O cinema de ação hollywoodiano encontra um novo vilão.
Ninguém levou muito a sério essa ameaça recente dos norte-coreanos de bombardear os EUA, até porque não tem como levar a sério as declarações impensadas de um maluco com delírios de grandeza que governa um país menor que a maioria dos estados brasileiros. Claro que na nossa realidade, essa ameaça dificilmente se concretizará, a menos que a Coreia do Norte ganhe mais aliados (como a China) ou passe a atacar sua irmã do sul, ou o Japão, apenas para provocar uma reação nos americanos. Independente dos rumos que essa situação venha a tomar, Hollywood já se mostra antenada há tempos nesse bate-boca e, cansada de jogar o cargo de vilania nos países do Oriente Médio, decidiu eleger os norte-coreanos como seus novos carrascos dispostos a fazerem de tudo para macular o orgulho da nação americana. Mais especificamente, um ataque direto à Casa Branca, lar do homem mais poderoso do mundo (e, nesse caso fictício, também o homem mais íntegro).
O recente remake de Amanhecer Violento (Red Dwan, 1984), substituiu os soviéticos do filme original por norte-coreanos, que invadem uma cidade americana com ampla força militar (embora nem os próprios roteiristas consigam decidir se são mesmo norte-coreanos ou se são chineses, que para eles devem ser a mesma coisa, ‘orientais’). O pífio G. I. Joe – A Origem de Cobra (G. I. Joe: Rise of Cobra, 2009) também tenta, com seu pseudo-roteiro, colocar a culpa nos ‘asiáticos’. E agora é a vez de Invasão à Casa Branca (Olympus Has Fallen, 2013) aderir à moda e usar a desculpa de estar fazendo um filme sobre temas muito atuais (“relevantes”, diriam os mais cínicos) para descarrilar aquela fila de clichês insuportáveis, que vai desde a vitimização do presidente, até a estereotipagem do vilão frio e calculista oriental.
Não se deixe enganar pelo cartaz do filme, que sugere com a imagem da bandeira americana pegando fogo sobreposta à imagem da Casa Branca a ousada ideia de cutucar algumas instituições sagradas por aqueles lados. Não, este é apenas mais um ordinário trabalho comercial sem cérebro que aposta todas suas fichas em ininterruptas cenas de ação. O truque mais do que desbotado é jogar uma penca de informações de caráter “ultra-secreto”, encher a tela com diálogos acelerados, cheios de termos técnicos, para dar ao espectador a sensação de não estar entendendo nada sobre a trama inicial, quando na verdade eles não estão dizendo nada que faça algum sentido. Faz tudo parecer inteligente e intrincado, quando nem mesmo o diretor sabe o que está acontecendo. Por fim, colocam em cena um sanguinário vilão falando grosso e em outra língua, que parece enfim situar o espectador e deixar claro que dali para frente vai ser o típico embate do bem contra o mal e que nada dito até então se mostra necessário para entender alguma coisa.
Dito isso, fica quase redundante descrever a sinopse. Mas vamos lá. O ex-agente do serviço secreto do governo, Mike Benning (Gerard Butler) foi afastado do cargo depois de uma crise com o presidente Benjamin Asher (Aaron Eckhart). Mas agora que a Casa Branca foi invadida e ele é o mais próximo de um agente treinado que eles têm para usar e salvar o presidente lá dentro do local, o governo terá de voltar a confiar em Mike. O obelisco de Washington é destruído, e junto com ele é afetada a imagem de virilidade e força militar dos EUA, por isso os danos devem ser imediatamente revertidos (aliás, eles amam destruir os monumentos famosos em filmes assim, vide a coitada da Estátua da Liberdade, que desta vez só escapou porque não fica na capital).
Butler assume o papel de cara durão traumatizado que deve voltar à ativa porque, no fundo, sente a obrigação de proteger com orgulho sua nação. Eckhart é o presidente preocupado e indefeso, cheio de virtudes e códigos de moral. Melissa Leo é a presença feminina obrigatória, na pele daquelas mulheres fortes e super eficientes que fazem as coisas engrenarem por trás dos bastidores. E Morgan Freeman preenche a cota de coadjuvante de luxo desimportante, que só ganha alguma atenção porque é Morgan Freeman. E, claro, tem o agente de caráter duvidoso, que fica a cargo de Dylan McDermott.
Mesmo em um fantasioso thriller hollywoodiano fica difícil engolir a história de um país tão pequeno e despreparado como a Coreia do Norte reunindo força o suficiente para tocar o terror em poucos minutos na capital dos EUA, mas sem estrutura para lidar com apenas um agente bem treinado que salva o mundo mais uma vez. A desculpa do agente duplo que organiza tudo já não cola mais, muito menos a tentativa de fazer os coreanos parecerem extremamente malvados, batendo mesmo em mulheres sem piedade. Resta então acompanhar a boa e velha correria, as explosões, as frases de efeito e apostar até quando vai essa nova moda de Hollywood de usar de forma tão pueril a Coreia do Norte como sua mais nova fonte de inspiração vilanesca. Dá até saudade dos barbudos de turbante que viraram moda na época da Guerra do Golfo e do atentado de 11 de Setembro.
Quem sabe um dia se passar na sessão da tarde eu assista...
Há muito tempo não assisto um filme que eu realmente goste muito, mas esse foi um que me deixou a certeza que eu odiei...terrível!
Ação ininterrupta, explosões, tiros e um festival de clichês já mostrado inúmeras vezes no cinema.
Filme muito ruim. Butler só tem errado desde seu já icônico Leônidas em 300. Nem é tão mau ator, mas só pega papel ruim em filme ruim.