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Críticas

Cineplayers

Típico e digno filme de Sundance.

6,0

Baseado na novela homônima de Emily M. Danforth em 2012, O Mau Exemplo de Cameron Post é inspirado por um triste caso real. Em 2005, o jovem Zach Stark viralizou na internet ao denunciar que, após se assumir gay para a família, foi mandado para o acampamento “Love in Action”, grupo evangélico que visava “curar” jovens de sua homossexualidade.

Agora, o filme estrelado por Chlöe Grace Moretz (Kick-Ass - Quebrando Tudo) conquistou o Grande Prêmio do Festival de Sundance, contando a história de Cameron Post, uma jovem que após ser flagrada com uma colega em um carro na noite do Baile de Formatura é enviada para o centro de conversão “God’s Promise”, onde irá enfrentar uma repressão diária e irá conhecer novos amigos e amigas com quem compartilhará seus dias.

O segundo longa dirigido por Desiree Akhavan (Uma Boa Menina) tem como maior mérito sua habilidade em descobrir empatia entre iguais em um ambiente de alta repressão. Para tanto, investe em uma história tipicamente “coming-of-age” (ou história de formação, de amadurecimento) para enfocar maneira episódica como Cameron oscila entre a auto-repulsa e lenta aceitação de sua orientação sexual. 

Muitas impressões iniciais compararam o filme a uma versão LGBTQ+ de Um Estranho no Ninho por causa da antagonista principal, a homofóbica “psicóloga cristã” Lydia March atuando aos moldes da clássica antagonista Enfermeira Ratched, falsamente simpática, frequentemente opressiva e sempre pregando tanto quanto pode. Personagem que, mesmo sendo bastante unidimensional, acaba funcionando para fins dramáticos de criar tensão.

Entre uma sequência e outra de absurdo homofóbico sendo disparado, o filme cria laços emocionais através de recursos narrativos simples porém funcionais, como Cameron olhando o iceberg (espécie de mapeamento de trauma) de cada aluno ou então realizando pequenas transgressões com os amigos internos Jane e Adam, como plantar um pé de maconha, beber álcool e fofocar sobre Lydia e o Reverendo Rick, a primeira cobaia da instituição.

Com sua narrativa episódica, cortes estratégicos e narrativa pensada (como a noite em que foi flagrada ser contada em pedaços espalhados ao longo do filme), O Mau Exemplo de Cameron Post também tropeça bastante em uma falta de maior causalidade: são vários os momentos  em que algo inusitado ou muito dramático acontece para logo ser esquecido pelo roteiro nas próximas cenas.

Dessa forma, as cenas podem ser avaliadas por si mesmas, especialmente enquanto o filme se encaminha para seu final, que respeita o caráter episódico de mostrar pouco mas dizer bastante, mas como um todo também parecendo um enfileiramento de situações que, pesadas que sejam, a falta de consequência acaba aparentando gratuidade.

Assim, com uma protagonista que mais se cala e observa um coletivo de dramas individuais, O Mau Exemplo de Cameron Post é um digno filme de Sundance, retratando uma situação que infelizmente acontece muito - no Brasil, inclusive - mas que também é quase um arquétipo de filme que é laureado na premiação. Mas ainda que por vezes cinematograficamente redundante em sua narrativa meio despropositada, sem dúvida  é socialmente importante.

Filme visto no Festival de Cinema do Rio de Janeiro

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