Um filme com a cara de Sidney Pollack, mas ainda mais chato que de costume.
Devo confessar: não gosto do diretor Sydney Pollack. Ele cometeu Entre Dois Amores, um dos filmes mais chatos de toda a história, que inacreditavelmente venceu um punhado de Oscar, além de filmes descartáveis como A Firma, Sabrina (a refilmagem) e Destinos Cruzados, este seu último trabalho até então. Seis anos foi o hiato até que ele lançasse A Intérprete, que junta pela primeira vez nas telas dois grandes astros do momento, Nicole Kidman e Sean Penn.
Mas se eles queriam fazer um bom filme juntos, deviam ter avisado antes aos – cinco! – roteiristas, entre eles o renomado Steve Zaillian, que já venceu o Oscar pelo roteiro de A Lista de Schindler e que aqui deve ter feito o seu pior trabalho – e olha que ele já fez Hannibal. O mote central de A Intérprete é tão primário, tão banal, que eu o comparo a produções B de filmes de ação para astros decadentes. Algo como Jean-Claude Van Damme no papel que é interpretado por Penn e Yancy Butler (quem!?) no papel de Kidman. Tudo a ver.
Vamos lá: Nicole Kidman é Silvia Broome, a intérprete do título que é funcionária das Nações Unidas e que, acidentalmente, ouve uma ameaça de morte a um chefe de estado de um fictício país africano, planejada para ocorrer em plena assembléia. Ela comunica o fato às autoridades e passa a ser ameaçada de morte. Entra então em cena o agente secreto Tobin Keller (Sean Penn), que é incubido a investigar o caso e descobrir se a denúncia feita por Broome é verdadeira.
O filme começa com sua provável melhor cena (a do ônibus também é excepcional, mas algo parecido já tinha sido feito em Nova York Sitiada). No tal país africano, Matobo (que poderia ser tranqüilamente ser um Zimbábue, ou uma Nigéria), algumas pessoas envolvidas com a guerra descobrem uma espécie de depósito de corpos dentro de um estádio de futebol, para logo em seguida serem fuzilados por um adolescente. A ação é transferida então para Nova Iorque, sede da ONU, onde a trama principal se desenrola.
Pollack aproveita ao máximo as locações na verdadeira sede das Nações Unidas – o filme foi a primeira produção a obter autorização a filmar no lugar –, mas não consegue, por culpa do roteiro e de sua própria limitação em ditar o ritmo do filme, fazer com que a história se torne interessante ou, ao menos, plausível. É difícil acreditar, por exemplo, que Silvia soubesse exatamente o raro dialeto da ameça, ou que um personagem que poderia ter vital importância na trama se suicide sem motivo aparente. Além disso, o envolvimento entre os personagens de Kidman e Penn é tão clichê, tão batido – ambos se aproximam por estarem sofrendo por seus passados traumáticos. Que vontade de chorar...
O filme, na questão de seu andamento, é a cara do seu diretor. Pollack jamais soube cadenciar seus filmes (basta lembrar o supracitado e madorrento Entre Dois Amores), e aqui, quando o filme precisa de uma agilidade maior, ele quase pára, e quando precisa ser lento, quase morre. É quando dá aquela indefectível vontade de dormir. E os atores não ajudam em nada a melhorar a situação: Nicole, com um sotaque horrível e totalmente forçado, repete as expressões assustadas de Os Outros e nada mais – curiosamente, o papel era inicialmente de Naomi Watts, que desistiu do papel quando soube que a amiga Nicole queria interpretar Silvia. Já Penn mantém seu habitual distanciamento e, em certo momento, faz umas caretas horrorosas. E é uma pena que um atriz talentosa como Catherine Keener (Quero Ser John Malkovich) seja relegada a uma simples coadjuvante, no papel da parceira de Penn.
E o filme desanda de vez quando tenta surpreender o espectador já próximo do final fazendo uma reviravolta desnecessária, dando motivações pessoais a Silvia. Funciona como uma espécie de elo ao embaralhado roteiro, mas deixa ainda mais no ar a sensação de estarmos sendo enganados. Cadê Van Damme?
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