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Interestelar

(Interstellar, 2014)
7,8
Média
731 votos
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Sua nota

Críticas

Cineplayers

Menos é mais, a expressão que Christopher Nolan pena para aprender.

6,0

Apenas uma semana após os cinemas brasileiros entregarem um dos grandes filmes do ano (Boyhood, de Richard Linklater), é muito estranho ter que lidar com outro filme igualmente ambicioso de cineasta idem a tratar do mesmo tema cuja obra de Linklater está pautada: o tempo. Mas os desdobramentos desse mesmo assunto e a forma como ambos são tratados em suas respectivas obras dão o tom das diferenças entre os dois projetos; enquanto a sutileza é o que move a obra-prima vencedora do prêmio de direção no último Festival de Berlim, é o extremo oposto que vemos aqui, um filme tão arrogante que lá pelas tantas fica fácil perceber que o melhor é não levar nada a sério e se divertir a valer.

Vejam: talvez as duas palavras mais utilizadas no texto de Interestelar sejam 'tempo' e 'gravidade' (ironicamente o novo filme de Christopher Nolan nunca ameaça alcançar a magnitude do filme homônimo de Alfonso Cuarón, e talvez fosse esse seu desejo), então nunca é o caso do tempo ser um tema subliminar, muito pelo contrário, ele está em voga em praticamente todas as discussões da produção. Uma das maiores frustrações que senti em relação ao mesmo é se utilizar dele e nunca conseguir ultrapassá-lo e mais, deixar claro o maior problema de sua argamassa. Por que tudo é tão corrido em Interestelar?

A impressão de qualidade na agilidade de edição se esvai assim que percebemos que Nolan está disposto a tratar de assuntos que demandam maturação, que precisam exatamente de tempo de cena para que sejam construídos, assimilados e comprados. Pois bem: não há. Então como se importar com o amor que aparentemente une uma família, quando ele passa como uma flecha na tela? Como se emocionar com um relato da personagem de Anne Hathaway e sua justificativa pra tomar uma decisão se mal tínhamos qualquer dado sobre a situação de sua personagem? Como lamentar a perda de certos personagens se eles são um traço de roteiro, e suas saídas se resumem a... sair?

A massa do bolo dessa vez parece ter ficado maior que a forma, e no fim das contas, mesmo tratando de coisas mais delicadas e pequenas do que costumam tratar as grandes ficções científicas que ele faz questão de "homenagear" a cada 5 minutos, o filme parece não alcançar tais sentimentos. Porque instinto de sobrevivência é primal, mas amor precisa de contato para acontecer e florescer, e tudo que falta ao filme, apesar das 2h45 de projeção, é tempo. Porque há muito a ser mostrado, alcançado, concebido, e tudo está num clima non-stop de situações. A mim, particularmente, o filme não cansou; ou melhor, cansa ele tentar abraçar o que só seria possível com mais 2h de duração. Com 1h sabemos ser humanamente impossível que ele dê conta de tudo, ele não dá e aí sim, o resultado pode até não ser o cansaço, mas logo tomarmos consciência da fragilidade de sua dramaturgia 'veloz e furiosa'.

No fim das contas chega a dar um certo embaraço ao lembrar que um projeto dessa importância toda chegue ao seu fim sem raspar a grandeza de um Árvore da Vida, no sentido de suscitar um debate ou uma análise mais profunda sobre suas infinitas reflexões e parábolas, mas os irmãos Nolan escreveram um roteiro esgarçado demais para o tipo de cinema no qual estão inseridos - e me pergunto se foi rodado muito mais filme ou se eles resolveram mesmo bancar a agilidade pretendida e entregar um produto onde sobram efeitos especiais sensacionais e falta algo tão básico quanto humanidade.

Sei que a essa altura a quantidade de pedras na minha direção por parte dos "Nolan lovers" já terá sido suficiente para que eu construa um prédio, mas mesmo sem me importar com isso deixo claro minha admiração por alguém que sempre tenta entregar o melhor, e que ambição e ousadia são produtos tão escassos em Hollywood que sempre será melhor louvar que rechaçar. O filme tem sim momentos de imensa beleza de produção, cenas complicadas sempre com uma cara muito mais mecânica do que qualquer outro cineasta faria (o que só engrandece o filme, torna-o, apesar de tudo, "real"); seus atores estão em plena forma e o filme não os emburrece ou veste a eles com cenas grandiloquentes porém vazias. Mas se espaçadamente Interestelar funciona de maneira pontual, falta ao filme a grandeza maior de unir tudo de forma orgânica, ou com o capricho que deveria ser cobrado de um futuro competidor de prêmios. E taí, talvez eu tenha entendido a mensagem cifrada do cara pela primeira vez: divirta-se. E, durante as quase três horas, eu me diverti. Apenas isso.

Comentários (137)

Nilmar Souza | segunda-feira, 10 de Novembro de 2014 - 01:36

143 comentários!!! Pra alguns aqui, Nolan já estrapolou o limite da genialidade agora.

Ted Rafael Araujo Nogueira | segunda-feira, 10 de Novembro de 2014 - 17:13

Ah que beleza sair o 3001. Meu sonho era que fosse feitos os 2 restantes e o último fosse do Terence Malick. Aí é sonhar demais.

Lucas Souza | segunda-feira, 10 de Novembro de 2014 - 23:28

Nolan ta fudendo tanto que o site criou até uma enquete...

Andre Luiz Tonon | sexta-feira, 20 de Fevereiro de 2015 - 15:59

Oi pessoal,

para quem se interessar, faço uma análise um pouco singular do filme, encaixando-o na nossa vivencia atual e sob o olhar de um apaixonado pro cinema e astronomia.

Se interessarem, o link é esse: http://luiztonon.blogspot.com.br/2014/12/minha-visao-sobre-interestelar.html

Bons filmes ;)

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