4,0
Garry Marshall, o diretor que hoje só é lembrado pelos sucessos Uma Linda Mulher (Pretty Woman, 1990) e O Diário da Princesa (The Princess Diaries, 2001), ficou um bom tempo meio que jogado de canto com comédias inexpressivas até encontrar um filão que vem explorando desde Idas e Vindas do Amor (Valentine’s Day, 2010), que consiste na fórmula de múltiplas historietas bobinhas formando um mosaico romântico passado em alguma data comemorativa. Depois do Dia dos Namorados e do Ano Novo, chegou a vez de explorar a ideia com o Dia das Mães como pano de fundo em O Maior Amor do Mundo (Mother’s Day, 2016), uma tentativa mambembe de comédia dramática para fechar essa espécie de trilogia desastrosa.
O truque pra driblar tamanha falta de imaginação é brindar o filme com um elenco de figurões. Aqui no caso, em especial, temos a união de duas das maiores queridinhas da América, Julia Roberts e Jennifer ‘Rachel Green’ Aniston, musas das comédias românticas, que contracenam juntas pela primeira vez e já garantem o retorno em bilheteria esperado. Enquanto Roberts se revela uma presença de luxo (certamente pagando sua eterna dívida de gratidão a Marshall por tê-la colocado no mapa), Aniston comanda o filme na pele de Sandy, uma mãe divorciada, ainda apaixonada pelo ex, que luta para criar seus dois filhos, e que acaba se interessando por Bradley (Jason Sudeikis), um viúvo e pai de duas adolescentes. Na outra ponta temos Jesse (Kate Hudson), uma mulher que esconde da mãe e do pai racistas que é casada e tem um filho com um indiano. Sua irmã, Gabi (Sarah Chalke), é lésbica, vive com uma mulher, e também não tem coragem de contar a verdade aos pais. Kristin (Britt Robertson), por outro lado, é uma jovem mãe que mora com o namorado, mas não consegue tomar a decisão de se casar porque precisa antes de tudo descobrir a identidade de sua mãe biológica. Onipresente no filme através de suas aparições nas televisões sempre ligadas nas casas dos personagens, Miranda Collins (Roberts) é um tipo de Oprah Winfrey de peruca ruiva e garota propaganda de bijuterias, que parece esconder um segredo sobre seu passado.
As tramas são todas água com açúcar e, por incrível que pareça, exploram esse tema de dias das mães da forma mais superficial possível, de modo que do meio para o fim nem lembramos que, na teoria, se trata de um filme sobre a data. Tudo isso porque Marshall lida com a figura feminina de forma estereotipada, tratando as personagens como mulheres emocionalmente desequilibradas, carentes, dependentes, e incapazes de lidar com qualquer problema que possa surgir. A maternidade soa como um papel acidental no qual nenhuma delas se encaixa e a ligação com os filhos é sempre banal ou óbvia demais. A única trama pé no chão é a de Sandy, que sente sua relação com os filhos abalada com a chegada de uma madrasta bem mais jovem e divertida. A relação dela com Bradley também é tecida de forma sutil e secundária, valorizando seu lado mãe e não seu lado “solteira à procura”. Preenchendo as lacunas há o eterno time de amigos coadjuvantes engraçadinhos e irrelevantes.
Sem senso de ritmo e de lógica, Marshall não consegue criar nenhuma situação genuinamente engraçada e não arranca sequer um meio sorriso da platéia, restando apenas apelar o máximo que pode nas passagens dramáticas para provocar pelo menos alguma emoção no espectador. Cabe então ao time de atrizes abusar do próprio carisma para defender suas personagens, o que Roberts e Aniston fazem muito bem, enquanto Hudson acaba sobrando, visto que seu núcleo é o mais complicado, mas também o mais esquecido pelo roteiro. Como todo filme do tipo, os conflitos se resolvem magicamente em apenas alguns minutos e tudo se encerra num final feliz chocho e inverossímil. Não há muito que se fazer diante disso, mas as mamães mereciam uma lembrança bem melhor.
O que houve com Julinha, Heitor? 😎
Ela ainda se salva no filme hihihi 😋
Que bom 😋
Gosto muito de filmes com múltiplas histórias, apesar de raramente serem muito bons.