) baseado em uma peça de sucesso nos palcos das grandes metrópoles. E é esse o motivo pelo qual todos esses filmes estão sendo lançados a rodo: eles são investimento de baixo risco e alto retorno para seus produtores por serem fáceis para o público. De todas as classes. Dialogando com a voz das classes média e baixa, além de satirizar, sem grandes ofensas, a classe alta, o filme tem seu espectador garantido. Em diferentes graus de semelhança, todos se identificarão com as peripécias da Dona Hermínia (uma atuação energética demais de Paulo Gustavo); todos verão em seus filhos um pouco dos filhos da desbocada mulher, e entenderão, mais uma vez, que não são os únicos a passarem por todas aquelas provações que as crianças proporcionam a seus pais. Ainda bem.
Pouco importa os valores de produção, se a estrutura baseada em flashbacks pobres e totalmente desestruturados está lá apenas para consumir película, e a solução da trama é visível desde que ela se inicia. Minha Mãe é uma Peça ganha na força bruta, pelo seu histerismo, piadas fáceis com gordos e homossexuais (entre outros), sempre tentando não ofender, mas nunca deixando de fazê-lo, apesar de que isso também é irrelevante, se o objetivo é proporcionar riso solto, certo? Apesar de querer vender “realidade do povo nas telas”, o filme atropela o bom senso, mas acredito que é disso que a comédia é feita: de exagerar a realidade. Esse exagero proporciona a distância saudável que o espectador precisa para se identificar na tela e se divertir sem culpa ao mesmo tempo. Ponto para a produção, neste caso.
É verdade que o tal histerismo funciona, foi fácil medir dentro da sala de cinema. Minha Mãe é Uma Peça proporcionou mais risadas que obras populares recentes como Os Penetras (idem, 2012), Até Que a Sorte Nos Separe (idem, 2012) e afins. Isso porque o timing cômico de Paulo Gustavo é provavelmente melhor do que a desses outros comediantes. Mas mesmo essas obras à época (leia-se: 2012) arrastaram milhões aos cinemas e hoje são esnobadas, funcionando bem talvez só em home vídeo quando não há nada de mais qualidade para assistir; ou seja, são filmes com prazo de expiração curto, e desse destino o trabalho do diretor André Pellenz não escapará.
O pior de tudo é que esses tipos de obras adquiriram os vírus das sequências, já tão conhecidos de obras americanas. São milhões de motivos para não procurarem a cura desse vírus. Até aí tudo bem, faz parte, mas diversificar e ousar de vez em quando é para poucos. Minha Mãe é Uma Peça tem a função primordial de manter o mercado de cinema brasileiro aquecido – muitos dirão que é melhor assistir a este do que a um enlatado similar dos Estados Unidos. Provavelmente estão certos, mas é bem frustrante que nós raramente assistamos algo mais original ou excitante vindo de nossos próprios produtores. Ou que os poucos trabalhos originais e excitantes dos nossos próprios produtores jamais verão a luz do projetor da maioria (grande maioria) das salas dos cinemas. Ou mesmo das estantes das vídeo-locadoras.
''sabe "cinéfilo iniciante" que ama tal filme mas bate o pé pra não perder a pose, então''
😈😈😈
Não sei de onde o Alexandre tirou tanta paciência pra ver essa porcaria!!
O Paulo Gustavo é um bom comediante, apesar do excessivo histrionismo de seu personagem, é o único que se salva no filme.
Aborda mais a cena do cinema nacional, do que o filme em si.